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Dizer
que a juventude de hoje será o futuro do Portugal de
amanhã, não passa de um vulgar e tantas vezes repetido
lugar-comum. É assim mesmo, porque se trata de uma verdade
impossível de desmentir, seja por quem for. Mas, porque é
exactamente a partir desta realidade que as coisas deveriam
funcionar, difícil se torna perceber as razões pelas
quais tem sido a nossa juventude completamente desprezada, abandonada
e, se quisermos, porque não dizê-lo, perseguida mesmo,
numa linha que contextualiza a mais vil das traições
perpetradas, por acção ou omissão, contra o
sangue novo, que deve ser, contra ventos e marés, o mais
precioso capital a investir, agora, visando acautelar a vida de todos
e de cada um, nas
décadas mais próximas.
Aquando da comemoração de mais um
dos aniversários do elemento mais velho de uma família nossa conhecida,
estiveram lá todos os filhos e netos. Estes, à volta de vinte almas, situam-se
já, grosso modo, entre os quinze e os trinta e cinco anos de vida, o que, no
caso vertente, significa que muitos deles se encontram a frequentar estudos
universitários, havendo mesmo mais de metade com o curso já concluído.
Um destes conta até com um mestrado
conferido pela Universidade de Westminster, Londres, a que se seguiu um “IMT”,
depois de ter frequentado, no Ensino Superior Privado, uma Licenciatura de
cinco anos e ter conquistado os três diplomas com distinção. Na sequência do “IMT”
recebeu até um galardão internacional, atribuído por um dos gigantes
multinacionais da electrónica mundial.
Para além do significado de tudo
isto, convém reter que nada do referido acontece sem o contributo de esforçados
investimentos financeiros, isto é, a despesa incalculável que representa
garantir, ainda que dentro dos limites de um certo equilíbrio, todos os
pagamentos referentes a propinas, residência universitária, material didáctico,
cama mesa e roupa lavada, num país onde a moeda (Libra) valia, nessa altura,
mais 25% relativamente ao Euro.
Todos estes indivíduos, como é
óbvio, acalentam os seus sonhos, os seus projectos; manifestam as suas
pertinentes ambições; falam das suas expectativas face ao futuro, ou não
fossem, na prática, uma amostra viva e eloquente da juventude à qual nos
referimos no escrito vertente.
No entanto, do grupo dos que
concluíram já os estudos, nenhum, praticamente, conseguiu ainda emprego: a
Paulinha, advogada, tem andado a bater a todas as portas possíveis e
imaginárias e nada; O Gonçalo, engenheiro, tem recorrido ao seu espírito
prático e sujeita-se a servir cafés; a Ritinha, que venceu o mestrado em
Ciências do Património, é recepcionista de uma clínica pediátrica; o Luís,
regressado de Westminster, Londres, foi convidado para leccionar em determinada
universidade do rectângulo – a mesma onde frequentara cinco anos de
Licenciatura –, mas está furioso com o sistema fiscal, etc., etc., etc..
Bom, eles que nem sonhem que temos
estado a meter a foice em seara alheia, isto é, a falar das suas vidas, com
nomes diversos, embora. O facto é que achamos este exemplo absolutamente
flagrante e deveras ilustrativo daquilo que hoje pretendemos afirmar.
Sendo assim, vamos arriscar adiantar
alguns elementos mais sobre a nossa tese de hoje: o Luís está furioso com o
sistema fiscal nacional, dissemos atrás e passamos a explicar agora. Vejamos:
como é que acham que se pode sentir um jovem (agora com trinta e três anos de
idade) que, depois de ter estudado ininterruptamente ao longo de toda a sua
vida, com notas sempre elevadíssimas; depois de ter arrancado um mestrado com
distinção em Westminster (seguido de “IMT”); depois de ter sido
convidado, por mérito próprio, para leccionar no ensino universitário nacional,
num estabelecimento de ensino de referência, recebe do fisco a
informação/imposição de que terá de pagar 46% (quarenta e seis por cento) de
impostos sobre o seu vencimento mensal?! Traduzindo isto para uma linguagem
mais acessível e inteligível, poder-se-á dizer que o Luís só poderá contar com
uma verba líquida, próxima daquela que
aufere o primo engenheiro, depois de um mês de cafés servidos.
Depois de tanto trabalho, de tanta
luta, de tanta empenho e entrega, que raio de oportunidades são estas?! E então
em que é que se apoia, afinal, a mais recente propaganda dos últimos três
executivos?! Para que estudam tanto os nossos jovens... aqueles que estudam! É
que o que sobra, depois de deduzidos os impostos, paga a renda ou a prestação
da casa e as restantes despesas inerentes à mesma. Se é que é suficiente?! E os
transportes?! E vestir?! E comer?! E o lazer?! Se o dinheiro não chega para
estas últimas necessidades inultrapassáveis, o que é que restará para que seja
possível viver efectivamente?!!
Sabem que mais?! O Luís já fala,
desiludido e magoado com tudo isto, em debandar, de novo, para Londres. Nós
dámos-lhe toda a razão.
Nota 1: Uma vez concretizado o “Brexit”,
perde acuidade a representação mental que terá, eventualmente, motivado, de uma
forma ou de outra, os discursos, as moções e as políticas dos três últimos
executivos (Sócrates, Passos e Costa), relativamente à emigração lusitana.
Nota 2: O presente artigo foi escrito em Setembro de 2007
e revisto agora, em Junho de 2016. Nada mudou, afinal! Melhor dizendo: o Luís
emigrou, há já cinco anos, para os Emirados!
Realmente, amigo, as coisas não mudaram nada. Ou antes, mudaram para pior. Sei muito bem do que está a falar. Tenho casos na família. Eu e muitos amigos meus...
ResponderEliminarUm beijo.