O homem, desde
tempos imemoriais, na sua luta pela sobrevivência, procurou sempre os melhores
lugares onde se instalar. E fê-lo sempre, de acordo com essa lógica inelutável,
em zonas, não só pacíficas e seguras do ponto de vista da necessidade de
acautelar a sua integridade física e a dos seus, mas também férteis se
pensarmos na urgência de satisfação diária de água, de produtos de caça, de pesca
e de recolecção de sementes, raízes e frutos. Por isso mesmo, os vales
verdejantes junto ao leito dos grandes rios ou próximo da foz dos mesmos foram
sempre privilegiados.
Nos
nossos dias, o homem dito civilizado parece só ser atraído, quando se trata de
assentar raízes, no caso português, pelo menos, nas áreas do litoral mais
literal, isto é, se não tiver antes emigrado... Hoje, o homem já não é caçador
recolector e, portanto, depende de uma economia perfeitamente estruturada e
sustentável que lhe possa assegurar o indispensável emprego e o respectivo
salário: tudo isto tem degenerado, quer lá fora, quer intramuros, devido à
ineficácia dos governos, ao avanço tecnológico e à desenfreada gula
especulativa dos mercados, o que tem constituído a ruína da(s) sociedade(s) e a
destruição da cultura, a caminho da anarquia e do caos. De resto, estes são, cá
dentro, alguns dos efeitos dos ínvios caminhos da nossa quarentona democracia,
a pedir, quem sabe, uma tão necessária quanto urgente quarentena. Boaventura
de Sousa-Santos afirmou que, “se a sociedade politicamente organizada
não accionar processos de re-democratização, pode estar em causa a
sobrevivência da democracia”.
Já
agora, por falar no litoral mais literal e democracia, aludirei a uma área da
minha predilecção – entre Ovar e São Jacinto –, para referir apenas o incrível
potencial desta extensão geográfica de eleição, a exigir a implementação
urgente de um programa inteligente, alicerçado nas boas práticas do turismo sustentável, capaz de se coadunar com as
saudáveis motivações do poder mais responsável e genuíno de políticos de boa
vontade. Importa, fundamentalmente, evitar comportamentos desviantes, derivas
especulativas e o aniquilante adormecimento atávico. Afinal, como é que têm
agido os responsáveis políticos, no sentido de viabilizar um turismo
sustentável, isto é, de qualidade, sem comprometerem, portanto, os espaços de
turistificação, para além do aproveitamento (iniciativa privada) dos escassos
nichos de oferta turística existente nesta zona onde pontifica a Pousada da
Torreira – Bico de Muranzel, a Estalagem Riabela, o Furadouro Boutique Hotel Beach
& SPA e um ou outro restaurante de qualidade, sem esquecer a actividade
artesanal da pesca xávega, os passeios de moliceiro e pouco mais?
No ano de 1954, aquando da construção do Porto
de Aveiro, foram estendidos os 24 quilómetros da estrada Ovar-Torreira-São
Jacinto. Volvidas que estão mais de seis décadas, a pergunta que se coloca
ainda e sempre é a seguinte: para quando a construção da ponte entre São
Jacinto e Aveiro? Depois dos biliões e biliões de euros evaporados com os
“joguinhos” fraudulentos da banca, seria um escândalo que se argumentasse com a
falta de verbas... Ainda que existisse vontade política, visão empreeendedora e
o assunto viesse a integrar a agenda dos projectos com sentido.
Em 31 de Março de 2015.
Pois é, amigo, essa ponte só será construída quando tivermos algum governo que se preocupe com o país real e não com o bolso dos poderosos...
ResponderEliminarGostei de o ler.
Um beijo.