quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

O TEXTO DESCRITIVO

Existe uma grande diferença, por nós tantas vezes constatada, entre a maneira como os portugueses, na sua grande maioria, infelizmente, ocupam os tempos mortos ou de lazer, e alguns dos povos de certos países europeus, cujo grau civilizacional e curiosidade intelectual saudáveis nos deveriam envergonhar.

Recordem, mormente, o que se passa durante as férias estivais, sempre que a nossa população (os que podem) vegeta ao sol, nas areias quentes das praias do nosso litoral; atentem no tempo que se desperdiça inutilmente, quando se efectua uma ou mais viagens de comboio, avião ou autocarro, ou, até, durante aqueles períodos de descabelada inércia, quando as pessoas se afundam no sofá da sala de jantar, a olhar para o boneco (televisão acesa ou apagada).

Na verdade, muitos dos nossos compatriotas “ocupam” os tempos a que atrás aludimos, protagonizando, indolentemente, uma total pasmaceira, queimando as horas sem nenhum propósito definido, ou, muito pior, “enfardando”, feitos alarves, e bebendo desabridamente, ou desperdiçando as horas de sono grudados à viciante computação internáutica, quando não se deslocam para as “discotocas” (o conceito é nosso), onde se encafuam horas a fio, numa aparente fuga da realidade. ACIMA DE TUDO, NÃO LÊEM!...

E não lêem, caros amigos, porque tal prática, que deve ser induzida desde o berço, requer esforço intelectual, e o português enferma de uma galopante preguiça mental, que lhe tolhe a clarividência e a capacidade de comunicar... Saibam que ler contribui, de forma eficaz, para a constante e imprescindível frescura do raciocínio, porque promove o funcionamento neuronal, evitando, portanto, o seu ancilosamento, isto é, o seu (in)evitável envelhecimento prematuro. ACIMA DE TUDO, LEIAM MUITO! (CONTINUA)

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segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

TORRENTE INFINITA

Desmaiaste suave como um rio
sucumbiste como o sol no horizonte
assim teu rosto se foi naquele Estio
lançando nas trevas minha fronte

Chorei em desespero aquele mar
de noite agarrei-te em mil imagens
como as árvores senti-me vegetar
fiz de memória mil viagens

Fustigaram-te o vento e a tempestade
tentaram afastar-te do teu leito
mas tão puro como a água da verdade
é o amor que sei mora em teu peito

E se Deus me traz enfeitiçado
bebendo a doce água de teus olhos
então quero cumprir este meu fado
lutando contra perigos e abrolhos

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domingo, 23 de fevereiro de 2014

ESTIMULANTES DE ALTO RISCO E ALUCINOGÉNIOS

E é chegado o momento de fazer alusão a algumas das principais drogas que afectam o sistema nervoso central e contribuem para o incremento da actividade mental de forma incrivelmente rápida, mas perigosa. Podemos começar pelas anfetaminas, psicostimulantes capazes de acelerar o indivíduo, quer física quer psiquicamente, iludindo a fadiga natural e impedindo simultaneamente a indução do sono.



Sendo as anfetaminas um estimulante de altíssimo risco, acabam sempre, portanto, por levar o seu utilizador a pagar, para além do elevado preço inicial de aquisição do produto, um outro preço de comprometimento do seu normal estado de saúde, que fica possuído de agressividade repentina, ansiedade, insónia, taquicardia e hipertensão.



Também a cocaína provoca o mesmo tipo de reacções comportamentais nas pessoas que a consomem, sofrendo, assim, alterações das suas maneiras de ser, sentir e agir. Se o consumidor de cocaína não parar a tempo e horas, pode vir a ser alvo de alucinações paranóides, bem como vir a sofrer de problemas circulatórios e cardíacos sérios. Por último, os consumidores renitentes podem vir a sofrer de convulsões, serem sujeitos a situações de coma, e, por fim... a morte.



Mais do que um estimulante, mas não ainda propriamente alucinogénio, é o famigerado e tão popular “ecstasy”. Esta droga tem constituído uma autêntica praga, principalmente entre a juventude galhofeira, viciada na “naite”, sendo consumida a torto e a direito, numa busca irracional, mimética e seguidista de desinibição e euforia induzidas. Resultado: fica alterado o ritmo cardíaco; surgem complicações respiratórias; eleva-se a tensão arterial; despontam comportamentos psicóticos. Também não estão fora de questão as lesões cerebrais irreversíveis ou mesmo a morte prematura.



No âmbito agora dos alucinogénios temos o terrífico LSD, droga altamente perturbadora do funcionamento do sistema nervoso central; esta substância consegue rapidamente disfuncionalizar o cérebro de quem a consome, provocando afecções da própria consciência com alucinações de vários tipos. A título de exemplo, recordem as célebres “trips” de que os “hippies” dos anos de 1960 se não conseguiam furtar (filme “Easy Rider”), apresentando-se despersonalizados ou angustiados ou em pânico, protagonizando mesmo crises de carácter psicótico, no caso da experiência ter dado para o torto.



E fechamos com o haxixe que, como está provado, embota declarada e visivelmente o cérebro, levando à confusão relativamente ao espaço e ao tempo contextuais, à diminuição da capacidade reflexiva, de atenção, de memória e de raciocínio. O uso e abuso desta droga pode perenizar este tipo de limitações, para além de provocar maleitas graves, não só ao nível do aparelho respiratório, cardiovascular, sexual (reprodutivo), mas também nas capacidades e competências intelectuais, profissionais, familiares, sociais, etc., etc., etc....


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sábado, 22 de fevereiro de 2014

TRANSE

Não é partida nem chegada a luz

sem brilho nem fulgor por não querer

ter acesa a chama de se ver

com quem clama o sentido que traduz



ser pra não ser o nada que reduz

no teu peito o coração de suster

verdades de mentiras e só ter

o sal que nas lágrimas me conduz



Não é partida nem chegada em mim

os braços que me estendes pelo vento

se só sinto do seu sopro o tormento



de não sentir a brisa de cetim

da tua pele e sob os teus cabelos

não poder saciar nobres apelos

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quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

SUBSTÂNCIAS TÓXICAS


Sempre que se fala de drogas de impacto realmente problemático, para além do álcool e do tabaco, estas de aceitação legal e social mais ou menos pacífica, pensamos no conjunto daquelas que inibem a actividade mental, no grupo das que estimulam o cérebro, e, por último, no leque das que alteram desordenadamente o funcionamento cerebral, tido e aceite por normal.

Comecemos, então, pelo álcool, cuja ingestão provoca, conforme os indivíduos, alterações comportamentais que podem ser de agressividade ou depressão, de euforia ou delírio, ou mesmo situações de coma. O uso e abuso do álcool pode provocar também, com o tempo, doenças graves como a cirrose hepática, a gastrite ou sérias complicações cardíacas.

Os indivíduos viciados na bebida podem acabar por se transformar em autênticos pesadelos para as famílias respectivas, são susceptíveis de problematizar o seu desempenho profissional e, por fim, entram mesmo num beco sem saída, caso não sejam efectivamente ajudados a tempo.

Já o tabaco, constituído por mais de quatro mil substâncias químicas, tende a provocar dependência muito rapidamente, afectando a saúde pela acção da nicotina que embota o cérebro. Já o monóxido de carbono, resultante da combustão do tabaco, ao diminuir a oxigenação das células, provoca o envelhecimento prematuro, reduzindo substancialmente a qualidade de vida do fumador.

Os riscos mais vulgarmente conhecidos, corridos pelos fumadores inveterados, ligam-se ao cancro do pulmão e da laringe, à bronquite crónica, ao efisema pulmonar, às úlceras gástricas e duodenais e à deficiência circulatória. As grávidas fumadoras violentam brutalmente o próprio filho que geram, podendo este nascer morto, atrofiado, ou contrair doenças terríveis para toda a vida.

Passemos, então, às drogas que inibem a actividade mental, onde se incluem o álcool, os narcóticos e os barbitúricos, tudo substâncias que retiram, a quem as consome, a acuidade mental, o discernimento e a capacidade de acção.

Os narcóticos derivam do ópio e integram a composição química dos analgésicos e xaropes. Os barbitúricos, por sua vez, são indutores do sono e devem ser tomados apenas sob receita e rigorosa vigilância médicas. A heroína é um perigoso opiáceo ilegal que leva à dependência física e psicológica, ao coma e à morte. A cola, conhecida como a “droga dos putos”, produz euforia, descontrolo mental, embriaguez e até a perda de consciência e morte. (CONTINUA)


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terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

ESBOÇO

Por milagre um dia vi

a mais bela das princesas

sonhei loucuras tamanhas

feitas verdades acesas

num reino de mil façanhas

sabes que falo de ti



O teu cabelo reluz

coroa de realeza

são dois lagos teu olhar

dando vida à Natureza

a magia do luar

tens no rosto que seduz



Tua pele é pura seda

acalma tensões e medos

os teus seios são promessas

dissipam quisquer degredos

teu ventre beijo sem pressas

fonte frescura vereda



A tua cintura fina

comove de tanta graça

tua anca é tão gentil

encanta quando perpassa

nem que veja mais de mil

não se apaga da retina



Suspenso estou da loucura

das tuas pernas cruzadas

o cinzel do Criador

depois delas modeladas

não soube nem por favor

conseguir coisa mais pura



Neste esboço que te faço

bem longe da perfeição

perpassa a minha tontura

brilha a minha devoção

muito longe da pintura

tu só Deus nem já Picasso!

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domingo, 16 de fevereiro de 2014

ESCOLA

Chegamos como quem não quer o sonho
e partimos contigo rumo à meta
traçando com ardor a linha recta
que sempre nos livrou do enfadonho

destino não só vulgar mas medonho
daqueles a quem a vida decreta
existência tão pobre e tão discreta
por ser a perdição que suponho

Convosco professores nós lutámos
neste tão longo tempo em que ficámos
bebendo nessas fontes de saber

As primeiras matérias da verdade
preparando o futuro em Liberdade
homens e mulheres que vamos ser

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PASSARINHOS, BORBOLETAS E FLORES (II)

Evidentemente que, se o exemplo não vier de cima, pouco ou nada se pode esperar dos filhos ou dos educandos, no caso da problemática sobre a qual tenho estado a reflectir – a firme e criteriosa educação e formação de menores.

Quantas queixas recordo ter ouvido de pais angustiados, no período reservado ao atendimento de pais e encarregados de educação!: “porque o Marquinho é insuportável e não faz nada do que se lhe diz”; “é que o Daniel chega a virar-se contra a mãe e até lhe oferece porrada”; “o Rui não quer estudar e eu é que não o vou matar por causa disso”; “olhe, senhor professor, que a Cátia Vanessa, em casa, é muito esperta e responde a tudo, não entendo por que razão ela falha na escola?!”...

Enfim, acima de tudo, em todos estes testemunhos confundem-se duas realidades dramáticas que, quer queiramos quer não, se encontram interligadas: a primeira diz respeito a uma certa ou mesmo completa incapacidade de educar e, a segunda, que é consequência da primeira e que com ela se enovela, denota a inconsequência e a irresponsabilidade destes pais, no que toca à necessidade de se estar atento e receptivo para aquilo que se vai passando em casa com os filhos, no sentido de se lhes dar resposta atempada e cabal.

Pior do que tudo isto, e acabo como comecei, são os papás que tudo dão aos meninos sem nunca os responsabilizarem por nada, independentemente do seu merecimento e/ou precisão, como se a vida não passasse de um fantasioso vale verdejante, inundado de sol e repleto de borboletas, flores e passarinhos, sem surpresas, dificuldades ou contingências, sem, aqui e ali, poderem surgir os eventuais labirintos de certos túneis de escolhos, apertados e escuros. Torna-se urgente e fundamental saber preparar as crianças para o futuro que desponta já hoje.

NOTA: sobre esta matéria, publicarei um soneto ainda hoje.


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sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

BRADO

Deixa que de ti brade resoluto
na visão do que foi e te destrói
nenhum destino fútil nos corrói
ensimesmando-me eu em ti meu fruto

Só que eu não sei do facho impoluto
que contigo segurava e se foi
com a força da alma que me dói
pois por ser minha a tua está de luto

Busca então nas asas do vento o Norte
na Natureza a sedução mais forte
por sermos um do outro o Caminho

cujo sol do teu sorriso felino
inunda de celeste ardor divino
o nada das vidas em desalinho

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quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

BORBOLETAS, FLORES E PASSARINHOS

Um dos erros mais graves e comprometedores (mas nem por isso menos frequente), do saudável desenvolvimento das crianças, prende-se com a omissão ou a debilidade passiva dos pais que, muito pelo contrário, deveriam educar os filhos com firmeza e determinação. São raras as famílias que, no âmbito desta problemática, se conseguem furtar àquela preocupação doentia, obsessiva mesmo, de artificializar o percurso de vida dos filhos.

Nesta medida, adoptam comportamentos deploráveis de hiperprotecção, assumindo, na prática, posturas parentais exageradamente ridículas, debilitantes, contraproducentes, enfim, tendentes a deformar carácteres, a desvirtuar personalidades, a distorcer capacidades, a enfraquecer habilitações, a rarefazer competências.

Os meninos, por sua vez, na sua infinita manhosice, inicialmente mesclada de inocente ingenuidade, para logo se ir alicerçando em sólido viveiro de “vícios” eivados de fortes sinais de egoísmo, de despotismo, de caprichosas tendências ditatoriais, são, afinal, aquilo em que os paizinhos insensatamente os transformam.

Reparem: quando se trata da satisfação dos caprichos infantis, sem qualquer tipo de critério, se por um lado existem casais onde um dos cônjuges exerce um maior e mais “musculado” ascendente sobre o outro, independentemente do sexo em causa, o que é péssimo para a criança, por outro lado, há também progenitores que, quer de comum acordo quer à compita, arrastam as criancinhas para a lamechice, fomentando e projectando nos infantes representações absurdas de vedetismo familiar, de heroicidade meramente caseira, de doméstica e pública plublicitação histérica da esperteza saloia dos rebentos, como se fosse qualquer coisa do outro mundo o natural desabrochar da psico-motricidade de uma qualquer criança.

Evidentemente que é compreensível a alegria saudável dos pais, sempre que se registam progressos no desenvolvimento físico e mental dos filhos; não é isso que se questiona. O que se lamenta é aquela incapacidade de definir limites para o possível e para o impossível; o que se deplora é a ausência de sageza para delimitar fronteiras entre o permitido e o não permitido; o que mete dó é a falta de força para estabelecer normas de conduta viáveis; o que é triste é a inércia que obsta à aplicação das indispensáveis sanções sempre que a criança pisa o risco. Educar é amar intransigentemente.

Os pais devem possuir a necessária força anímica para acompanhar os filhos à escola, com a firme determinação de os acompanhar à escola, isto é, visando dotá-los de defesas a todos os níveis, caso se encontrassem, também eles, dotados daquela predisposição mental, capaz de potenciar um efectivo acompanhamento que em muito ultrapassasse a simples presença física de quem anseia por despejar o “estorvo”.

Qualquer progenitor deve se sentir preparado para dialogar com os filhos ao nível dos códigos de compreensão destes, para assim ser também possível permanecer ao seu lado, ao fim de cada tarde, no âmbito de um curto espaço temporal de reflexão, aquando da preparação da mochila do dia seguinte. Ir à escola não é ir ao cinema, à discoteca ou ao aniversário do amigo... É fundamental a criação de condições tendentes a fomentar o desenvolvimento do sentido da responsabilidade, bem como a interiorização de hábitos de trabalho. (CONTINUA)


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sábado, 8 de fevereiro de 2014

LUGAR AO SONHO (II)

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Na continuação da reflexão que iniciámos sob o título de “LUGAR AO SONHO”, a propósito do conceito de MARAVILHOSO, apresentado por Pierre Mabille, interrogo: terão todos os educadores as mesmas e devidas oportunidades, quer ao nível da sua formação inicial, quer no que diz respeito à sua formação contínua, ou até mesmo no que concerne à tipificação arquitectónica dos edifícios e das salas destinadas à Educação de Infância, quando se trata de leccionar esses seres minúsculos, sedentes de amor, descoberta, conhecimento, fantasia, aventura, maravilha e equilibrada harmonia emocional?

Que de outra maneira, então, será possível dar lugar ao sonho, preparar o terreno mais adequado, para que as nossas crianças consigam sentir o doce e suave embalo das histórias tradicionais, contadas (não lidas) com entusiasmo, entrega e empenho, numa atitude eivada daquele poder que só a expressividade mímica e gestual lhes confere?

Claro, pujantes de ritmo, de cor, de musicalidade e mágicas varinhas de condão, sempre prontas a castigar os maus (cada vez os há mais e mais terríveis) e a premiar os bons, incansáveis na luta pelo bem e pelo sucesso e remissão dos fracos, indefesos e oprimidos.

Antes de recomendar vivamente que se verifique, com carácter de urgência, de assiduidade e versatilidade, a renovação, em cada semana que passa, de uma espécie de “HORA DO CONTO”, nas salas dos jardins de infância e nas do 1.º Ciclo do Ensino Básico, quero lembrar apenas a dura, nua e crua realidade que vai fustigando as crianças em idades cada vez mais tenras, representada também, e na sequência de outros factores a que aludi em escritos anteriores, pela diluição dessa insubstituível instituição que dava pelo nome de Menino Jesus e/ou Pai Natal.

A sociedade de consumo não satisfeita com o aproveitamento exaustivo e despudorado que tem vindo a fazer dessa duas figuras do nosso imaginário infantil, pretende agora, cada vez mais, pura e simplesmente, fazer deslocar para os paizinhos a autoria e o protagonismo do acto de tudo oferecerem aos filhos, dado que, desta maneira, qualquer dia e qualquer hora servem para que se consuma. Quanta subtileza, não?!

Mas que “seca” que era ter de esperar pelo Natal ou pelo dia de aniversário! Bom, entretanto até se inventou (importou, melhor dizendo) o dia das bruxas – ou será a noite?! E o Carnaval de Abril ?!!!... Um segundo decalque do carnaval carioca, que ocorre em algumas regiões de Portugal, depois do Carne Vale calendarizado. Inaudito! E insultuoso, aquele, porque desvia as atenções das importantes comemorações do dia da Revolução de 25 de Abril de 1974.

Com tanta alienação inconsequente e balofa, não será mesmo possível sonhar saudavelmente? Não obstante tudo, estou convencido que sim. Seja como for, está nas mãos dos educadores e dos professores, na medida do possível, fazê-lo, por muito que nos custe ou por mais que nos tentem impedir, logo, por mais difícil que tal nos possa parecer.




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quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

LUGAR AO SONHO


No dizer de Pierre Mabille (1904-1952), “o Maravilhoso exprime a necessidade de ultrapassar os limites impostos pela nossa estrutura, de atingir uma maior beleza, um maior poder, uma maior duração. O Maravilhoso visa superar as barreiras do espaço e do tempo; pretende destruir todos os obstáculos. Ele é a luta da Liberdade e é contra tudo o que a reduz, destrói ou mutila”.

“(...) O Maravilhoso aproveita-se dos pontos de fraqueza da inteligência organizadora, como o fogo de um vulcão se insinua entre as falhas da rocha; ele ilumina os celeiros da infância, é a estranha lucidez do delírio, é a luz do sonho, a claridade verde da paixão...”.

Depois de analisada, com a devida atenção, esta pequena mas deliciosa explanação de Pierre Mabille, relativamente ao conceito de Maravilhoso, sou levado a concluir o quão arredados temos andado todos das necessidades mais prementes das crianças, neste particular, devido à falta de informação inerente a este tipo de matérias, o que redunda, na prática, num tremendo vazio relacional, ao nível de uma certa contextualização que deveria, na prática lectiva diária, consubstanciar um enquadramento (ensino/aprendizagem) de eleição.

Já lá vai o tempo em que as crianças – como se passou comigo – cresciam na doce envolvência das famílias alargadas, isto é, aquelas que incluíam os avós e/ou os tios, quando tal se verificava, claro, e podiam usufruir, conforme referi já num escrito anterior, de um sem número de situações nas quais, a talho de foice, os avós, sempre adorados e respeitados, lhes iam contando todo o tipo de histórias, de cantilenas e lenga-lengas, de contos, enfim... Certo dia, a avó Albina, perante a insaciável curiosidade dos netos, já estafada, disparou de mansinho: “tenho um saco de cantigas / e mais uma taleigada / mas se hoje as canto todas / amanhã não canto nada”.

Que resta hoje às crianças, na prática, que lhes permita encetar a fabulosa, apaziguadora e edificante viagem pela aventura do sonho, nas asas mágicas do maravilhoso, rumo ao incrível universo do seu próprio imaginário?! Que ponte conceptual estará o actual sistema educativo disposto a colocar ao serviço dos meninos e das meninas deste país, no seio do mais legítimo contexto de sala de aula, a partir das condições que urge criar, no sentido de derrubar as nefandas barreiras existenciais que se deparam ao normal desenvolvimento de todas e de cada uma das crianças que, com toda a naturalidade, demandam o ensino dito pré-primário?! (CONTINUA)

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domingo, 2 de fevereiro de 2014

A PSICOLOGIA PEDAGÓGICA (II)

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Avançando mais ainda, a caminho da conclusão, na reflexão iniciada há cerca de oito dias sobre a temática em epígrafe, direi que, tanto pelo seu objecto como pela sua intenção, PSICOLOGIA e PEDAGOGIA são distintas, segundo confirma A. Fischer, o que, do ponto de vista científico, constitui uma visão do problema em moldes bem mais realistas e clarividentes. Ainda assim, não deixa A. Fischer de verificar uma estreita ligação entre as duas ciências, fundamentalmente no que diz respeito à praxis pedagógica.

No âmbito da acção educativo-didáctica, em contexto próprio, preciso, está sempre presente, ainda que de forma larvar, a necessária componente Psicológica, isto é, a concepção do educando concreto, a um tempo, sob o ponto de vista da sua própria condição psíquica, verificada na ocasião, e (d)a situação concretamente vivida. Tendo em linha de conta, também, a Pedagogia como ciência, enquanto vista como teoria da Educação, não podemos nem devemos afastar de si a Psicologia, pelo que ambas se encontram justapostas, existindo “conexione”.

Fischer acredita que essa ligação é demonstrada pela própria História da Pedagogia. Desta maneira, a História da Pedagogia é, por si só, o reflexo da evolução das nossas perspectivas psicológicas, uma vez que a substância do culto de uma qualquer época não radica somente nas correntes psicológicas ou religiosas, nas forças sociais ou políticas, mas também na subtileza das correntes mais profundas da experiência e do conhecimento psicológicos crescentes.

Para Fischer, no entanto, a Psicologia não apoia cientificamente a Pedagogia, embora considere, para todos os efeitos, haver pontos de contacto entre ambas, e que resultam de uma certa parcialidade de identidade entre os objectos de uma e de outra, tendo em conta que as reflexões pedagógicas só são possíveis a partir do conhecimento psicológico e os factos pedagógicos são susceptíveis, merecendo uma interpretação psicológica.

A. Fischer sugere, no seguimento do seu raciocínio reflexivo, passe a redundância, a necessidade de uma PSICOLOGIA PEDAGÓGICA como disciplina específica, cujo objecto será a investigação científica dos aspectos psicológicos da Educação.