Independentemente
das vulgares estatísticas, resultantes, na prática, do
conjunto alargado dos normativos meramentes determinantes que, nos
anos mais recentes têm vindo a ser publicados, no sentido da
diminuição artificial do insucesso escolar, o aluno,
que no dia a dia frequenta a escola portuguesa, deve ser olhado com
olhos de ver. Nesta medida, a nossa sociedade deve permanecer atenta,
ou melhor, deve tratar de começar a dar a máxima
atenção à realidade palpável que se vive
no nosso país, passando a ter opinião sobre a matéria
em questão, ao invés de papaguear os clichés do
senso comum, ou as simples e redutoras máximas da propaganda
governamental.
A
nós, pelo nosso lado, e porque sempre temos estado no hostil
terreno da demolidora prática pedagógica de todos os
dias, resta-nos a missão cívica de intervir de forma
positiva, tentando ilucidar quem nos lê, sobre algumas
especificidades que intervêm na construção da
pessoa humana e no desenvolvimento integral de cada uma das suas
qualidades que a tornam apta a agir nas diversas situações
de(a) vida. Tendo em conta esta realidade, torna-se imprescindível
partir do estudo cuidado do historial de cada um dos alunos, da sua
hereditariedade,
bem como do meio ambiente que o envolve (meio
sócio-económico e cultural),
não ignorando ainda um terceiro aspecto da questão,
indissociável dos dois anteriores e, ainda, fundamentalmente
essencial, para que seja possível contornar as vertentes mais
problemáticas da temática em apreço.
Referimo-nos, naturalmente, ao “Eu”
e ao seu todo comportamental, atitudinal,
quando consegue correlacionar os diversos factores em presença,
na base de uma linha de amadurecimento do próprio conhecimento
deste tipo de relação que se vai gerando no âmbito
da sua forma de estar e de agir, face ao devir dos dias lectivos.
A
hereditariedade não pode ser considerada, no seu sentido
restrito, invariavelmente inata, claro; deve, pelo contrário,
ser vista, conforme os casos, como sendo variável, numa linha
de desenvolvimento dependente do meio e do conhecimento da sua
intervenção activa.
A
função faz o órgão, e é bem
verdade; da mesma maneira que se afirma que errar é humano, ou
seja, nenhuma aprendizagem poderá estar alguma vez concluída,
isto é, nenhum homem conseguirá nunca o mais total e
completo nível de aperfeiçoamento – por isso mesmo é
que o mundo tecnológico tenderá sempre a evoluir, de
geração em geração. Só os
mentecaptos estratificam. Mas, o universo estudantil português
corre já hoje este risco. Urge discipliná-lo.
Voltando
ao aluno, que é para isso que aqui estamos, diremos que a
maioria dos seus actos aliada à suas naturais capacidades de
aprendizagem, radicam na acção conjunta de factores de
predisposição e níveis de personalidade
diversificados. Se se verificarem défices, não
demasiadamente condicionantes, num determinado plano, podem surgir
compensações a outros níveis, a partir de uma
escola psicologicamente pensada, pedagogicamente activa,
didacticamente alicerçada, que não esta que nos tentam
actualmente impingir.
Importa,
no entanto, não ignorar que os alunos que se nos apresentam já
com um conjunto de aprendizagens, aquisições,
inculcações, hábitos, comportamentos e atitudes
constantes, oferecem, por norma, uma resistência tenaz a
qualquer tentativa de trabalho pedagógico. Reaprender é
sempre muito mais complexo e difícil do que apenas aprender.
Por
último, adiantaremos a ideia de que a capacidade de
aprendizagem, quanto mais tardia, mais resistências oferece
também, nomeadamente no domínio motor. Já no
campo psíquico em geral, essa capacidade mantém-se até
mais tarde, se o cérebro tiver sido sempre activamente
estimulado, claro!
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