terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

A OBSESSÃO DO DIGITAL

 
 
 
 

“(...) as criança de hoje, habituadas que estão a crescer sozinhas, no seio da abundância material, da indiferença dos adultos, longe das normas e de um quadro equilibrado de valores morais e éticos, farão amanhã parte de um mundo onde prevalecerá o egoísmo mais fechado, o arbítrio mais indiscriminado, o capricho mais tenaz, a tirania mais intolerante, vindo os nossos netos a sofrer na carne o tratamento ditatorial e frio de quem nunca aprendeu, soube, ou foi capaz de amar” (M. B. Santos, 1994, in Notícias da Educação, n.º 7, p. 3).
 
 A criança de hoje pena numa “(...) sociedade que nos impõe, em tempo real, a omnipresença das TIC, às quais se ligam os indivíduos de forma viciante, dependente, ambígua, desprovida de lógica, de verdade e de emocionalidade, porque de virtualidade se trata. Fica, por um lado, diluída a territorialidade em nome da globalização, da mesma forma que vamos sendo invadidos por uma espécie de uniformização dos contextos, dos cultos, das crenças, dos ritos e das assunções, a caminho da solidão virtual, do isolamento, da formatação padronizada geradora do pensamento único, na vacuidade do tempo e do lugar; por outro lado, tal estado de coisas potencia a confusão mental ou mesmo a dissociação, disfuncionando o equilíbrio do self “ (M. B. Santos, 2015, in As Cores da Alma, Romance, p. 121).
 
 E tudo continua a ir de mal a pior: a obsessão do digital tem coarctado o crescimento emocional das crianças e dos jovens; tem impedido o desenvolvimento da vertente humana da mente; tem embrutecido o sujeito, impedindo-o de se relacionar empaticamente, por isso, tem aumentado o bullying e o ciberbullying. Sem competências emocionais devidamente trabalhadas, a criança não faz amizades e passa a agir de forma reptílica, profundamente primária; torna-se intolerante e agressiva, incapaz de avaliar e de decidir sobre a linguagem do fácies dos pares. Perante todos estes sinais de alarme – em 1994 já era tarde –, escutamos dos impreparados eleitos, a narrativa irracional da glorificação do digital... Sim, sim, nas escolas, a toda a brida! Pena é que não seja como parte integrante e útil de um conjunto alargado de actividades diversificadas, onde a necessária e mais importante componente lectiva da escrita com lápis ou esferográfica deva ser ensaiada no papel, com a mãozinha de cada um, a par da leitura feita em livros concretos e palpáveis, sem esquecer todo o tipo de experiências no campo do exercício físico e das áreas de expressão.
 
Imagem do Google

11 comentários:

  1. Boa tarde Humberto. Obrigado pelo tema. Ele nos faz refletir como a maioria das crianças vivem uma vida digital e muitas vezes sem a supervisão dos pais. Existem vários perigos para elas e é necessário acompanhamento dos pais ou responsáveis. Obrigado pela visita e comentários. Não vi a parte de seguidores do seu Blogger, assim que tiver, serei com maior prazer.

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  2. A digitalização tem sido uma aposta do governo e mesmo quando se fala em abundância material, tal não é, infelizmente, comum a todos.
    Todas as moedas têm duas faces e o que falha na mais completa inclusão social das crianças, nessa matéria, compete à educação corrigir e compensar.
    Abraço fraterno.
    Juvenal Nunes

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  3. Isso mesmo, Humberto!
    A obsessão do digital ultrapassa tudo aquilo que podemos pensar.
    Perdeu-se o diálogo e o interesse pelas pequenas coisas.
    Os textos estão muito bem escritos e exprimem muito bem a realidade.

    Abraços e bom resto de semana.

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  4. Olá, Humberto

    Tema importante para ser debatido com afinco.
    A obsessão pelo digital é real, levando a que
    preencha uma parte não despicienda das nossas
    vidas.

    E não é unicamente em relação às crianças,
    também os adultos se deixaram envolver e
    quase que preferem viver nesse mundo virtual
    desvalorizando o real, a natureza, os passeios
    ao ar livre...

    Por isso, é urgente que se aborde o que nos rodeia
    chamando pais, professores, decisores políticos
    para esta demanda.

    Obrigada por trazer este assunto.
    Abraço
    Olinda

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  5. Olá, Zé
    Fizeste bem em reflectir sobre este tema. Seria muito útil que pais e educadores se debruçassem sobre este assunto e dedicassem mais do seu tempo ao acompanhamento de crianças e jovens para que não se percam só na utilização do digital, afastando-se do convívio que serve para despertar empatia. O Homem, como sabemos, é um ser «eminentemente social» e, como tal, sem o outro, não é capaz de gerir as suas emoções e competências de alteridade.
    Se bem que o digital seja útil, não o é só por si.
    Parabéns pelo texto.
    Beijinho
    Mana

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  6. As crianças, na sua maioria, já só brincam e leem no computador o que as leva a um caminho de solidão, de isolamento e, tantas vezes, a desequilíbrios irremediáveis. Os textos que nos dá a ler são muito oportunos nestes tempos em que o digital é que conta e fazem-nos pensar nas consequências disso.
    Uma boa semana com muita saúde, meu Amigo.
    Um beijo.

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  7. Infelizmente esta é uma realidade que afecta hoje o mundo das crianças. Tudo o que digital é que é apreciado, as brincadeiras que havia, ler pelos livros, o companheirismo, começam a ser memórias de outros tempos. A evolução digital é importante, mas não se pode perder o contacto humano, o convívio, onde se criam valores e empatia.
    Excelente reflexão.
    Um grande abraço

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  8. Muito bom seu texto.
    As crianças de hoje em dia são a geração da tecnologia, desde muito pequeno os pais já lhe colocam um celular nas mãos. Elas não conhecem historinhas infantis, brincadeiras antigas... conhece as redes sociais. Para muitos psicólogos e pedagogos, hoje as crianças não conseguem mais ser crianças e isso pode afetar na sua vida adulta seriamente. Cabe aos pais a tarefa de ensinar o que é melhor pra seus filhos no futuro.
    Uma boa semana!

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  9. Excelentes extratos que tão bem selecionou.
    O problema está abordado de forma completa e perfeita, pelo que,
    não tenho nada a acrescentar...

    Visite-me no blog 'A Vivenciar...', teria muito gosto em recebê-lo.
    O 'post' presente também lhe é dedicado... Abraço, Humberto.
    ~~~~~

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  10. Esse tema é capcioso,
    Incógnito e enigmático.
    Do ponto de vista prático,
    Imagino e fico ao gozo
    Da minha mente que sente
    A mente do adolescente
    Em ebulição a mudar:
    A água em gás pelo ar
    Que cai em água corrente.

    Há controvérsias e há de se pensar no assunto. Grande texto, amigo! Parabéns! Abraço fraterno. Laerte.

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  11. Assertivos os textos, mas nos tempos que correm, com a falta de tempo dos pais, a falta de segurança nas ruas e depois todo o sistema envolvente é complicado um jovem não acabar por ficar prisioneiro de toda a tecnologia que o rodeia.
    Infelizmente é um mal já generalizado , tantas vezes fica mais fácil para uma mãe por exemplo: dar o tlm aos filhos para eles ficarem entretidos, tanto que isso acontece nos restaurantes...
    Temos nós como adultos de não sermos viciados, para que as nossas crianças também o não sejam. Criar regras, alternativas, ser presente e preocupado, ter tempo e vontade para dar, para que os jovens tenham
    outras perspectivas.
    A evolução digital é importante,mas não pode ser o mais importante.
    Brisas doces *

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