segunda-feira, 7 de abril de 2014

AUTO-ESTIMA, MOTIVAÇÃO E ATENÇÃO

Imagem do Google

Tenham em mente, caros leitores, a multiplicidade de motivações, nem sempre recomendáveis, a que estão sujeitas as crianças escolarizadas, nos nossos dias, partindo fundamentalmente da perniciosa televisão, da nefasta internet ou das redutoras consolas dos denominados jogos de vídeo.

Não é de espantar, portanto, que este terrível pacote - que reveste também potencialidades formativo/informativas, evidentemente -, com uma influência tão esmagadoramente poderosa, consiga desviar, ou melhor, alienar as crianças sem grande dificuldade, tornando-as pouco sociáveis, porque de jogos solitários se trata; dolorosamente inseguras, porque não canalizam nem dimensionam a sua afectividade no sentido de um relacionamento saudável de interacção vivencial com as outras crianças da sua idade; deveras tensas, porque perdem horas a fio especadas em frente às máquinas, numa gestão disruptiva de emoções, logo, descontrolada, pior estruturada, de cariz abstruso e desconchavado.

Ademais, sempre que as crianças não recriam devida e convenientemente as suas emoções; quando não condimentam as suas energias e respectiva aplicação de forma harmónica e socializante, porque se encontram cativas de enredos e esquemas mercantis, ainda que alegadamente lúdicos ou tidos como diversão de efeitos mais que duvidosos, geram-se comportamentos desviantes na sua maneira de ser, na sua natural capacidade de dirigir a atenção para as coisas que realmente interessam, como é o caso das matérias constantes do programa nacional escolar, quando este, na verdade, é propositado, útil e formativo. 

Um destes tipos de desvios prende-se com aquilo que os especialistas designam de "distúrbio hiperactivo de défice de atenção", hoje cada vez mais comum, em maior ou menor grau, nas crianças que todos os dias leccionamos.

Em jeito de fundamentação conceptual, e segundo Barkley (1990), "o distúrbio hiperactivo de défice de atenção é uma perturbação do desenvolvimento caracterizada por graus de desenvolvimento inapropriados de desatenção, sobreactividade e impulsividade, os quais se verificam, frequentemente, na primeira infância; têm uma natureza relativamente crónica; ligam-se a deficiências neurológicas, sensoriais, de linguagem, motoras, mentais ou emocionais severas. Estas dificuldades surgem tipicamente associadas a défices de comportamento orientado por regras e na manutenção de um padrão consistente de realização ao longo do tempo".

Este tipo de desvio, distúrbio ou perturbação, como lhe queiram chamar, como tem sido claro para quem lecciona, fere sempre de "morte" a motivação e, sendo esta a principal responsável pelo exercício do papel fundamental de acicate em todo o processo de aprendizagem das crianças, visto predispor afectivamente os meninos, através da curiosidade, do interesse participativo, do empenhamento, funciona, afinal, quando em alta, mas, pelo contrário, quando afectada, é susceptível de disfuncionalizar toda a ambiência lectiva, na sua vertente mais nobre e essencial - a do enquadramento ensino/aprendizagem.

Este problema, no entanto, não afecta, como adiantámos já, todos os alunos por igual, e, nesta conformidade, verificam-se vários graus de motivação diferenciada, de aluno para aluno. Entretanto, e aqui é que bate o ponto, se o docente e a escola usufruírem de condições de excelência e de turmas a rondar os quinze elementos, no sentido de optimizar o ambiente escolar e a qualidade de leccionação, as competências que se visam atribuir às crianças escolarizadas poderão melhorar, exercendo também toda uma dinâmica positiva de influência na auto-estima dos alunos e, consequentemente, na optimização da sua motivação e/ou vice-versa

2 comentários:

  1. Faz-me sempre pensar, amigo. Isto está difícil para as crianças a todos os níveis pelos aspectos que aponta e também porque lhes é dada uma noção de que tudo é fácil. Depois a vida prova~lhes o contrário...
    Abraço

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  2. Querido Zé
    Um texto que aponta um grave problema com que os docentes se confrontam cada vez mais amiúde.
    O uso indevido de todas estas formas de passatempo,limitam a imaginação,o gosto pela animação do trabalho em equipa e não favorecem o desenvolvimento de certas qualidades humanas.
    Estou a pensar no sentido do belo,na dimensão espiritual da vida!,como referia J.Delors,«Educação,um tesouro a descobrir»citado no relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre a educação para o século XXI.
    As crianças precisam de socialização e este tipo de jogos impede-a e de que maneira!
    Parabéns pelo texto que faz reflectir sobre este problema tão comum.
    Um beijinho
    Mana

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