domingo, 27 de novembro de 2016

A GENUÍNA PUREZA INICIAL

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     A presente crónica irá fluir ao sabor da imanência das ideias, isto é, sem contemplar abrangências que possam transcender o seu próprio objecto de reflexão. Sendo assim, começaremos por apontar a incontestável vocação social e política do ser humano, para recordar que nos encontramos todos “condenados” a fazer parte da teia de intersubjectividade complexa e problemática que caracteriza a vida relacional do Homem.

   E é nesta teia imensa e imbricada, que as novas Tecnologias de Informação e Comunicação potenciam, que os seres humanos se movimentam, são apanhados ou deixam enredar, praticamente desde o berço até à tumba. Mas, ao fazê-lo, vão colorindo ou enegrecendo as suas vidas e as dos outros, através da diversificação do tipo de comportamentos protagonizado, no âmbito da idiossincrasia de cada criatura – empático, narcisista, manipulador, persecutório, altruísta, parasitário, etc..

        Ao contrário dos restantes animais, que são dotados de consciência meramente nuclear e se regem por instintos, a espécie humana – única em todo o planeta – possui, para além da nuclear, também consciência alargada e procura, condicionada pela civilização, domar (ou, tão só) dosear os instintos; disciplinar a satisfação inelutável das necessidades (fome, sede, excretórias, segurança, abrigo, sono); amadurecer e equilibrar a resposta possível a dar à errância dos desejos, sem atropelo da liberdade de todos e de cada um. Dito assim, até parece simples, não acham?! Só que, cada um de nós encerra em si as suas próprias proposições e verdades (Ver, neste blogue, escrito sobre Maslow)...

      Neste ponto, achamos curiosas as ideias defendidas por Wilhelm Reich (1932), na sequência das mudanças políticas, sociais e culturais operadas na União Soviética, depois de 1917. Alicerçado na obra de Engels, “A Origem da Família”, e assente esta no conhecimento da etnologia, e, nas teses de Marx sobre o poder das classes dirigentes, Reich invoca a observação empírica e contextual da paradisíaca vida sexual, sem traumas nem neuroses, dos povos primitivos actuais (caçadores-recolectores) das ilhas Trobriand, na Melanésia, levada a cabo pelo etnólogo inglês Bronislaw Malinowski.

      Na opinião de Reich, toda esta pureza e espontânea naturalidade primordial podia ser implementada, de novo, na sociedade soviética, caso fosse diluída a moral sexual repressiva, como se o cérebro humano, ao contrário do que diz Damásio (2010), não albergasse, de forma relevante, o nosso próprio passado, e muitas vezes o passado da nossa espécie biológica e da nossa cultura.

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