domingo, 8 de setembro de 2019

TEMPOS CONTURBADOS


    Temos estado sujeitos a um logro magistral, no seio do qual vamos todos vivendo (?!), há já demasiado tempo, num mundo comandado pela ambição demolidora do bicho-homem, cuja cobiça e soberba, corrosivas, tendem a perpetuar políticas artificiais, em nome de objectivos que devastam e aniquilam, em todo o mundo, milhões de vidas, na sua caminhada inexorável, em favor de lucros sempre crescentes, que passam pela destruição sistemática de outros tantos postos de trabalho.

    Tudo se passa exactamente como descrevemos no parágrafo anterior; no entanto, tudo se anuncia como se aquilo que efectivamente se verifica, fosse apenas cíclico, e pudesse ser contrariado ou invertido, através de políticas reformistas, configuradas por estratégias vigorosas, tendentes a perpetuar a ilusão fantasmagórica do tótem dos nossos dias: a visão fugaz e holográmica do trabalho remunerado.

  Contudo, o homem continua a aspirar, acima de tudo, à liberdade, e a experiência – as várias experiências – colectivista(s), onde as elites dirigentes protagonizam, a seu bel-prazer, ambição, expansionismo e belicismo, redundaria num total fracasso, frustrando o povo, oprimido pelos déspotas.

  O conceito de trabalho, tal como hoje o concebemos, foi há muito ultrapassado, pelo que a ideia de emprego a ele associado, não passa de uma alucinação quixotesca. Não adianta tentar agarrar, desesperadamente, as sombras de um mundo que não chega sequer a ser alegoria, uma vez que o vazio está aí, porque a realidade a que alude, pura e simplesmente não existe.

   A crise internacional, a crise europeia, a crise portuguesa são episódios de uma novela mal contada, com que nos entretêm, levando-nos ao equívoco, à alienação. Estamos todos perante uma alteração brutal, isso sim, do figurino civilizacional à escala global; estamos todos já perante uma nova era, sem termos percebido que a anterior desapareceu. Se não agirmos em função da nova realidade e continuarmos agarrados a fantasmas virtuais, não conseguiremos nunca encetar um novo caminho.

   E, perante a realidade sensível que políticos insensíveis deturpam, Portugal tombou já no abismo do descalabro, numa demonstração de insuportável incapacidade, de escandalosa impreparação, de despudorada falta de sentido patriótico.

    Por último, importa aludir ao curioso e recorrente joguinho das sondagens. Como escreveu Feuerbach (1804-1872), no prefácio à segunda edição de “A Essência do Cristianismo”: “(...) o nosso tempo prefere a imagem à coisa, a cópia ao original, a representação à realidade, a aparência ao ser (...)”.

Imagem do Google

4 comentários:

  1. Olá, Humberto, sobre nosso querido irmão Portugal, sabemos aqui que vive com alguns problemas,sim, nosso caso também é escabroso, após anos tudo veio a tona. Aliás, há uma crise mundial, nuns países mais, noutros menos. É o bicho homem e suas políticas, sua ganância pouco visando o povo. Mas aqui o espírito patriótico está em alta cotação depois de tantas 'descobertas' de corrupção nunca vista antes na história mundial, pois o Brasil é um país de dimensões enormes, rico, fértil e ficou na pior. A luta é ferrenha. O roubo foi estratosférico. Mas o povo se rebelou, apoiou todas as medidas e vamos que vamos, fazendo, reconstruindo. Com muita esperança, com confiança, sem dúvida.
    Assim são os homens, meu amigo, concordo: políticos, políticos...
    Uma boa semana, de esperança.
    Beijo

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  2. O seu texto, meu querido Amigo, toca nos pontos sensíveis do mundo em que vivemos. Que enorme reflexão ele nos proporciona! "Não adianta tentar agarrar, desesperadamente, as sombras de um mundo que não chega sequer a ser alegoria, uma vez que o vazio está aí, porque a realidade a que alude, pura e simplesmente não existe." Magnífico!
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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  3. Um texto que deveria de ser lido e reflectido por todos. Parabéns :))

    Hoje:-Procuro na solidão. |Poetizando e Encantando|

    Bjos
    Votos de uma óptima Segunda-Feira.

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  4. Os governos tentam resistir, mas são impotentes (ou até incompetentes) face aos assaltos do capitalismo selvagem globalizado, que dita as regras, directa ou indirectamente.
    Uma crónica demolidora, infelizmente verdadeira. Mas excelente.
    Caro Humberto, continuação de boa semana.
    Abraço.

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