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Relativamente
aos conceitos em epígrafe, julgamos não ser de desprezar a constatação fácil de
que ambos evoluem, com o tempo, no âmbito da sua capacidade de encarar e
compreender o real envolvente. De resto, tudo se terá passado, desde os
primórdios da humanidade, um pouco como o que se verifica com a criança, ontem
como hoje, através das fases estudadas pela Psicologia do Desenvolvimento.
Senão, vejamos:
O paralelismo a que nos referimos,
tinha já sido objecto de estudo, por parte de Freud, na sua obra Totem e
Tabu, ao longo da qual este famoso médico neurologista pretendeu demonstrar
que o pensamento e a consciência dos homens são dinâmicos e não estáticos e,
portanto, possuem carácter evolutivo, no sentido da redimensionação das
concepções humanas da vida e do mundo. Sendo assim, quer o pensamento, quer a
consciência percorreram já três estádios de desenvolvimento progressivos, que
passamos a citar:
Tal como acontece com a criança,
também a humanidade começou por olhar o mundo, por meio de uma leitura animista,
atribuindo-se a si própria o poder infinito e a tudo quanto a rodeava uma
alma idêntica à alma humana. A esta fase animista, por isso, continua a
corresponder, desde sempre, o narcisismo, por força da crença em si mesmo, que
o homem vai alimentando, para seu próprio gáudio, como se o poder dos homens
fosse infinito e tal configuração das coisas fosse compatível com a realidade.
Seguidamente, na fase religiosa,
o poder infinito é cedido aos deuses... não totalmente, porque o homem não
cessa nunca de julgar e influenciar os deuses, levando-os sempre a agir de
acordo com os seus próprios desejos, vontades e expectativas, como se de uma
identificação projectiva se tratasse. Em termos de correspondência, a fase
religiosa equivale ao estádio da escolha objectal, isto é, à fixação da líbido
aos pais. Enquanto a mãe, a partir do seu próprio corpo, outorga um corpo à
criança, o alimenta e protege, o pai garante a construção do respectivo
psiquismo.
Por último, surge a fase científica só
tornada possível devido ao actual estado adulto (?!) da humanidade e
consubstanciada pelo princípio da realidade e pelas exigências de um altruísmo
actuante. No entanto, se a concepção científica do mundo é objectivação
rigorosa, observação e constatação, como fica, então, o poder ilimitado do
homem? A humanidade tem mesmo de reconhecer e aceitar a sua pequenez,
insegurança, fragilidade e finitude, não sendo capaz, portanto, de se furtar à
morte, pelo que, não é possível encarar a ciência, em termos definitivos, como
algo infalível ou imutável, muito menos absolutamente exacto e objectivo.