sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

O FRÁGIL TESOURO DA MENTE

                            



         Quando julgamos que nada mais nos surpreenderia, eis que somos invadidos – via rodapé televisivo (15/12/2016), leia-se –, por notícias preocupantes, bizarras, com origem na actual governação (neste caso particular, o executivo vigente e o Ministério da Educação) a traduzir, para já, a intenção de implementar, no âmbito dos 5.º e 6.º anos de escolaridade, a discussão do aborto. A ser verdade, tudo isto denota uma absurda ingerência na esfera parental, e  uma absoluta incompetência, para além de configurar uma confrangedora ignorância relativamente aos estádios psicológicos do desenvolvimento infantil – estas crianças encontram-se numa fase particularmente sensível, frágil, melindrosa, susceptível, não possuindo ainda o seu psiquismo (mental e orgânico) a maturidade e defesas necessárias, de forma a aceitar, perceber, interiorizar e digerir, serenamente, tão complexos e traumatizantes assuntos. 

          
      Não podem, nem devem os senhores do poder, cronologicamente adultos, mas  alegada e gnosiologicamente impreparados, raciocinar sobre questões que irão ser discutidas por crianças de tenra idade (entre os 9 anos e os 12), desconhecendo a forma de funcionamento dos cérebros infantis. A teoria do homúnculo já lá vai! O aborto só aos adultos diz respeito. Mas vamos a alguns conceitos estruturantes da matéria em questão, depois de, neste blogue, termos escrito já sobre “O Sexo Escolarizado”, “O Nexo do Sexo”, “Sexo e Sexualidade – Notas Conexas”.

            
              A educação da criança, desde o berço, prende-se com a necessidade de educar a rigidez e fixação dos seus instintos, dos impulsos primários, no sentido da socialização, da convivência integrada e pacífica de homens e mulheres, no âmbito do social harmónico e civilizado. De certa maneira, na linha de Klein e Piaget, também Henri Wallon nos fala dos impulsos iniciais, logo temperados de emotividade (estado emotivo) pela acção materna, ao qual se segue o estado sensório-motor, a preceder o pensamento verbal e a abertura ao exterior gradativamente alargado. Tudo a seu tempo, sendo imperioso que a educação (formação e informação) se desenrole de acordo com a necessidade gradual de conhecimento da criança. Nunca colocar o carro à frente dos bois!


            É fundamental que a criança possa, paulatinamente, ao seu ritmo, mormente no que respeita à sexualidade, ir integrando afectivamente a informação e formação, de forma a que esta seja validada sem a prevalência de traumas, isto é, em harmonia dialéctica entre os objectos interiores inconscientes e os exteriores, principalmente em contexto situacional da triangulação edipiana e da escolha objectal maturada. Quando nos escritos atrás referidos, aludimos a uma eventual formação escolar transversal a todas as disciplinas, quisemos significar, sublinhar, relevar a importância e o alcance desta matéria, a vários níveis: higiene mental e genital; psicológica e sociológica; biológica, anatómica e fisiológica. Não inconsequentemente eleitoralista, nem desligada de um fio condutor equilibrado, sensato e adequado ao nível etário/mental (nem sempre se equivalem) dos alunos.


            Na prática, e no que a esta área do conhecimento diz respeito, deve pretender-se estabelecer, conforme as idades, um constructo paradigmático, devidamente enquadrado conceptualmente a partir da factualidade observada, que aponte para uma síntese, envolvendo a finalidade das várias vertentes da evolução sexual e afectiva da criança e do jovem, sem extrapolações desajustadas, para que, no estado adulto, as coisas possam funcionar de forma sadia e gratificante. Recorde-se que, só há pouco mais de meio século foi descoberto que o papel regulador da vida afectiva se prendia com a fisiologia dos centros diencéfalos (tálamo e hipotálamo).




            Desta maneira, torna-se-á expectável poder falar de realização existencial plena, sem traumas nem complexos, aliando a natural convergência da finalidade biológica (acto sexual responsável, provido de emoção genital devidamente integrada socialmente); da psicológica (carreando a errância do desejo [imaginário simbólico inconsciente] para uma escolha objectal [real] mais firme, duradoura ou até exclusiva); da motricidade, a um tempo cenestésica e cinética (possibilitadora do acto propriamente dito, quando, na dinâmica da envolvência, o desejo do indivíduo é dirigido ao desejo do outro e se verifica, sem angústia nem culpabilidade, a natural e tácita convergência dos afectos, na fusão dos corpos e das almas).

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