quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

VALORES EM QUEDA LIVRE



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     Temos, nos últimos tempos, pensado muito nesta coisa de valores, de princípios, de normas, de educação e, curiosamente, quanto mais atenção damos ao assunto, e a tudo o mais que com ele se relaciona, tanto mais decepcionados ficamos com o comportamento das pessoas e das instituições, sejam elas quais forem, isto é, tanto faz que as mesmas se liguem ao sector público como ao privado, quer tenham que ver com estruturas de base como com as de topo, enfim, nada as abona em nada.

    Alguns exemplos apenas, para que esta nossa introdução possa ter algum fundamento, alguma razão de ser, um qualquer resquício de plausibilidade, não vão os leitores começar a pensar que estamos a falar por falar... Pois bem! Vejam só se temos ou não razão!

    Sempre que recebemos alguma convocatória para uma reunião de trabalho; sempre comparecemos a um seminário, forum ou congresso; sempre que nos deslocámos aqui ou acolá depois de previamente termos combinado com outra pessoa um qualquer encontro, jantar, ou cinema, etc., fazemos gala de cumprir escrupulosamente a(s) hora(s) decididas, aprazadas, estipuladas. Pois não é que esperámos e desesperámos, sem que se verifique, quanto mais não seja, um só desvio da regra geral, para que a norma do desprezo pelo cumprimento dos horários, pelo respeito que é devido pela palavra dada, viesse, com toda a redundância, confirmar o desvio do desregramento, do desconchavo em que vai, nos nossos dias, navegando, à deriva, esta sociedade tão estapafurdiamente mal urdida?

    No meio de tudo isto, no entanto, acaba por ter a sua graça a cara com que somos olhados pelos outros, precisamente aqueles que começam a chegar à sala das reuniões, dos congressos, dos encontros, por vezes, meia hora depois, ou mais, do horário em que aqueles deveriam ter tido o seu início. “ Dormiste cá, foi?”, costumámos ouvir da boca de quem, obviamente, já nos conhece e se dá ao luxo de, ainda por cima, debochar com a situação. Na realidade, e agora falando apenas das reuniões que ao longo destas três décadas de trabalho temos integrado (existem excepções, garantimos), mal compreendemos, portanto, entre muitas outras razões ou motivos, por que diabo são estes encontros de trabalho (?) marcados, por exemplo, nos períodos de interrupção lectiva, para as nove horas da manhã, se as pessoas começam apenas a chegar já depois das nove e trinta terem sido ultrapassadas nos respectivos relógios? Por que é que não se marcam as reuniões para as dez horas ou para as dez e trinta minutos? Ah, não, caros leitores, não é que nos interesse ficar mais tempo na cama, não senhor – levantámo-nos sempre por volta das sete horas da manhã, independentemente do dia assinalado pelo calendário – porque, desta maneira (pensamos nós), haveria tempo, quiçá, para que a torrente desenfreada da conversa gratuita pudesse ser posta em dia, entre as nove e as horas aventadas para o início das referidas reuniões.


    Vistas bem as coisas, e tendo em conta os princípios democráticos que apontam para a vitória das maiorias, natural, lógico e intuitivo será pensar que aqui, neste particular, das duas uma: ou os valores estão efectivamente em queda livre, sem qualquer tipo de cotação no mercado dos capitais de eleição cívica e elevação moral, ou então, dado que a esmagadora maioria das pessoas pouco ou nada cumpre, mas, porque de maiorias se trata, têm toda a legitimidade para agirem e continuarem a proceder como muito bem lhes apetece, porque o(s) outro(s) estão em minoria, sem, portanto, nenhum tipo de representatividade numérica. E esta agora?

1 comentário:

  1. Meu Amigo, é muito pertinente este seu texto. Na minha opinião os valores estão mesmo em queda livre. E pior, já há pouca gente que se interesse por isso… Obrigada pela reflexão.
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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