domingo, 4 de dezembro de 2016

AMIZADES E AMIZADES




Imagem do Google


        É ponto assente, que o tipo de relações, que se vão gradualmente esboçando entre crianças de tenra idade, é muitíssimo diferente da qualidade relacional verificada entre adultos. Mas reduzamos o nosso campo de análise ao simples, embora importantíssimo, aspecto da amizade. Conforme temos escrito – outros o afirmaram já –, o homem é um animal social e político, o que vale por dizer que é incapaz de viver isolado, a não ser que tenha, de todo, enlouquecido. Serve-se, portanto, da interacção com os outros para a concretização dos seus projectos de vida; o que é legítimo, de resto, se não forem ignorados os direitos dos outros e a sua dignidade humana, conforme teor da obra “Fundamentação da Metafísica dos Costumes”, de Immanuel Kant (1724-1804) . E é precisamente este estado de coisas, este comportamento íntegro e sério que pode induzir a posterior amizade entre adultos...

            Não acreditamos no inverso, isto é, só porque convivemos e conversamos amiúde, num qualquer espaço circunstancial de lugar onde a rotina nos coloca diariamente (no ginásio, no café, no escritório, nas redes sociais, etc.), passamos ao convencimento de que estamos a construir uma vasta rede de amizades, logo, se for caso disso, até podemos ter negócios com esses “amigos”, pois tudo correrá pelo melhor. Não se iludam!

            Equacionando agora a amizade como sendo um constructo que radica na infância, convirá elucidar sobre o carácter embrionário da relação, tendo em conta o desenvolvimento da personalidade infantil e a observação que a criança vai fazendo do universo adulto familiar. Por isso mesmo é que o jogo vai assumindo características simbólicas tão marcantes, a caminho de aprendizagens concretas. As crianças brincam aos pais e às mães, aos médicos, às casinhas e vão recriando a realidade que as envolve, primeiro em casa, depois na escola, no sentido de uma maturidade alicerçada e de uma mais estruturada consciência social. É nestas andanças que podem acontecer amizades para a vida...

            É isso, estamos a falar de amizades com vida própria e não daquelas que surgem já na adultícia, de geração espontânea, com carácter duvidoso, e de que depois nos lamentamos. A amizade deve crescer como uma árvore de frutos: tem de ser cultivada em terreno propício, estacada, regada, adubada, acarinhada, nunca danificada nem ignorada, para que seja possível, a seu tempo, sentirmos o delicioso sabor dos seus frutos.

            Não tratem, contudo, os pais, de forma sufocante, hiperprotectora, aniquiladora, os seus filhos, muitas vezes por insegurança em si próprios, comprometendo a aprendizagem afectiva dos filhos. Esta só medra através de uma salutar multiplicidade de contactos responsáveis, o que levará as crianças ao desenvolvimento de afectos naturais e sinceros, no âmbito de uma emocionalidade sadia, capaz de iduzir sentimentos fortes e decididos, indispensáveis à construção da verdade e da esperança no futuro.

1 comentário:

  1. Há amizades de infância que duram toda a vida, é certo. Mas também há amizades que se constroem no dia a dia. Não são muitas. mas algumas dão certo...
    Uma boa semana.
    Beijos.

    ResponderEliminar