domingo, 26 de abril de 2015

DESPERTAR



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Desperto
já perto da longínqua ilusão
vejo-me sôfrego da vida 
que o teu Sol aquece 
cinjo-te à minha mente
escaldante de angústia
tentando firmar os limites do eu
que espero voltar a ser

E neste caminhar febril 
que o verde do teu olhar atenua
procuro escalar-te a sedução
agarrar em teu ventre a vida
beber a seiva em tua fronte
perder-me no emaranhado revolto dos teus cabelos 
repousar enfim como fazem as árvores no Inverno

sexta-feira, 24 de abril de 2015

CABANA DE PALHA


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Cabana de palha
meu sopro de infância
refúgio de gralha
minha última instância

Cabana de palha
corpo de menino
por sobre a muralha
torcendo o destino

Fantasma de luz
que albergas valentes
à margem da cruz 
meus medos consentes

Castelo de Rei
covil de ladrão
poema que sei
na palma da mão

Ano de 1963

terça-feira, 21 de abril de 2015

NOTAS SOBRE O IMAGINÁRIO (SOCIAL)


Freud
Jung
Lacan
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Abordar o assunto em epígrafe implica, desde logo, a coragem de enveredar pela complexa senda do nosso psiquismo mais intrínseco e insuspeito e ser capaz de desafiar a terrível força dos nossos conteúdos inconscientes, impregnados dos fantasmas que se ocultam na nossa alma pessoal e colectiva.

O imaginário social, logo colectivo, não constitui um fenómeno rígido e imutável, já que evolui em função do tempo ao longo do qual se verificam as respectivas representações, inerentes às consciências dos diversos actores, enquanto reflexos das múltiplas interacções dos mesmos entre si e ainda no âmbito das várias instituições que formam o tecido social.

A identidade de determinada comunidade (sociedade) abarca a experiência subjectiva ou consciência alicerçada no pensamento, na linguagem (polissémica) e nos comportamentos dos seres sociais, e constrói-se a partir da representação que aquela elabora de si própria, evidentemente, assentando no imaginário tecido pelos vários códigos de conduta que pautam os papéis e as hierarquias sob a influência familiar, social, política, religiosa, histórico-filosófica e ideológica. Não esqueçamos também, no entanto, o legado de Carl Gustav Jung (1875 – 1961), quando este refere os “arquétipos” (mitos) do inconsciente colectivo, enquanto “manifestação de toda a existência humana desde os princípios mais remotos”, mas sempre reactivos e actuantes, acedendo ao psiquismo humano consciente, indirectamente, de forma simbólica.

            Quer a comunidade a que se alude, quer os grupos que a formam projectam-se através das representações mentais, do imaginário, desse universo simbólico e, assim, vão construindo identidades e papéis, necessidades e caminhos que possam dirigir-se à satisfação dos objectivos em presença.

Jacques Lacan (1900 - 1981) definiu o inconsciente como algo assente num quadro simbólico semelhante à linguagem; o inconsciente estrutura-se como uma linguagem, embora se encontre presente desde logo no quadro inicial da representação simbólica à qual chegamos através do imaginário que se tece pelas palavras; primeiro no seio da família, depois na escola... a caminho do social. A origem das representações simbólicas radica, em princípio, na época primitiva onde se encontrava sob uma identidade abstracta e linguística, tendo incorporado mutações ao longo dos séculos.

Importa ainda recordar Freud (1856 - 1939), quando o fundador da psicanálise decide esboçar novas ideias, já depois da publicação da obra “A Interpretação dos Sonhos”: agora, o simbolismo não se liga propriamente ao sonho, e este neurologista fala então no método de codificação e acrescenta tratar-se de conteúdos simbólicos mais ligados às representações inconscientes do povo, patentes no folclore, mitos e lendas. Por sua vez, Schubert (1814), perspectivava a tonalidade dos símbolos para lá da linguagem. Será que Schubert lhes atribuía uma ultra-significação com carácter semiológico? Provavelmente.

E voltamos a Lacan – profundo e, por isso mesmo, complexo –, para falar da linguagem e do valor universal do símbolo e do código comum que o mesmo em si encerra, dando sentido à realidade através da comunicação que a actividade mental equilibrada baliza; o signo reenvia para um referente comum, fixado pelo código, no acto da palavra, do diálogo e, em função de quem a escuta, opera-se uma dimensão simbólica, metafórica, que distorce a significação e gera a subjectividade. Decididamente, não é possível precisar o conceito de IMAGINÁRIO, com rigor absoluto e em termos definitivos.

domingo, 12 de abril de 2015

A PONTE AVEIRO - SÃO JACINTO

  
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  O homem, desde tempos imemoriais, na sua luta pela sobrevivência, procurou sempre os melhores lugares onde se instalar. E fê-lo sempre, de acordo com essa lógica inelutável, em zonas, não só pacíficas e seguras do ponto de vista da necessidade de acautelar a sua integridade física e a dos seus, mas também férteis se pensarmos na urgência de satisfação diária de água, de produtos de caça, de pesca e de recolecção de sementes, raízes e frutos. Por isso mesmo, os vales verdejantes junto ao leito dos grandes rios ou próximo da foz dos mesmos foram sempre privilegiados.

     Nos nossos dias, o homem dito civilizado parece só ser atraído, quando se trata de assentar raízes, no caso português, pelo menos, nas áreas do litoral mais literal, isto é, se não tiver antes emigrado... Hoje, o homem já não é caçador recolector e, portanto, depende de uma economia perfeitamente estruturada e sustentável que lhe possa assegurar o indispensável emprego e o respectivo salário: tudo isto tem degenerado, quer lá fora, quer intramuros, devido à ineficácia dos governos, ao avanço tecnológico e à desenfreada gula especulativa dos mercados, o que tem constituído a ruína da(s) sociedade(s) e a destruição da cultura, a caminho da anarquia e do caos. De resto, estes são, cá dentro, alguns dos efeitos dos ínvios caminhos da nossa quarentona democracia, a pedir, quem sabe, uma tão necessária quanto urgente quarentena. Boaventura de Sousa-Santos afirmou que, “se a sociedade politicamente organizada não accionar processos de re-democratização, pode estar em causa a sobrevivência da democracia”.

      Já agora, por falar no litoral mais literal e democracia, aludirei a uma área da minha predilecção – entre Ovar e São Jacinto –, para referir apenas o incrível potencial desta extensão geográfica de eleição, a exigir a implementação urgente de um programa inteligente, alicerçado nas boas práticas do turismo sustentável, capaz de se coadunar com as saudáveis motivações do poder mais responsável e genuíno de políticos de boa vontade. Importa, fundamentalmente, evitar comportamentos desviantes, derivas especulativas e o aniquilante adormecimento atávico. Afinal, como é que têm agido os responsáveis políticos, no sentido de viabilizar um turismo sustentável, isto é, de qualidade, sem comprometerem, portanto, os espaços de turistificação, para além do aproveitamento (iniciativa privada) dos escassos nichos de oferta turística existente nesta zona onde pontifica a Pousada da Torreira – Bico de Muranzel, a Estalagem Riabela, o Furadouro Boutique Hotel Beach & SPA e um ou outro restaurante de qualidade, sem esquecer a actividade artesanal da pesca xávega, os passeios de moliceiro e pouco mais? 

    No ano de 1954, aquando da construção do Porto de Aveiro, foram estendidos os 24 quilómetros da estrada Ovar-Torreira-São Jacinto. Volvidas que estão mais de seis décadas, a pergunta que se coloca ainda e sempre é a seguinte: para quando a construção da ponte entre São Jacinto e Aveiro? Depois dos biliões e biliões de euros evaporados com os “joguinhos” fraudulentos da banca, seria um escândalo que se argumentasse com a falta de verbas... Ainda que existisse vontade política, visão empreeendedora e o assunto viesse a integrar a agenda dos projectos com sentido.

                              Em 31 de Março de 2015.