quarta-feira, 25 de setembro de 2019

OS FILHOS TÊM DE SER MERECIDOS



   O nascimento de uma nova vida humana constitui sempre um trauma, seguramente para a criança. Compete à mãe a tarefa de readaptação da sua nova condição de recém-nascida, através dos seus corpos, integrando-a, o melhor possível, no ambiente familiar, onde a presença do pai e dos irmãos, se os houver, é também crucial. É importante garantir os vínculos necessários, desde logo, para potenciar toda a riqueza inerente ao desenvolvimento infantil.

   A não ser assim, cava-se o fosso do trauma e a vacuidade narcísica; fomenta-se o apagamento emocional; esfuma-se a alegria de viver e de descobrir; engendra-se um quadro de somatização onde está patente o instinto de morte, resultante da angústia da perda do objecto. O psiquismo do sujeito é profundamente abalado, instaurando-se a desordem e a perda da consciência moral e agravam-se as feridas narcísicas.

  Neste tipo de situações (recordamos casos concretos), ocorrem sempre negligências relacionais maternas graves e continuadas, nos cuidados primários e subsequentes, onde a interacção se pauta por uma proximidade parasitária dual de cariz sado-masoquista. Aqui, a criança internaliza apenas a frustração da perda e rejeição que a isola, perturba e confunde. Depois do universo inconsciente dos pais ter pesado sobre a gestação e o nascimento do novo filho, acresce agora o seu comportamento disruptivo.

   Estamos em presença de modelos de vinculação precários e redutores que aniquilam a capacidade de adaptação à família, à escola e ao social, como se a criança tivesse de atravessar um precipício através de uma ponte-rudimentar-sem-grades: mostrar-se-á insegura, apavorada, frustrada, revoltada e ansiosa; correrá o risco eminente, também, ao longo da vida, de sofrer de patologias de cariz neurótico ou psicótico.

   O seu psiquismo tenderá a procurar defesas compensatórias, por sistema, através da denegação e da regressão; do recalcamento e da foraclusão; da clivagem e da identificação projectiva. É a luta desesperada do Ego, na tentativa de aquietar a ferida narcísica e a gestão objectal; de se furtar às malhas da psicose, mas incapaz de evitar as neuroses obsessivas e a variabilidade da sintomatologia psicossomática.



Imagens (2) do Google

8 comentários:

  1. Belo e sensível!

    Hoje no Brincando:-Instante ilusório

    Bjos
    Votos de uma óptima noite


    ResponderEliminar
  2. Freud, Adler, Jung... li
    Gosto de psicologia,
    Mas tudo é uma só via
    Que segue e acaba em si.

    A mente humana, eu senti
    Ser razão, alma e um guia
    Abstrato que irradia
    Luz que transcende à magia.

    Tudo é mistério! A matéria
    É complexa e séria
    Consonante à disciplina!

    Disciplina deletéria
    Da fé e luz, é a miséria
    Perante a alma divina.

    Grande abraço! Laerte.

    ResponderEliminar
  3. E, os pais também.
    Muito bom esta sua reflexão.

    ResponderEliminar
  4. Eu costumo dizer que os pais, no essencial, apenas têm obrigações e nenhum direito sobre os filhos.
    Excelente texto, gostei imenso.
    Caro Humberto, um bom fim de semana.
    Abraço.

    ResponderEliminar
  5. Que texto ótimo! Bendita são as crianças que nascem num núcleo sadio, responsável e amoroso. Bendita são elas que crescem num núcleo sem grandes atritos e desenvolvem-se em escolas onde o ensino, de fato, é primordial, isento de ideologias, como acontece no Brasil de 20 anos para cá. Creio que serão adultos responsáveis e vencedores. Trazem a chance de terem famílias também mais saudáveis e estruturadas.
    Gostei muito do seu artigo, Humberto!
    Beijos.

    ResponderEliminar
  6. Um texto magistralmente escrito, que nos mostra quão importante é a relação mãe e filho, desde as primeiras horas do seu nascimento e como um contacto amoroso e sadio entre ambos e os restantes membros da família, pode ajudar a formar a sua personalidade! Gostei!
    Agradeço a sua visita ao Barlavento e apraz-me dizer-lhe que apreciei deveras o seu comentário porque mostrou ter compreendido o sentido do poema.
    Muito obrigada, volte sempre.
    Um abraço.

    ResponderEliminar
  7. Gostei imenso deste seu texto, meu Amigo. Também sou mãe e gosto de pensar que mereci os meus filhos…
    Uma boa semana.
    Um beijo.

    ResponderEliminar