domingo, 18 de outubro de 2015

VIRTUDE E VIRTUALIDADE








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          Neste conturbado início de século – decorre o ano de dois mil e quinze –, parece difícil definir, ou tão só pretender clarificar os caminhos que se apresentam à Humanidade. Estes, a continuar a existir, afiguram-se cobertos pelo manto indefectível e inextricável da impotência das maiorias, face à prepotência despótica e discricionária das minorias estratégica, velada e sub-repticiamente posicionadas. Desta maneira, tornam-se aqueles (os caminhos) ínvios e obnibulados, e vão gerando em torno do objecto dos nossos desejos mais legítimos – a felicidade primordial –, o atavismo redutor que reifica as criaturas.

       A vida sem valores sublimes perde toda a significação, a totalidade do seu sentido, a inefável pulsão do sonho, e vai cavando à sua volta o vazio identitário que impede a afirmação da sensibilidade afectiva amadurecida, coarctando a transcendência de um simbolismo libertador. Para o ser humano, vergado que está sob o peso sombrio de uma existência angustiante e castigadora, que o progresso potencia e agrava, mais importante do que colocar questões é agir com determinação (viver) de forma a satisfazer as exigências mais intrísecas da interioridade do indivíduo: nobreza de carácter, altruísmo e totalidade, como, de resto, aconteceu na helenidade.

       E foi precisamente à pureza grega que o Renascimento foi buscar inspiração: como escreveu Jean Delumeau (1923-…), “o Renascimento definiu-se a si próprio como movimento em direcção ao passado”, porque “quis voltar às fontes do pensamento e da beleza”, no livro “A Civilização do Renascimento” (1967). Entre 1320 e 1680, a Europa viu-se a braços com pestes, fomes, guerras, e permanentes confrontações político-ideológicas e religiosas que propiciaram o caos e a bancarrota. Bastou, no entanto, a mudança de atitude dos europeus, durante esse período, para que o velho continente se redimisse: a aventura dos Descobrimentos aliada à estética do Renascimento possibilitaram a mudança a caminho do futuro. Para isso, sonhar foi fundamental como defendeu o filósofo Ernst Bloch (1885-1977).

     Mas, ao contrário do que aconteceu nesse tempo, não é mais possível hoje, alegadamente em nome de Deus, encetar a mudança, a partir da exploração, do saque e do aniquilamento do outro lado do planeta; actualmente constitui obrigação moral (Kant 1724-1804) a prática universal efectiva de um movimento que dê sentido ao mundo, ao conhecimento, à globalização, à aceitação do outro, à coexistência pacífica da diversidade cultural e étnica, em direcção à virtude e à felicidade.

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