terça-feira, 17 de abril de 2018

SABER LER O ENTRETENIMENTO




Imagem do Google



          Abordámos num dos escritos anteriores (Os Curricula Discrepantes), a ideia de que tudo o que se vivencia e interioriza ao longo da vida é curriculum – para o bem ou para o mal, disso não tenham dúvidas. É que, quer num caso quer no outro, e dependendo das circunstâncias particulares de cada um dos aspectos, tudo deve ser analisado, ponderado, reflectido e relativizado, para que as posteriores conclusões possam ser sensatas e avisadas. Não nos digam agora, como aconteceu com uma pessoa que faz o favor de ser das nossas relações, que aquele grupo de jovens que concordou em integrar a artificialíssima experiência forçada e forjada, de permanecer encerrado, monitorizado e titerizado, em nome dos interesses de uma dada estação televisiva, constitui uma teia de relações sociais de indiscutíveis e proveitosos resultados.

            Proveitosos, respondemos nós, caso seja para nunca mais se repetir a graça; para retirar daí as devidas ilações. E acresentámos: quanto à teia de relações ser denominada de social, temos alguma dificuldade em a classificar como tal, devido ao seu carácter  micro-cósmico, de cerrada circunscrição manifestamente insólita, subterrânea, forjada, manipulada, instrumentalizada, titerizada e mórbida, porque provoca o drástico, sistemático e penoso abaixamento do nível mental dos presentes (Pierre Janet – 1859-1947), onde se opera a diminuição da consciência vital e o consequente enfraquecimento do Ego individual e grupal, por força da irreprimível invasão desequilibradora do inconsciente mais primitivo e anti-social. Constatem!

            Mas, como é evidente, encontramo-nos, no âmbito desta problemática, no centro do furacão que acicata a luta das audiências televisivas; no seio de uma concorrência feroz que não dá espaço aos cultos de liberdade, criatividade e felicidade do ser humano; no âmago da mais descarada e despudorada sociedade do espectáculo, cada vez mais sofisticada, subreptícia, cínica e aviltante, já que é capaz de arrastar os menos avisados, frágeis, ignorantes, ingénuos e narcisistas, na sua avassaladora onda de interesses inconfessáveis. Logo, do outro lado desse tal micro-cosmos de regressiva e descendente espiral, de decepcionante apagamento, encontra-se o público enquanto interlocutor virtual da mistificação do real.

            Os conteúdos comunicacionais carreados pelas televisões dividem-se em                            entretenimento e informação, e sucedem-se numa lógica mediática non-stop. No entanto, até que ponto não ficará comprometida a seriedade dos conteúdos informativos de determinada antena, devido à ligeireza disforme – sejamos brandos – que envolve o entretenimento? É só uma questão que se coloca!

            Refira-se ainda, em conclusão, que, tal como Émile Benveniste, estamos cientes de que os media em geral, a a televisão em particular, ao assumirem o papel de emissores, pretendem, desde logo, que os seus enunciados possam sempre influenciar os receptores; também aqueles, mesmo que procurem objectividade, não conseguem nunca fugir à sua óptica subjectivada a partir da sua idiossincrasia caracterial, como nos ensina Michel Foucault; por último – e aqui somos alertados por Roman Jakobson –, as audiências sentirão, conforme os casos, um vasto leque de efeitos diversificados, produzidos pelos conteúdos observados (Santos 2013, p. 15).


3 comentários:

  1. he disfrutado enormemente tus letras tu estilo único de escribir
    beso

    ResponderEliminar
  2. Concordo consigo, meu Amigo Encontramo-nos "no âmago da mais descarada e despudorada sociedade do espectáculo, cada vez mais sofisticada, subreptícia, cínica e aviltante, já que é capaz de arrastar os menos avisados, frágeis, ignorantes, ingénuos e narcisistas, na sua avassaladora onda de interesses inconfessáveis...
    Já quase não vejo noticiários...
    Uma boa semana.
    Um beijo.

    ResponderEliminar
  3. Perfeito raio X Humberto e você pode imaginar, como esta coisa se processa num país como o Brasil. Manipulam e deformam informações ao bel prazer do publico menos ativo para suas sanhas.
    Gostei muito do seu texto e ele cabe redondinho em nossa realidade, principalmente na politica na deformação de opinião.
    Uma boa semana amigo e tudo de bom.
    Abraço

    ResponderEliminar