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Um conjunto de regras gramaticais,
aliado a um sistema abstracto e arbitrário de signos, utilizados ambos na
concretização inteligível da dinâmica linguística, pode configurar uma qualquer
língua, cuja afinidade e ausência de ambiguidades seja passível de possibilitar
a comunicação entre os falantes de determinada comunidade geográfica.
Sem perder de vista a comunidade
geográfica a que se alude no parágrafo anterior, pensemos agora nas variações a
que pode estar sujeita a língua aí falada, por força das diversidades e
especificidades locais ou regionais, nomeadamente em termos fonéticos e
lexicais; a este propósito, o Latim sugere-nos a palavra “dialectu” - dialecto,
isto é: “linguagem própria de uma região”.
“In illo tempore”, leia-se, desde as
épocas tribais, a diferenciação capaz de provocar divergências na língua falada
numa certa comunidade geográfica, ter-se-á devido à diminuição de contactos com
aquela, e, portanto, à perda de relacionamentos linguísticos de proximidade, a
par, também, das consequentes
interacções operadas com novas tribos mais distantes territorialmente.
Esta dialectização, segundo o linguista André Martinet, poderá inicialmente
fazer escurecer a compreensão dos falantes, até que possa surgir uma nova tribo
que, pela força, venha a impor a sua hegemonia política ou cultural.
Desta maneira, o dialecto do
detentor do poder impôr-se-á, eliminando o até aí vigente ou, pura e
simplesmente, mesclando-se com ele. Mas Martinet recorda que não é a distância que provoca a diferenciação
linguística, mas antes a diminuição e o esfriamento dos contactos. Ora, dizemos
nós, em plena era de desenfreada globalização, por que razão tende a
descaracterizar-se a identidade linguística, nomeadamente ao nível da
ortografia da Língua Portuguesa? Paradoxalmente, devido à insensatez dos vários
acordos ortográficos que, por exemplo, quer a França, quer a Inglaterra têm
rejeitado conceber há já mais de três séculos.
Mas apontemos agora exemplos de
dialectos, ainda com a ajuda de Martinet, tendo por referência o castelhano:
temos, então, o andaluz, o asturiano... e, tendo por referência não o
castelhano, mas o território espanhol da Galiza, é possível escutarmos o galego
que é dialecto do português. Já em território de Portugal (em certos nichos de
Miranda do Douro – distrito de Bragança) é audível o mirandês – dialecto que o
Castelhano influencia.
Refira-se também o crioulo, tendo
ainda em atenção o português, enquanto língua de cultura parcialmente
interiorizada pelos escravos africanos forçados a viajar pela coroa de
Portugal, para povoar e trabalhar nos arquipélagos até então desconhecidos e
inabitados de Cabo Verde e de São Tomé e Príncipe, e em certas áreas
territoriais da Guiné-Bissau. Este linguajar equivale a uma mescla
descaracterizada e mutilada de algo que faz lembrar os dialectos e o patois francês,
como opina Martinet.
Na prática, e em conclusão, para que
“a minha Pátria é (continue a ser) a Língua Portuguesa”, conforme afirmou
Fernando Pessoa, vamos elevar os níveis de frequência e de intimidade de
contactos com os falantes da língua de Camões, nos quatro cantos do mundo e com
os emigrantes que nos visitam no Verão, em reforço da natural convergência e
sem falsear a verdade etimológica, para que o processo de diferenciação
linguística seja gradualmente atenuado. Excitante perspectiva, esta!
"Na prática, e em conclusão, para que “a minha Pátria é (continue a ser) a Língua Portuguesa”, conforme afirmou Fernando Pessoa, vamos elevar os níveis de frequência e de intimidade de contactos com os falantes da língua de Camões, nos quatro cantos do mundo e com os emigrantes que nos visitam no Verão, em reforço da natural convergência e sem falsear a verdade etimológica, para que o processo de diferenciação linguística seja gradualmente atenuado. Excitante perspectiva, esta!"
ResponderEliminarNão posso estar mais de acordo, meu amigo. Gostei de o ler.
Uma boa semana.
Beijos.