Logo
após o desfecho catastrófico da Segunda Grande Guerra Mundial
(1939-1945), que viria a pôr fim às hostilidades, os países envolvidos trataram
de olhar em frente e dedicaram-se à reconstrução: tratava-se agora de renascer
das cinzas. Para o efeito, só à Alemanha Federal foi concedido 70% do Plano
Marshall. Sopravam, finalmente, novos ventos na Europa. Portugal recebeu
também uma indemnização de guerra no valor de 51,3 milhões de dólares. Todo
este clima de renovação e esperança propiciou o chamado “baby-boom”,
pelo menos nos países do bloco Ocidental. Mas as crianças teriam agora de ser
olhadas e educadas a partir de uma outra perspectiva.
Exactamente, uma nova consciência
surgiria, alicerçada na importância da educação dos afectos, logo da
sensibilidade e das competências relacionais, estruturadas de forma a propiciar
à criança o usufruto optimizado das suas capacidades físicas e intelectuais.
Conforme temos referido, são os problemas afectivos com origem na família que
têm determinado as perturbações comportamentais e a inadaptação à escola, a que
se junta o insucesso estudantil; nascendo o novo ser da aliança mais imbricada
e complexa que é possível dois seres humanos protagonizar, repleta da mais
íntima sensibilidade física e psicológica, terá aquela de percorrer um longo e
árduo caminho elaborado pelas mais ou menos amadurecidas acções e reacções
afectivas dos progenitores.
A relação conjugal, a que atrás
aludimos, nem sempre corre bem, devido à influência dos fantasmas inconscientes
dos adultos, quando estes trocam as voltas à própria sensibilidade consciente;
quantas mães não “sufocam” os filhos através de cuidados obsessivos, no fundo,
a camuflar uma agressividade irrepremível e doentia? Quantos pais não exercem
sobre os rebentos um autoritarismo tristemente balofo, na tentativa
inconsciente de compensar a ansiedade e a insegurança de si mesmos? Quantas
crianças não desobedecem, teimam ou fazem birras, apenas para mendigar para si
alguma atenção e ternura? Claro, a sensibilidade inconsciente é sempre mais
forte e exigente do que a consciente, porque se encontra à mercê dos instintos
primários. Georges Mauco (1899-1988), considera que “essa violência
instintual se mantém enquanto não tiver sofrido, por intermédio da relação com
o outro e pela mediação da palavra, o freio da realidade exterior” (Mauco,
1967: p. 25).
Pelo que fica dito, quer a
sensibilidade, quer a competência relacional necessitam de terreno propício ao
seu desenvolvimento, portanto, em casa, no âmbito da triangulação familiar
afectiva, primeiro; depois, na escola, no seio dos meandros do sistema
educativo, nem sempre conformes às necessidades de sucesso pessoal, intelectual
e social das crianças.
Refira-se, a talho de foice, o que ocorreu no
ano de 2007, em termos regressivos face à consciência do pós-guerra, isto é a
grosseira substituição de um promissor mas inacabado (muitos dos pontos
fulcrais estavam ainda por regulamentar) “Estatuto Docente” -
(Decreto-Lei n.º 139-A/90), por um novo e intragável documento ainda em
vigor (Decreto-Lei n.º 15/2007 de 19/01). Reforçava-se aqui a descaracterização e o desgaste rápido da classe
docente; e impunha-se, paralelamente, um rol de exigências absurdas: mais horas
de trabalho; tarefas administrativas exaustivas e supérfluas; interdição de
opinar em relação ao perfil psicológico dos alunos; mais, o docente tem sempre
de descortinar soluções para os défices de aprendizagem das crianças, como se
estas tivessem origem numa qualquer indústria de produção em série, pautada
pelo estereótipo do pronto-a-parir.
Sem comentários:
Enviar um comentário