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Num
mundo cada vez mais evoluído e contraditório, cada vez mais complexo e
castigador, cada vez mais ardiloso e frustrante, que lugar cabe aos velhos
ocupar?! Todos sabemos que o mercado de trabalho se encontra, neste decrépito
início do século XXI, muito mais sofisticado e exigente, exíguo e particular,
ao mesmo tempo que se dispõe apenas a oferecer condições laborais precárias,
menos condignas e pior remuneradas. Além do mais, sublinha sempre aquela
espécie de absurdo condicional que contempla, a um tempo e sem transigências,
uma multiplicidade de competências que vão desde as habilitações gerais às
específicas, passando por um determinado conjunto de anos de experiência
prática (?!), idade entre os 25 e os 35 anos, viatura própria, disponibilidade
total... e por aí fora.
Nesta conformidade, está instalada a
trapalhada e, os velhos, leia-se, acima dos 35 anos, ou recorrem à mendicidade
– passiva ou activa –, isto é, ou se encostam à família cuja progénie tinham já
rendido através da salutar autonomização, emancipação e independência, ou vão
mesmo estender a mão à caridade alheia. É que os desta fase etária, ainda que
não sendo velhos, são já olhados como trapos, desperdícios sociais. Aos velhos
propriamente ditos, acima dos 60 anos, caso tenham conseguido manter o emprego,
exige-se-lhes que continuem a trabalhar até aos 67 anos, até ver... O discurso
habitual é que o dinheiro é sempre escasso, quando se trata de pessoas; não
para a Banca ou para a gula dos mercados, para as negociatas suicidas do
estado, para aplicar nas insidiosas manobras de criação de factos consumados
que visam inflacionar artificialmente os custos, entre outras estratégias
aberrantes.
Mas, para quem deixou já as rotinas
laborais, o tempo, os recursos e todo o tipo de relações humanas irão sofrer,
por isso mesmo, alterações drásticas, a vários níveis: a interacção
profissional, sindical, política, familiar, social dilui-se ou desaparece mesmo
de acordo com determinadas vertentes do protagonismo anteriormente levado a
efeito, dando lugar ao esvaziamento relacional. Ainda por cima, o cinismo
ideológico colocado ao serviço da incompetência governamental, volta a aplicar
os mesmos impostos que tinham já tributado o vencimento bruto dos trabalhadores
no activo, sobre a parte deduzida para efeitos de aposentação e reforma, sendo
esta agora objecto de uma dupla tributação, para além de sobre-taxas e outras
subtracções impensáveis. Esta referência deve-se ao facto de, na prática, o
reformado estar coagido a não ser mais do que um mero consumidor, pois todos os
outros papéis lhe foram sonegados, mas nem assim o respeitam. E, como se tudo
isto não bastasse, muitos ficam mais tristes, sós e abandonados, quando surge a
viuvez.
É neste contexto que se vai
alterando, gradual ou bruscamente, o “self”, “O Sentimento de Si, do
corpo, da emocionalidade, da consciência” (Damásio, 2013), a requerer uma
nova energia, no sentido de um novo equilíbrio de readaptação ao social que não
frustre o ideal a que o “self” se deve reajustar.
O psiquismo dos indivíduos com mais
de 60 anos sofre ainda a pressão exercida pelo paulatino decréscimo de energia
física e anímica e a consequente perda de mobilidade; a perda da acuidade visual
e auditiva (embotamento dos sentidos), logo, do interesse intelectual; tudo
somado, provoca efeitos psicológicos e afectivos demolidores, menor interacção
com os outros e perda da realidade de si.
Tal como o progresso, também a crise
acaba por ser um pau de dois bicos na situação constrangedora/confrangedora
a que estão sujeitos os maiores de 60 anos. Por tudo isto, que lugar cabe hoje
aos velhos ocupar?! Conforme se depreende da leitura dos parágrafos anteriores,
nomeadamente quando se fala de critérios de selecção para novos empregos, ou de
desemprego prematuro, de longa duração ou definitivo, os velhos têm sido
instados, face à actual quebra da coesão económica e social de cariz
institucional, a retomar o papel de cuidadores, partilhando os seus parcos e
(sub)traídos recursos com os filhos e familiares mais próximos, o que não deixa
de lhes conferir uma certa utilidade actuante. Esta realidade tem efeitos
duais, ou seja, se, por um lado, precariza as suas vidas materiais, por outro,
esse culto altruísta faculta-lhes o incremento da auto-estima, do amor-próprio,
do seu lugar de pertença e inserção, atenuando aquilo a que alguém chamou – “complexo
do ninho vazio”. Mas isto, só se passa, quando os familiares beneficiados
conseguem reconhecer o esforço dos ascendentes, sabendo ser humildes,
respeitadores e agradecidos.
Mais uma vez li este seu admirável texto e concordo com o que escreve. O facto é que neste momento, neste país, são os ditos "velhos" que aguentam as famílias e não deixam que os "novos" caiam na miséria...
ResponderEliminarUm beijo, amigo.