sexta-feira, 4 de setembro de 2015

SENSIBILIDADE E COMPETÊNCIA RELACIONAL

   
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    Logo após o desfecho catastrófico da Segunda Grande Guerra Mundial (1939-1945), que viria a pôr fim às hostilidades, os países envolvidos trataram de olhar em frente e dedicaram-se à reconstrução: tratava-se agora de renascer das cinzas. Para o efeito, só à Alemanha Federal foi concedido 70% do Plano Marshall. Sopravam, finalmente, novos ventos na Europa. Portugal recebeu também uma indemnização de guerra no valor de 51,3 milhões de dólares. Todo este clima de renovação e esperança propiciou o chamado “baby-boom”, pelo menos nos países do bloco Ocidental. Mas as crianças teriam agora de ser olhadas e educadas a partir de uma outra perspectiva.

            Exactamente, uma nova consciência surgiria, alicerçada na importância da educação dos afectos, logo da sensibilidade e das competências relacionais, estruturadas de forma a propiciar à criança o usufruto optimizado das suas capacidades físicas e intelectuais. Conforme temos referido, são os problemas afectivos com origem na família que têm determinado as perturbações comportamentais e a inadaptação à escola, a que se junta o insucesso estudantil; nascendo o novo ser da aliança mais imbricada e complexa que é possível dois seres humanos protagonizar, repleta da mais íntima sensibilidade física e psicológica, terá aquela de percorrer um longo e árduo caminho elaborado pelas mais ou menos amadurecidas acções e reacções afectivas dos progenitores.

            A relação conjugal, a que atrás aludimos, nem sempre corre bem, devido à influência dos fantasmas inconscientes dos adultos, quando estes trocam as voltas à própria sensibilidade consciente; quantas mães não “sufocam” os filhos através de cuidados obsessivos, no fundo, a camuflar uma agressividade irrepremível e doentia? Quantos pais não exercem sobre os rebentos um autoritarismo tristemente balofo, na tentativa inconsciente de compensar a ansiedade e a insegurança de si mesmos? Quantas crianças não desobedecem, teimam ou fazem birras, apenas para mendigar para si alguma atenção e ternura? Claro, a sensibilidade inconsciente é sempre mais forte e exigente do que a consciente, porque se encontra à mercê dos instintos primários. Georges Mauco (1899-1988), considera que “essa violência instintual se mantém enquanto não tiver sofrido, por intermédio da relação com o outro e pela mediação da palavra, o freio da realidade exterior” (Mauco, 1967: p. 25).

            Pelo que fica dito, quer a sensibilidade, quer a competência relacional necessitam de terreno propício ao seu desenvolvimento, portanto, em casa, no âmbito da triangulação familiar afectiva, primeiro; depois, na escola, no seio dos meandros do sistema educativo, nem sempre conformes às necessidades de sucesso pessoal, intelectual e social das crianças.


             Refira-se, a talho de foice, o que ocorreu no ano de 2007, em termos regressivos face à consciência do pós-guerra, isto é a grosseira substituição de um promissor mas inacabado (muitos dos pontos fulcrais estavam ainda por regulamentar) “Estatuto Docente” - (Decreto-Lei n.º 139-A/90), por um novo e intragável documento ainda em vigor (Decreto-Lei n.º 15/2007 de 19/01). Reforçava-se aqui a descaracterização e o desgaste rápido da classe docente; e impunha-se, paralelamente, um rol de exigências absurdas: mais horas de trabalho; tarefas administrativas exaustivas e supérfluas; interdição de opinar em relação ao perfil psicológico dos alunos; mais, o docente tem sempre de descortinar soluções para os défices de aprendizagem das crianças, como se estas tivessem origem numa qualquer indústria de produção em série, pautada pelo estereótipo do pronto-a-parir.

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