sábado, 28 de junho de 2014

DE PERNAS PARA O AR

Imagem do Google

O Sistema Educativo, para já não falar do Sistema de Justiça e do Sistema de Saúde, reflecte, tal como os dois sistemas a seguir nomeados, a possibilidade de evolução positiva de uma dada sociedade; mas pode, também, determinar o estado de decadência dessa mesma sociedade. É isso que se tem passado no nosso país, maioritariamente, desde o tempo de Sócrates e Lurdes Rodrigues.

O tratamento aparentemente persecutório de que têm sido alvo os professores; os salários baixos, tendo em conta as diatribes de que têm sido objecto; a perda de estatuto e de papel; as sevícias a que têm estado sujeitos: basta recordar o sistemático desinteresse dos alunos e o seu mau comportamento e total ausência de decoro, boas maneiras e noção de pertença comunitária educacional; a ignorância e falta de respeito, por parte da sociedade, cada vez mais alienada pelo supérfluo que os media espectacularizam diariamente...

Os governos têm procurado o caminho do facilitismo, diminuindo o grau de dificuldade dos curricula e dos exames nacionais, para que seja possível exibir resultados rápidos para a Europa. Assiste-se, assim, a um nível de ensino público muito baixo, à banal introdução das novas tecnologias (computador magalhães) e à completa desconsideração da figura modelar do professor. Um exemplo apenas, escandaloso e desumano, mas candente: professores com cancro, em fase terminal, obrigados a trabalhar; associações de pais demasiado intrometidas nas escolas; estas têm agora o rosto de armazéns -- lugares onde os pais despejam os filhos até as 19 horas, esperando que os docentes sejam uma extensão da parentalidade...

Mas há mais: a execrável violência dentro das salas de aula, que passa impune, logo, sem consequências. Repare-se ainda: os professores de escolas de bairro com maus resultados escolares são os mesmos que dão explicações aos filhos dos ricos que frequentam colégios privados e que demonstram bons resultados anuais! Por último, embora pudesse continuar... A avaliação dos professores e  a burocratização do sistema torna tudo pior, obrigando os docentes a fazer o impensável, isto é, tudo o mais, menos E-N-S-I-N-A-R, que é aquilo para que estão efectivamente habilitados. 

1 comentário:

  1. Querido Zé
    Estou admirada pelo facto de um texto como este ainda não ter suscitado nenhum comentário!
    Foi escrito em 2014, mas, infelizmente está actualizadíssimo.
    A tutela do Sistema Educativo começa por negar a violência que existe nas escolas... e demais estabelecimentos que albergam jovens.
    Ontem, a televisão noticiava a fuga de uma jovem, tirada à família, que dava conta das sevícias que ela e outras meninas de menor idade sofriam nas mãos das (ir)responsáveis pela instituição de onde escapara.
    O Director, que prestou declarações a uma cadeia televisiva, prometeu averiguar. Entretanto, a notícia concluía que as autoridades até já tinham tomado uma atitude, mas mantinham as mesmas adultas na instituição com crianças e adolescentes. Isto é de bradar aos Céus!
    Com que cabeça estas crianças e jovens conseguirão estudar, estar bem comportadas numa aula...?! E que relatório vai a tutela apresentar à OCDE?!
    Aí,entra o facilitismo e mais...já agora, tenho de contar: um estabelecimento do ensino básico, de uma cidade do Norte do nosso país, exigia, no início de setembro, que os professores colocassem em acta a percentagem de alunos que iriam passar no final do ano lectivo!!!!!! Nem digo mais nada. Só pergunto:
    - Será que isto funcionava assim em todos os estabelecimentos?! Ainda funcionará?!
    E, sendo os docentes «uma extensão da parentalidade», como evitar que caiam em depressão, ao depararem com casos tão chocantes?!
    Sentem um vazio, uma impotência indizível.
    Sei de quem entrava um pouco antes das 8h25, morando perto do estabelecimento de ensino e, muitas vezes, só regressava depois das 22h. Ninguém agradece, ninguém se apercebe, nenhum docente recebe mais por isso, mas...é o que temos!!!
    Belo texto! Necessário, para que todos saibam a verdade.
    E o título, assenta-lhe como uma luva: realmente está tudo de pernas para o ar. Só quem está no terreno é que sabe, e é uma pena que a tutela não se reúna com esses.
    Infelizmente, e face ao que recentemente aconteceu no nosso país, há outros Ministérios que não têm a menor noção da realidade que é o nosso país.
    Parabéns pela publicação.
    Um beijinho
    Mana

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