quinta-feira, 5 de setembro de 2019

ERRAR É HUMANO


   Acabámos de escutar, numa breve entrevista televisiva, um especialista em saúde, quiçá doutorado, afirmar, “(...) oxalá póssamos esperar (...)”. Pois! por esta não esperávamos nós! Dever-se-á tal erro, por hipótese, a um qualquer resíduo de ignorância larvar, arreigadamente provinciano, ou, como diz Freud, a uma “acção errónea” – o que vai dar ao mesmo –, enquanto falha oral, neste caso, devido à acção do inconsciente sobre o consciente?! Já respondemos!...

    Neste caso, sim, já que as falhas também ocorrem, pelo mesmo motivo, na altura da colocação dos objectos, da escrita, da leitura e da memória; o conceito de acção errónea inclui também as acções sintomáticas e as fortuitas, e, sendo embora involuntárias as primeiras e inesperadas as segundas, ambas se ligam numa dependência recíproca aos impulsos inconscientes e a mecanismos de defesa e compensação.

    Segundo um aturado estudo de Freud (1904), publicado sob o título Psicopatologia da Vida Quotidiana, estes fenómenos (acções erróneas) ocorrem no dia-a-dia e ligam-se à sintomatologia dos doentes neuróticos, podendo ser constatados através da Interpretação da linguagem dos Sonhos. Assim, o sujeito é barrado pelo seu próprio mecanismo de defesa, quedando-se pela falha de expressão; a correcção exterior deve induzir a normal autocorrecção sem perturbações nem dramas; por norma, fingimos ser mera distracção ou obra do acaso.


   E Freud continua: a origem dos erros e falhas verificados no quotidiano é a mesma de tudo quanto de absurdo e abstruso ocorre nos sonhos, embora nestes tudo seja menos claro e inteligível; enquanto acordados, podemos e devemos ser testemunhas das nossas próprias falhas e incorrecções, para que as possamos emendar. Em conclusão, Freud afirma que a fronteira entre normalidade e anormalidade é ténue e variável e que neuróticos somos todos.

NOTA 1: Melanie Klein (1882–1960) afirmaria depois que a oscilação dinâmica entre as posições esquizo-paranóide e depressiva e vice-versa é saudável e necessária.
Nota 2: Imagem do Google




Sem comentários:

Enviar um comentário