Na
comemoração dos noventa e seis anos (14/09) deste autor de inúmeras realizações
ao longo da sua vida, ficam aqui as nossas felicitações na letra de um seu escrito,
com mais de vinte anos, seguramente. Nesta conformidade, passamos a recordar as
suas “VELHAS MEMÓRIAS ESCOLARES”:
“Ao ler, agora, a primeira obra de Leão
Tolstoi, “INFÂNCIA”, ocorreram-me, espontaneamente, passos da minha
própria infância, na minha aldeia natal, já lá vão sessenta anos.
Pardilhó, no concelho de Estarreja,
já tinha emigrantes na América, França e Brasil; outros imigravam, sobretudo,
para a região de Lisboa e de Setúbal; os que permaneciam fiéis ao torrão natal
dedicavam-se à construção civil e à naval; mas havia os anfíbios: cultivavam a
agricultura e lavravam a ria. A igreja paroquial era, principalmente, nos dias
festivos, a casa comum. Mas a primeira missa, a missa da alva, celebrava-a o
Senhor Padre Joaquim, na capela da Senhora dos Remédios.
Estradas empedradas a macadame, só a
que ligava Avanca à Murtosa e a que vinha da sede do concelho.
Escolas, havia várias: na Rua, a da
D.ª Luciana (mais tarde também a do Sr. Reis); na Igreja, a Escola das
Senhoras; e em edifício pertencente ao Sr. Ramos – as escolas dos Senhores
Godinho, Cirne e Pitarma.
A nível pré-primário, as “Mestras”,
obreiras humildes, esquecidas, a quem tantas gerações de pardilhoenses devem
tanta gratidão.
Havia as mestras do Corgo, a mestra
Rilha e as mestras do Outeiro, se bem me lembro.
Às mestras do Outeiro, que me
ensinaram as primeiras letras e as primeiras orações, aqui deixo a minha
saudosa recordação.
Lembro a mestra Emília, asseada,
bonita, de sorriso angélico; a mestra Luz, organista, depois, da igreja
paroquial; e a mestra Ana, disciplinadora, sempre atenta às traquinices das
meninas e dos meninos, pronta a manejar a cana, sua fiel companheira. Mas não
me recordo que tenha magoado alguém.
Rigorosa no ensino do Catecismo, descrevia, com
pormenores de artista plástica, o inferno mitológico: as ígneas labaredas
alterosas, o diabo ornado de cornos e de cauda, manejando um tridente com que
atiçava o fogo sulfuroso por toda a eternidade. Descrição dantesca, mesmo na
ausência do famoso Cérbero. Mas compensava a visão terrífica, pondo-nos a
passear nos maravilhosos e babilónicos jardins do Paraíso, com anjos de
rubicundas faces, gozando todas as delícias”.
Imagem (1) do Google |
Ah! Já enviei os parabéns mas reenvio de novo . Pai assim, merece!
ResponderEliminarQuerido Zé
ResponderEliminarGostei de recordar o texto e de ver a Matriz pardilhoense.
O nosso pai sempre escreveu muito bem.
Um beijinho
Mana