domingo, 7 de agosto de 2016

RELENDO EÇA DE QUEIRÓS


Imagem do Google


       Reservámos a segunda quinzena do passado mês de Agosto, a par de um conjunto de actividades de cariz recreativo-desportivo, para reler, entre outros autores, o nosso genial Eça de Queirós, nomeadamente o volume III – Obras Completas, de uma das várias edições colocadas à disposição dos amantes da boa literatura. Alves & C.ª, O Conde D'Abranhos, O Mandarim e, por último, O Crime do Padre Amaro, são os títulos reunidos neste terceiro volume.

            Ler ou reler Eça é sempre refrescante, divertido, elucidativo, pedagógico, logo, formativo, pelo que nos deixa a pensar, a reflectir sobre a realidade dos nossos dias, no que diz respeito à complexa teia das interacções familiares, sociais, políticas e religiosas, entre outros aspectos, naturalmente presentes nos enredos que este autor tão bem soube tecer. É que nada mudou, meus caros amigos, entre tudo quanto se passava nos idos das décadas de 1800 e aquilo que se tem vindo a verificar nos parcos dezasseis anos deste novo século XXI...

            Ou melhor, actualmente, o progresso e a sua faca de dois gumes – leia-se, as novas tecnologias de informação e comunicação, principalmente – vão conseguindo potenciar, efectivar e agilizar, para o bem, entre outros aspectos da questão: o conhecimento do mundo, a situação das economias, as descobertas da ciência, a interacção profícua dos homens de Boa-vontade... E, para o mal: , o compadrio, o tráfico de influências, a corrupção, a concretização de estratégias de guerra... É curioso como a seguir à palavra guerra associámos, automaticamente, a palavra audiências! É que estas, no século XIX, não existiam, embora os trabalhadores fossem, do mesmo modo, formatados a partir do berço, como refere Eça, “pela força da religião e pelo chicote da polícia”.
           
            Mas, porque de Eça de Queirós se trata, particularizemos um pouco a temática contida na diegese de duas das suas obras, quando não a ideologia funesta, repressiva, mórbida e cruel, reflectida pelos valores da sociedade de então e, diga-nos o leitor em que é que mudou o enquadramento e a substância sócio-culturais dos dias que correm! Tal como no Primo Basílio, no âmbito do qual a protagonista Luísa acaba por pagar com a própria vida um deslize de amor, durante a ausência prolongada e insuportável do marido, também em O Crime do Padre Amaro, a bela Ameliazinha, de 23 anos, solteira, seduzida pelo Padre Amaro, morre, agonizante, depois de um parto atribulado, quando constata, no dia seguinte, que o filho lhe foi subtraído, ainda que desconheça que o nacituro foi assassinado pela ama (“tecedeira de anjos”) no mesmo dia em que recebeu o pagamento de um ano pelos serviços de amamentação.

       Pois é! A violência doméstica continua em alta e, tanto mulheres como crianças, continuam a morrer às mãos de machos-primitivos-actuais... Ah! Mas tínhamos pedido que fosse o leitor a nos dizer em que é que mudou o enquadramento e a substância sócio-culturais dos dias que correm!

2 comentários:

  1. Reler Eça é sempre um prazer renovado. Mas ficamos com a sensação que, no nosso país as coisas não mudaram muito e às vezes mudaram para pior no que diz respeito aos comportamentos humanos...
    Foi um prazer lê-lo.
    Beijos.

    ResponderEliminar