segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

DO NATAL AO CARNAVAL

      
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     Antes do Natal tudo é diferente, para melhor, nas atitudes, nos comportamentos, nas relações que as pessoas estabelecem umas com as outras, quanto mais não seja, no que toca às interacções que se geram, por mero interesse, neste nosso universo globalizado de consumismo desenfreado. Mas, enfim, não vamos já escrever sobre as grandes verdades que, no fundo, acabam por comprometer toda a indecifrável magia desta tão inebriante quadra natalícia.

       O Natal é, ou deveria ser, tempo de paz, de concórdia, de afectos saudáveis e profícuos, de entrega, de partilha e de comunhão. Começámos por dizer que esta é uma época diferente, tendo em conta as suas mui próprias características, que as pessoas apreendem e interiorizam desde as mais tenras idades, e das quais lhes ficam as memórias nostálgicas da infância, em casa dos avós, de uma tia ou dos pais, lá na longínqua aldeia coberta de neve ou tão só de frio, de muito frio ou chuva, que o aconchego da lareira, acesa naquela noite, atenua, para além da mesa posta, com todo o amor e desvelo, pela mãe que se desdobra em múltiplas acções e energias, para que tudo fique conforme o agrado dos entes queridos. São dois fogos a lavrar num só sentido e numa mesma direcção – o da família solidamente unida, não só pelos laços de consanguinidade, mas também pelo elo indestrutível do amor em Cristo.

      O Natal é, ou deveria ser, o fim de todas as guerras e políticas e propagandas eleitorais, se nos lembrarmos o que cada uma destas palavras encerra em termos de significado, cujo conceito (mal esboçado) se aproxima de forma sempre desviante, imprópria, imprecisa, incapaz, face às atrocidades e aberrações das primeiras; no que diz respeito às hipocrisias, interesses, engodos e inverdades das segundas e, aos embustes, mentiras, falácias e fingimentos das terceiras. Neste Natal não cessaram nenhum destes “passatempos” doentios aos quais se entregam as minorias privilegiadas que colocam na sua directa dependência todas as maiorias, em todo o mundo dito civilizado ou não.

      E depois do Natal, como irá ser a vida no planeta? Volta tudo ao mesmo, como aliás sempre tem acontecido? Voltaremos a acordar sobressaltados com mais explosões e carnificina no Médio Oriente? Mais crimes ecológicos e assaltos a multibancos? Mais fome, especulação económica, desemprego, trabalho-esmolar e corrupção? Mais violência doméstica e assassinatos no nosso rectângulo? Mais impostos encapotados e reformas minguantes? Mais arbítrios, inconsequências e propaganda de um governo, na sua essência, insuportável como os outros?


     “Vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar”, como escreveu Sophia de Mello. No entanto, toda a gente já só pensa e fala do Carnaval. Numa sociedade cada vez mais dessacralizada, dessimbolizada, desprovida de ritos apaziguadores saudáveis, tornam-se mais fortes os automatismos virtuais, o seguidismo mimético, o ciclo brutal do consumismo alienante calendarizado... E é por isso mesmo que o Carnaval volta a ser Rei.

1 comentário:

  1. O mundo está mesmo desconsertado, meu Amigo...
    O seu texto, excelente, é um motivo enorme de reflexão. Gosto sempre de o ler.
    Uma boa semana.
    Beijos.

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