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Uma
das notícias emitidas na manhã de 10 de Agosto de 2016 referia uma constatação
extraordinária mas, quanto a nós, nada surpreendente: “existe um número
crescente de unidades hoteleiras, em Portugal, que rejeitam admitir crianças
nas suas instalações”. Se conseguirmos penetrar na real e total dimensão de
toda esta problemática, sem discutir a ilegalidade de tal interdição,
rapidamente perceberemos as reticências ou até mesmo a intransigência que move
os proprietários dos hotéis, cujos investimentos possam eventualmente ser
postos em causa pelos azougados pivetes em roda livre, quando não em deplorável
modo anárquico.
Será que é disto que se trata,
afinal!?...
Ainda há dias, um conhecido
psicólogo da nossa praça mediática (televisiva) aludia à importância do “não”,
do saber e ser capaz de dizer “não” às criancinhas, aliás, tão
necessitadas de normas, balizas e padrões comportamentais, como de pão para a
boca. E é de pequenino, no seio da família, que se torce o pepino, caso
contrário, o natural estado selvagem em que se nasce não será moldado nunca. É
importante que todas as crianças e cada uma vão adquirindo, gradualmente,
equlibradas capacidades de socialização, na família, na escola e na sociedade,
través do respeito por si próprias e pelos outros, bem entendido, se os pais
fores conscientes e responsáveis.
A constelação familiar constitui a
teia dinâmica fulcral ao desenvolvimento psíquico da criança, de acordo com
toda a diversificada caracterologia daquela, onde têm maior relevo as condutas
dos progenitores, dos irmãos e de eventuais educadores. Curiosamente, sobre
esta matéria, Adler não deu importância à hereditariedade de factores
psicológicos, apontando antes as influências do meio ambiente, isto é, a
família em primeiro lugar, encontrando-se a mãe à frente dos restantes
elementos. Na obra “O Sentido da Vida”, a dado passo, este autor
escreve: “É, provavelmente, ao sentimento de contacto materno que devemos
agradecer a maior parte do sentimento humano, de solidariedade e também a
existência essencial da cultura”.
Um outro grande cientista – António
Damásio, ainda vivo e actuante, ensina-nos que “o cérebro retém uma memória
daquilo que aconteceu durante uma interacção, e a interacção inclui de forma
relevante o nosso próprio passado, e muitas vezes o passado da nossa espécie
biológica e da nossa cultura” (Damásio, 2010: p. 171).
E porque da educação de crianças se trata,
concluiremos com uma nova achega deste mesmo neurologista, quando aponta a
morosa extensão temporal da infância e da adolescência humanas e a prolongada e
lenta necessidade de educação dos processos não-conscientes do nosso cérebro,
visando criar aí, nesse mesmo espaço, algo que possa vir a funcionar, de forma
“controlada e fiável”, em função de “intenções e objectivos conscientes”
(Damásio, 2010: p. 332). E acrescenta, reiterando o ponto de vista da neurofilósofa
Patricia Churchland: “Podemos descrever esta educação lenta como um processo
de transferência de parte do controlo consciente para um “server” não-consciente,
e não a cedência do controlo consciente às forças inconscientes que podem
provocar o caos no comportamento humano” (Damásio, 2010: p. 332).
Mais um importante texto de reflexão, meu amigo.
ResponderEliminarÉ verdade que há crianças que nem sempre se comportam da melhor maneira. Mas daí a proibir-se-lhe a entrada nos hotéis...
No entanto já há hotéis que aceitam animais... Em que mundo estamos, afinal?
Um beijo.