sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

A EDUCAÇÃO NACIONAL EM MONÓLOGO



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    Apresentamo-nos aqui: eu sou a Educação Nacional, este é o meu fiel Conselheiro Jericowesky e, na nossa companhia, vão estar também a Educação de Infância, o 1º Ciclo do Ensino Básico, o 2º Ciclo do Ensino Básico, o 3º Ciclo do Ensino Básico e o Ensino Secundário.

    Eu, visto de branco, porque, cada vez mais, nesta matéria, se trata de uma questão de falta de cor, ou de cores, se quiserem; enfermo mesmo de uma triste e depauperante anemia renitente. Senão reparem:

    Estive enfeudada à Igreja até 1772, altura em que o Marquês de Pombal tomou as minhas rédeas e transformou a educação em assunto do Estado e os professores em funcionários públicos, a troco de dez reis de mel coado. Esta situação durou até ao Estado Novo, tendo-nos concedido, embora, algum poder e autoridade.

    Ah!, durante a República, com o Movimento da Educação Nova, foi incrementado o associativismo docente que traria aos professores uma maior dignidade profissional e uma intervenção mais palpável junto do sistema educativo.

    A profissão, então, passou a ser mais valorizada, sendo mais prestigiado o estatuto sócio-profissional docente, de parceria com a criação de melhores condições de formação inicial e contínua e com o reconhecimento de uma maior autonomia na escolha dos conteúdos programáticos e dos métodos pedagógicos.

    Com o Estado Novo, a Educação e os professores ficaram, da noite para o dia, rigorosamente espartilhados, política, ideológica e profissionalmente.

    Reparem só no que aconteceu a 17 de Maio de 1927: o Decreto 13619 fez encolher a escolaridade obrigatória para quatro anos!

    E depois, a 22 de Março de 1930, através do Decreto 18140, a frequência escolar foi reduzida para três anos, ficando concluída no final do exame do 1º grau.

    Um ano depois são chamados ao ensino os regentes escolares, pessoas sem qualquer tipo de preparação didáctico-pedagógica.

    Em 1967 sopram os primeiros ventos da escola de massas com a criação do Ciclo Preparatório (seis anos de escolaridade).

    Em 1976 a nova Constituição refere a igualdade de oportunidades para todos no acesso à Educação (obrigatória e gratuita)... Ah, Ah, Ah!.

   Em 1986, a Lei de Bases do Sistema Educativo implementa nove anos de escolaridade obrigatória.
Em todos estes anos de democracia “sui generis” movimentam-se os sindicatos da Educação, sem que, na prática, tenham conseguido ou querido abalar com as retrógradas estruturas e vícios do sistema.

     Os professores melhoraram a olhos vistos a sua formação inicial e contínua, mas não existe “feed-back” institucional por parte da tutela.

    A Educação de Infância continua a ser uma autêntica farsa, pois não são respeitadas minimamente as reais necessidades e direitos das crianças em instalações condignas (por que razão não dormem as crianças nos jardins-escola?!!!), nem os Educadores nos seus direitos estatutários.

    Continua a dramática situação de falta de condições de trabalho, a ausência gritante de gabinetes para investigação nas escolas, as turmas com vários anos de escolaridade, os mega-agrupamentos, a falta de sensibilidade ou vontade política para os aspectos educacionais que se prendem com as potencialidades relacionais do indivíduo, visando a construção de uma teia vivencial saudável que urge urdir já hoje, na construção da sociedade de todos os dias.


    Eu sou, meus amigos, a Educação Nacional; ou antes, gostaria mesmo de ser... Talvez um dia destes... Quem sabe?!...

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