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As coisas são como são, sempre, e não como a nossa visão subjectiva as
representa na nossa mente e as faz veicular aos outros, distorcendo o tal ponto
acrescentado de quem conta um conto. Pois bem, no âmbito da aprendizagem, e,
para que tudo possa funcionar a contento com cada um dos estudantes, importa a
observância de condições mínimas essenciais, ao nível da psico-motricidade, da
percepção das "portadas sensoriais" (Damásio, 2010: pp. 122/246); do esquema corporal, a saber: lateralidade,
orientação espacial, orientação temporal; acuidade auditiva, vocabulário e
facilidade de expressão; memória e motivação intelectual, “sem perda da
experiência natural”, como afirmou Ludwig Binswanger (1871-1976).
É claro que, por
vezes, nem tudo corre da melhor maneira, e, os objectivos pretendidos não são
plenamente visados, embora se espere que o docente tudo resolva e ultrapasse. Acontece, porém, que o surgimento de
condicionalismos e entraves de cariz neuro-pedagógico colocam o professor num
beco sem saída, devido à sua difícil ou mesmo impossível abordagem.
Por exemplo: é
imprescindível que o aluno goze de um perfeito sentido da visão (capacidade
óptica) para a aprendizagem da leitura, da escrita, do cálculo mental e das
situações problemáticas, já que uma visão deficiente ou deficitária pode
impedir a cabal interiorização das letras, dos sinais de pontuação e de todo o
código semântico e simbólico, que possibilita a leitura correcta e
significativa de um texto. Mas há mais: podem mesmo ocorrer disfuncionalidades
ao nível da dislexia e da disortografia, por força de uma incorrecta percepção
visual.
Outro exemplo,
considerando agora o esquema corporal: Henri
Wallon (1879-1962) refere-se-lhe
assim: “representação relativamente global, científica e diferenciada que a
criança tem do seu próprio corpo” (1968), dando-nos a perceber a maneira
como se vai construindo a personalidade infantil. Uma criança perfeitamente
integrada face ao seu próprio corpo e respectivos membros, saberá sempre
situar-se perante os vários objectos à sua volta, em relação às outras pessoas
e, até, conseguirá o registo correcto dos factos ocorridos relativamente à sua
pessoa e, ainda, no âmbito da relativização dos factos em si, entre si,
enquanto tais. Isto é, se se encontra intacta a faculdade de diferenciação e de
constituição correlativa de si e dos outros. Um esquema corporal bem definido e
estruturado dá à criança uma consciência plena do seu eu e do espaço onde se
move (continuidade e temporalidade).
Com o passar do tempo,
processa-se o normal desenvolvimento de qualquer criança saudável e, enquanto
isso, um dos hemisférios cerebrais irá determinar a chamada dominância lateral,
ou seja, um deles impor-se-á mais forte, mais preciso e ágil, em detrimento do
seu oponível. Se for o direito, determinará um esquerdino; se for o esquerdo, o
infante será dextra. A criança não deverá ser contrariada nunca nesta sua
naturalíssima forma de crescimento.
Sempre que a lateralização se apresentar indefinida ou cruzada, os
problemas, aí sim, agravam-se, sendo melhor consultar o clínico competente para
o efeito. Evidentemente que daria imenso jeito a existência de equipas
multidisciplinares (médico incluído) nos nossos tão descaracterizados e
massivos agrupamentos escolares...