terça-feira, 31 de janeiro de 2017

A NOÇÃO DE INCONSCIENTE

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   Sempre que nos deparamos com a palavra inconsciente, esta, invariavelmente, remete-nos para  Freud. Convém, no entanto, recordar a  filosofia natural de Plotino (204-270 d. C.), e a noção de inconsciente colectivo, no âmbito da sua teoria universal da alma - o psíquico, o homem e o cosmos são uma unidade apenas, afirmava o filósofo. Um milénio e meio depois, Schelling (1755-1854) defende a teoria da identidade, repescando ambas as noções de Plotino. Karl Gustav Carus (1789-1864) elege o inconsciente como o âmago da sua psicologia médica, e Hartmann (1842-1906) trata o tema do inconsciente na sua obra mais emblemática - "Filosofia do Inconsciente". Tendo em atenção o referido, Freud, enquanto neurologista, faz a sua parte, ampliando a abrangência da temática, tendo sido pioneiro na investigação aturada da psicologia inconsciente do psiquismo... o que não foi pouco, de resto.

      Freud, em um dos seus inúmeros escritos - "A Interpretação dos Sonhos", faz saber: « Há dois tipos de inconsciente que ainda não tinham sido distinguidos pelo psicólogo. Ambos são inconscientes no sentido psicológico mas, sob o nosso ponto de vista, o primeiro - a que chamamos inconsciente - é, além disso, incapaz de consciência, enquanto que o segundo - a que chamamos pré-consciente - por causa das suas excitações, de acordo com a continuidade de certas regras, é capaz de atingir a consciência, talvez não antes de ter passado de novo pela censura, mas, não obstante, indiferente ao sistema inconsciente».

       E Freud prossegue, falando da energia dos impulsos (líbido), quer dizer, a «catexe» que ocupa o conteúdo psíquico, cujo aumento do desejo desencadeia a repressão e a proximidade do inconsciente; quando esta energia se torna mais forte ainda e incide sobre certas pessoas  ou objectos - «catexe do objecto», pode determinar identificação com aqueles. É curioso notar que Adler tem optado por designar o mesmíssimo fenómeno por fixação, e Jung lhe tenha dado o nome de obsessão. Na prática, trata-se de mecanismos esquizóides, cuja exacerbação redunda em anomalias psíquicas, estados obsessivos, caprichos e ideias fixas que degeneram em psicoses. Infere-se daqui que a força primária do desejo ignora o tempo e a realidade exterior, porque quanto mais potenciada é, mais facilmente é  captada pelo inconsciente.

    Mas, espreitemos a psicologia analítica e separemos o inconsciente pessoal do inconsciente colectivo. Este é pré-humano e anterior ao consciente; reúne, posteriormente, o «espírito de finura (Pascal [1623-1662])* de todo o desenvolvimento humano. Já o inconsciente pessoal diz respeito a cada um dos indivíduos, e Jung afirma que, não sendo conscientes os fenómenos verificados àquele nível, não se ligam claramente ao ego; mais:  acrescenta ainda a ignorância do ego no caso da amnésia histérica, cujos conteúdos (imagens psíquicas do inconsciente) são passíveis de voltar à luz através do processo hipnótico, fazendo despoletar a actividade projectiva.
*Espírito de finura (Pascal) - aptidão intuitiva do ser humano para a apreensão imediata das coisas.    

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