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Reservámos
a segunda quinzena do passado mês de Agosto, a par de um conjunto de
actividades de cariz recreativo-desportivo, para reler, entre outros autores, o
nosso genial Eça de Queirós, nomeadamente o volume III – Obras Completas, de
uma das várias edições colocadas à disposição dos amantes da boa literatura. Alves
& C.ª, O Conde D'Abranhos, O Mandarim e, por último, O
Crime do Padre Amaro, são os títulos reunidos neste terceiro volume.
Ler ou reler Eça é sempre
refrescante, divertido, elucidativo, pedagógico, logo, formativo, pelo que nos
deixa a pensar, a reflectir sobre a realidade dos nossos dias, no que diz
respeito à complexa teia das interacções familiares, sociais, políticas e
religiosas, entre outros aspectos, naturalmente presentes nos enredos que este
autor tão bem soube tecer. É que nada mudou, meus caros amigos, entre tudo
quanto se passava nos idos das décadas de 1800 e aquilo que se tem vindo a
verificar nos parcos dezasseis anos deste novo século XXI...
Ou melhor, actualmente, o progresso
e a sua faca de dois gumes – leia-se, as novas tecnologias de informação e
comunicação, principalmente – vão conseguindo potenciar, efectivar e agilizar,
para o bem, entre outros aspectos da questão: o conhecimento do mundo, a
situação das economias, as descobertas da ciência, a interacção profícua dos
homens de Boa-vontade... E, para o mal: , o compadrio, o tráfico de
influências, a corrupção, a concretização de estratégias de guerra... É curioso
como a seguir à palavra guerra associámos, automaticamente, a palavra
audiências! É que estas, no século XIX, não existiam, embora os trabalhadores
fossem, do mesmo modo, formatados a partir do berço, como refere Eça, “pela
força da religião e pelo chicote da polícia”.
Mas, porque de Eça de Queirós se
trata, particularizemos um pouco a temática contida na diegese de duas das suas
obras, quando não a ideologia funesta, repressiva, mórbida e cruel, reflectida
pelos valores da sociedade de então e, diga-nos o leitor em que é que mudou o
enquadramento e a substância sócio-culturais dos dias que correm! Tal como no Primo
Basílio, no âmbito do qual a protagonista Luísa acaba por pagar com a
própria vida um deslize de amor, durante a ausência prolongada e insuportável
do marido, também em O Crime do Padre Amaro, a bela Ameliazinha, de 23
anos, solteira, seduzida pelo Padre Amaro, morre, agonizante, depois de um
parto atribulado, quando constata, no dia seguinte, que o filho lhe foi
subtraído, ainda que desconheça que o nacituro foi assassinado pela ama
(“tecedeira de anjos”) no mesmo dia em que recebeu o pagamento de um ano pelos
serviços de amamentação.
Pois é! A violência doméstica continua em alta e,
tanto mulheres como crianças, continuam a morrer às mãos de
machos-primitivos-actuais... Ah! Mas tínhamos pedido que fosse o leitor a nos
dizer em que é que mudou o enquadramento e a substância sócio-culturais dos
dias que correm!
Reler Eça é sempre um prazer renovado. Mas ficamos com a sensação que, no nosso país as coisas não mudaram muito e às vezes mudaram para pior no que diz respeito aos comportamentos humanos...
ResponderEliminarFoi um prazer lê-lo.
Beijos.
Infelizmente assim é. Um abraço.
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