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Depois
das recentes medidas que precarizaram ainda mais certas classes
laborais (professores e enfermeiros, entre muitas outras, claro), deparamo-nos agora com o actual
governo, de maioria artificialmente consertada, a impôr a estas
mesmas classes uma unilateralidade obstinada sempre que com as mesmas
reúne.
Recuando ao tempo de Lurdes
Rodrigues, recordamos a ameaça, intenção ou o
que quer que tenha sido, de colocar os pais a avaliar os professores,
como se os cadáveres avaliassem os óbitos ou os
clínicos tivessem que responder pelos diagnósticos de
doenças incuráveis, crónicas ou renitentes; como
se os automobilistas avaliassem o Instituto das Estradas de Portugal;
como se os clientes que sustentam os chorudos lucros da banca,
tivessem uma palavra a dizer na avaliação da mesma;
como se o cidadão comum pudesse avaliar engenheiros e
arquitectos e empreiteiros, depois de atrasos de anos e derrapagens
de milhões de euros nas obras públicas, tudo por conta
do erário público; como se um crítico de cinema
pudesse fazer a avaliação de determinado filme, sem
nunca o ter apreciado, do princípio ao fim; como se um árbitro
de futebol pudesse ser o juiz de um desafio, de olhos vendados, ou
ausente do relvado; como se, como salta à vista até dos
mais incautos, distraídos e desinteressados, não fosse
urgente e primordial avaliar a classe discente na sua desamparada
queda no actual abismo de displicência, desleixo e má
criação que qualquer pessoa de boa-fé,
maturidade intelectual, bom-senso e diligente interesse por assuntos
desta natureza, naturalmente constata, desde que passe a dedicar um
pouco do seu tempo à análise de tão candente
problemática.
Como se... Como se... Como se... E
podíamos estar aqui a desfiar um infindável rosário
de exemplos deste género, para concluir a anacrónica
impertinência que a eventual implementação de uma
medida desse tipo, no fundo, acabaria por, em si mesma, configurar.
Ademais, temos percepcionado nas
palavras proferidas no âmbito de certos sectores ligados aos
“pais” (são raros, felizmente), uma certa hostilidade
difusa, dirigida aos docentes, que sempre confunde a verdade dos
factos e permite interpretações desviantes, da parte de
quem ouve e não sabe, em termos objectivos, aquilo que
efectivamente se passa. Por outro lado, conforme temos tantas vezes
alertado os leitores, é sempre fácil atirar pedras ao
telhado do vizinho, na presunção ingénua e
umbilical de que no nosso não existem telhas de vidro.
Um dos aspectos fundamentais de toda
esta problemática, ao qual temos feito também
referência por mais do que uma vez, tem que ver com a
indissociabilidade da relação ensino/aprendizagem,
cujos actores no terreno são, a saber os alunos e os docentes.
Nas décadas mais recentes os professores têm vindo a
“coleccionar” formação contínua, para além
da inicial, têm vindo a acumular competências aos vários
níveis necessários, têm vindo a somar paciência,
têm feito das tripas coração, têm comido o
pão que o diabo amassou, ou seja, em conclusão, têm
cabalmente desempenhado a sua “missão”, ensinando,
ensinando, ensinando. É esse o seu papel.
Já do lado dos alunos, tendo
em conta, primeiro que tudo, a já doentia permissividade dos
paizinhos, o esfumar dos valores, a decadência da sociedade, a
loucura do consumo (a pós-modernidade é
desconcertante), a generalizada lei do menor esforço, o
laxismo dos políticos e a inadequação das
políticas (como é o caso demolidor das turmas com
vários anos de escolaridade e múltiplas
disfuncionalidades) – em Setembro de 2006 os apoios especiais a
estas e outras turmas foram reduzidos em cerca de 80% (?!!) --, tudo
isto por razões nunca declaradas de economicismo selvagem, o
papel da aprendizagem não trilha a indispensável
interactividade, no âmbito da tal indissociabilidade
indispensável da relação ensino/aprendizagem,
furtando-se os meninos a colaborar com o docente ou, pior do que
isso, boicotando sistematicamente todas as iniciativas consertadas,
que as planificações elaboradas com religiosa dedicação
à causa da educação, acabam por redundar em
total fracasso escolar e profunda frustração pessoal e
profissional.
Enfim, não pode nem deve um
governo democrático, mesmo quando possui maioria absoluta
(consertada), fazer o que muito bem entende, numa linha de
unilateralidade insuportável, para lá de todos os
limites da legitimidade, do bom senso e do conhecimento real das
situações de facto, daquilo que é o “terreno”.
A Democracia implica a discussão participada dos problemas e a
resolução dos mesmos, sem atropelos à dignidade
pessoal, profissional e social dos cidadãos.