sábado, 10 de agosto de 2019

PAIS OU PROGENITORES ?!


Imagem do Google

Também nesta silly-season sou levado a escrever. Só lê quem quer. Podemos estar a falar de tudo e de nada; de alguém ou de ninguém, já que também nos assiste a prerrogativa da loucura diletante ou do exercício da retórica lúdica congruente com o nosso estado de espírito. Mas, por muito que a realidade seja insolúvel [(Lacan) 1901-1981] e Saussure (1857-1913) tenha evoluído – “o signo linguístico une não uma coisa a um nome, mas um conceito a uma imagem acústica” –, o nosso inconsciente (lugar do saber não sabido) continua a ser um incomensurável depósito de lixo tóxico do vivido subjectivado ou não.

Vem isto a propósito da não-elaboração psico-afectiva das crianças, em sede de triangulação familiar (Édipo) e das respectivas consequências asfixiantes. Pois! Quando não se verifica a correcta consideração do terceiro elemento, seja ele o pai ou a mãe, ou um dos filhos, por força do comportamento disruptivo do casal (?!), devido a conflitos intersubjectivos, geram-se moções pulsionais típicas do momento edipiano. Isto problematiza a definição de papéis (pessoais e sociais), estruturantes do sujeito, num enquadramento metapsicológico: identidade, afirmação, individuação, inserção e pertença.

A partir daqui está criado o impasse, a estagnação, a fixação neurótica. Este "chover no molhado" comportamental sintomatiza a própria metáfora parental, e manifesta-se como uma tentativa desesperada do filho(a) inventar uma possível deslocação (desejo) do lugar onde se encontra cativo(a) da economia psíquica dos pais, isto é, da quota parte de importância quantitativa – a qualitativa daria um outro texto – que tem, ou não, para os progenitores.

Estes, imaturos, servem-se do filho, pela incapacidade de debelar a sua obsessão histérica, por esta redundar na (in)consequente frustração das expectativas goradas, pela ausência da própria essência da idealização fantasiada, no âmbito de um delírio obstinado e recorrente. Onde está, afinal, o modelo parental sadio? Não está!, e esta incompetência, esta vacuidade absorvente e asfixiante transforma o sujeito em formação num mero objecto dos desejos ansiosos e sufocantes do adulto (infantilizado, imaturo, ansioso, inseguro, egoísta, infeliz) antes daquele conseguir ser ele próprio. Que surja, ao menos, uma heróica barreira capaz de mitigar males maiores. 

4 comentários:

  1. Lindo e forte texto e me faz cada vez mais pensar que há PAIS e pais... Uns covardes,fogem às responsabilidades; Outros que como o meu, me assumiu, mesmo dele não sendo biológica filha, outros nem se apresentam, outros simplesmente fazem de conta pais ser.

    Mas há os de VERDADE e esses merecem nossos aplausos e carinho nesse dia e sempre...Neles incluo o meu e o maridão que é um pai e avô maravilhoso! abraços, chica e parabéns aos papais!

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  2. Por acaso amanhã, domingo, é o Dia dos Pais no Brasil.
    Pais e pais; famílias e famílias. Quero dizer com isso que as famílias, o convívio entre pais e filhos necessariamente não é um bom convívio, uma larga amizade, afetos e rodeados de amor. Não, assim como podem os laços serem estreitos, assim como pode reinar o amor, lamentavelmente também pode se dar o contrário, os relacionamentos, a convivência pode se tornar completamente desestruturada e de ódio. Que triste.
    Vemos filhos matando pais; pais matando filhos, criancinhas recém-nascidas já abandonadas em lixões; filhos matando mães por causa de drogas. Há anos uma mãe 'atirou' em seu filho para evitar ser morta, o filho queria dinheiro para drogar-se. Mãe de classe média alta, matou para não morrer. Infelizmente é um convívio que pode ser muito conflitante quando o filho é apenas gerado. E isso causa todos os dissabores possíveis. Triste, muito!
    Mas também há filhos e pais com um relacionamento excelente. Há de tudo nesse mundo que não é nenhum paraíso. Assim são as criaturas, extremamente complicadas, outras, com seu lado saudável. E nesse é bom investir, vale a pena, como vale! A psicanálise tem grande e esclarecedor mérito, nesse quesito. E em muitos outros.
    Mas tudo, o princípio do amor e do ódio começa daí: pais e filhos.

    bjs, um ótimo domingo pra você!

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  3. Este assunto de "identidade, afirmação, individuação, inserção e pertença" é um assunto demasiado complexo para mim quando "Vemos filhos matando pais; pais matando filhos, criancinhas recém-nascidas já abandonadas em lixões; filhos matando mães por causa de drogas". Não consigo entender nem aceitar… Uma excelente reflexão, meu Amigo.
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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  4. Quando um ou mais membros da família se desequilibra, quase sempre toda ela fica desestruturada e associada a um mau comportamento de uma das partes ou da duas, dando origem a uma má educação e maus exemplos para os filhos com consequências gravíssimas quer para eles quer para sociedade.
    Na minha opinião, muito antes de levarem os filhos aos psicólogos deveriam, eles próprios, procurar ajuda.
    Uma excelente semana.
    Beijinho.

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