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Abordar o
assunto em epígrafe implica, desde logo, a coragem de enveredar pela complexa
senda do nosso psiquismo mais intrínseco e insuspeito e ser capaz de desafiar a
terrível força dos nossos conteúdos inconscientes, impregnados dos fantasmas
que se ocultam na nossa alma pessoal e colectiva.
O imaginário
social, logo colectivo, não constitui um fenómeno rígido e imutável, já que
evolui em função do tempo ao longo do qual se verificam as respectivas
representações, inerentes às consciências dos diversos actores, enquanto
reflexos das múltiplas interacções dos mesmos entre si e ainda no âmbito das
várias instituições que formam o tecido social.
A identidade
de determinada comunidade (sociedade) abarca a experiência subjectiva ou
consciência alicerçada no pensamento, na linguagem (polissémica) e nos
comportamentos dos seres sociais, e constrói-se a partir da representação que
aquela elabora de si própria, evidentemente, assentando no imaginário tecido
pelos vários códigos de conduta que pautam os papéis e as hierarquias sob a
influência familiar, social, política, religiosa, histórico-filosófica e
ideológica. Não esqueçamos também, no entanto, o legado de Carl Gustav Jung
(1875 – 1961), quando este refere os “arquétipos” (mitos) do
inconsciente colectivo, enquanto “manifestação de toda a existência humana
desde os princípios mais remotos”, mas sempre reactivos e actuantes,
acedendo ao psiquismo humano consciente, indirectamente, de forma simbólica.
Quer a comunidade a que se alude,
quer os grupos que a formam projectam-se através das representações mentais, do
imaginário, desse universo simbólico e, assim, vão construindo identidades e
papéis, necessidades e caminhos que possam dirigir-se à satisfação dos
objectivos em presença.
Jacques Lacan
(1900 - 1981) definiu o inconsciente como algo
assente num quadro simbólico semelhante à linguagem; o inconsciente
estrutura-se como uma linguagem, embora se encontre presente desde logo no
quadro inicial da representação simbólica à qual chegamos através do imaginário
que se tece pelas palavras; primeiro no seio da família, depois na escola... a
caminho do social. A origem das representações simbólicas radica, em princípio,
na época primitiva onde se encontrava sob uma identidade abstracta e
linguística, tendo incorporado mutações ao longo dos séculos.
Importa ainda recordar Freud (1856 - 1939), quando o
fundador da psicanálise decide esboçar novas ideias, já depois da publicação da
obra “A Interpretação dos Sonhos”: agora, o simbolismo não se
liga propriamente ao sonho, e este neurologista fala então no método de
codificação e acrescenta tratar-se de conteúdos simbólicos mais ligados às
representações inconscientes do povo, patentes no folclore, mitos e lendas. Por
sua vez, Schubert (1814), perspectivava a tonalidade dos símbolos para lá da
linguagem. Será que Schubert lhes atribuía uma ultra-significação com carácter
semiológico? Provavelmente.
E voltamos a Lacan – profundo e, por isso mesmo, complexo
–, para falar da linguagem e do valor universal do símbolo e do código comum
que o mesmo em si encerra, dando sentido à realidade através da comunicação que
a actividade mental equilibrada baliza; o signo reenvia para um referente
comum, fixado pelo código, no acto da palavra, do diálogo e, em função de quem
a escuta, opera-se uma dimensão simbólica, metafórica, que distorce a
significação e gera a subjectividade. Decididamente, não é possível precisar o
conceito de IMAGINÁRIO, com rigor absoluto e em termos
definitivos.
Aqui está, amigo uma postagem que nos obriga a reflectir, com a ajuda dos filósofos, sobre a sociedade enquanto imaginário social e colectivo. Voltarei aqui...
ResponderEliminarBeijo.