domingo, 29 de maio de 2016

ESTADO NOVO E RESISTÊNCIA - Capítulo I - O Fim da Primeira República




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      Nota Prévia: No dia 28 de Maio de 1926, ocorreu, em Portugal, um dos factos mais marcantes e definidores do rumo pelo qual enveredaria, depois dessa data, a História do nosso país: o golpe militar que pôs fim à Primeira Repúbilca (1910-1926). Noventa anos volvidos, recordemos, através de oito capítulos cuja publicação se estenderá, respectivamente, pelos próximos oito Domingos, como surgiu e se foi consolidado o regime conhecido pela designação de “Estado Novo”.

Capítulo I

            Apesar de ter ficado para a História como tendo sido um regime corporativo e ultra conservador, não se pense que a governação do Dr. António de Oliveira Salazar teve a vida facilitada. O Estado Novo, como então lhe chamou o seu principal mentor e protagonista, teve, desde a sua génese, a oposição férrea, persistente e obstinada, de múltiplas correntes de opinião, de um conjunto alargado de forças políticas, sociais, sindicais e até partidárias, que, umas vezes na clandestinidade, outras vezes às claras, de forma mais ou menos velada ou através de processos, movimentos, actos e operações perfeitamente estruturados e consertados, não deixaram nunca os seus créditos por mãos alheias. Esta oposição viria a ser designada por Resistência. Vamos então aos factos (a partir da perspectiva histórica da própria resistência) e às datas:

            Logo após o movimento de 28 de Maio de 1926, no qual o General Gomes da Costa, partindo de Braga, com o concurso de várias guarnições militares, afirmava proceder à libertação de Portugal, visando dotá-lo de um governo estável, não sujeito a interesses partidários, o executivo democrático, vigente até essa data, é vencido e substituído, não obstante a revolta dos marinheiros que contestaram, desde logo, o facto do poder ter sido tomado de assalto pelos militares.

            Na sequência do aludido movimento de 28 de Maio, Cabeçadas ainda consegue disputar o poder com Gomes da Costa, mas perde. Chega ao fim, desta maneira, a República democrática (1.ª República - iniciada em 5 de Outubro de 1910, depois de banida a Monarquia), após 16 anos de inconsistência, irregularidade e persistente caos, que deixariam Portugal numa situação desprestigiante e lastimável, face aos restantes países europeus.

            Quando acontece a renúncia do Presidente da República Bernardino Machado, é dissolvido o Parlamento. A imprensa é censurada. Os concelhos municipais, até aí eleitos pelo povo, são substituídos por comissões administrativas. Em Julho, o general Carmona fica à frente do Governo depois de um golpe de Estado. Portugal, nesta altura, encontra-se já sob uma espécie de ditadura que a vizinha Espanha, dominada por Primo de Rivera, imediatamente reconhece e apoia.

            A Resistência irá então iniciar a sua acção: em Chaves, a 11 de Setembro de 1926, o poder totalitário, que domina o país, começa a ser posto em causa. Nesta conformidade, uma pequena força de Infantaria subleva-se, protestando contra o arbítrio e a prepotência dos governantes. Como a liberdade continuasse a ser negada, todas as bolsas de resistência passam a ser alvo de perseguições, prisões e outras formas de coacção. Os partidos republicanos são também afastados.

            Os revoltosos manifestam-se na cidade do Porto, na capital e no Algarve. Unidades do Exército e da Marinha sublevam-se, secundadas por milhares de populares armados. É com alguma dificuldade que o governo lhes faz frente e vence o ímpeto resistente.

            Entretanto, decorre o ano de 1927. A luta prolonga-se entre 3 e 7 de Fevereiro. Segundo rezam as "crónicas" de autores ligados à Resistência, são às centenas os mortos e feridos. Algumas correntes da oposição, das quais fazem parte os nomes sonantes dos seus principais dirigentes, tais como  Afonso Costa, Álvaro de Castro, António Sérgio e Jaime Cortesão, agrupam-se em Paris e criam a "Liga de Defesa da República". No entanto, não tendo conseguido a unidade esperada, a sua acção acaba por se reduzir a simples documentos escritos e pouco mais.

          As associações operárias passam a ser objecto de apertado controlo por parte da facção governamental; depois de dissolvidas são obrigadas a apresentar novos projectos de estatuto. A polícia revista e encerra a sede da C. G. T., extinguindo a organização, que se vê forçada a passar à clandestinidade, juntamente com o seu órgão de imprensa "A Batalha". (Continua)

1 comentário:

  1. Uma lição de História. Sabemos que é quando tudo corre mal num país que aparece um "salvador da pátria"... E deu no que deu...
    Um abraço, amigo.

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