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Se
tivermos em linha de conta determinado estímulo de aprendizagem, perante
crianças como as que pertencem ao conjunto, mais numeroso do que seria de
supor, daquelas que enfermam de hiperactividade comprovada, verificaremos
manifestações de forte ansiedade e impulsividade que afectam a percepção e a
concentração, levando-as a ter grandes dificuldades em seleccionar o atrás
referido estímulo, durante longos períodos de tempo.
Não sendo, embora, tirados a papel
químico os vários comportamentos e reacções das crianças em presença, ao longo
de uma aula ou quando submetidas aos diferentes testes, como é óbvio, podemos
observar, por vezes, a tendência para falar muito alto, por manifesta
indisciplina (descontrolo) vocal; forte agitação motora e excitação, tipo
“pilha de nervos”, o que impede a correcta postura corporal mais conveniente
para que o trabalho possa decorrer normalmente, logo incorrendo nos óbices
inerentes a um quadro muito mais lato de hiperactividade onde pode predominar o
défice de atenção, a movimentação electrizante ou a impaciência.
Nesta conformidade, recomenda-se o
acompanhamento individualizado, para que as tarefas escolares propostas à
turma, em geral, ou ao aluno, em particular, possam ser processadas; temos tido
o hábito de, desde o início da nossa experiência docente, aconselhar os pais e
encarregados de educação a submeterem os filhos nestas condições a uma
avaliação neurológica, para que possam ser despistados eventuais danos na
estrutura e funcionamento neurológicos; também, dispondo ou não, o agrupamento,
de serviços de Pedopsiquiatria (onde é que há disso, em Portugal?!), devem ser
envidados todos os esforços, no sentido destas crianças poderem ser submetidas
a exames médicos rigorosos que lhes possam minimizar problemas ligados à
reflexibilidade e controlo do corpo, fazendo diminuir a agitação motora,
através de medicação apropriada.
No que toca à Figura Complexa de
Rey, na generalidade, estas crianças apresentam capacidades bastante reduzidas
para copiar os dados percepcionados; apresentam, portanto, baixa maturidade
perceptiva na tarefa de cópia; revelam não ter noção do conjunto do estímulo
perceptivo que observam, o que se traduz nas dificuldades de integração
espaço-visual, pelo que devem ser estimuladas, nesta área, com exercícios de
desenho livre e desenho gráfico. Também a memória visual de curto prazo é
afectada, o que leva estas crianças a distorcer alguns dos elementos que foram
objecto de cópia. Torna-se fundamental o exercício estimulante da cópia,
visando acicatar a memória respectiva de trabalho. Por último, mas não menos
importante (“the last, but not the least”), verificam-se inúmeros e repetidos
enganos na produção de grafias (disgrafias) ou incapacitação para a escrita e
para o desenho, também. Só mesmo o acompanhamento individualizado pode garantir
a estas crianças o treino no sentido mais correcto.
E eis que chegamos a uma outra área
fundamentalmente indispensável no âmbito da aquisição das competências
essenciais a qualquer criança que demanda o 1.º Ciclo do Ensino Básico: a
leitura. É doloroso verificar-se o atraso de que enfermam estes alunos, ainda
que manifestamente inteligentes e adoráveis. A leitura inicia-se mais ou menos
tardiamente (pode exigir dois anos de frequência escolar), e, ainda assim, ser
apenas hesitante, ou seja, no estádio da construção silábica, com dificuldade
de identificação de algumas consoantes que facilmente trocam por outras,
surgindo lentamente a leitura palavra a palavra (simples). Evidentemente que a
velocidade de leitura é reduzida, até porque a consciência fonológica só agora
começa a tomar forma.
Escusado será dizer que o grau de
compreensão da leitura é, ainda, neste estádio, inexistente, porque compreendem
apenas as palavras se as mesmas forem “sacadas” com a ajuda exploratória do
respectivo interlocutor; nesta conformidade, as crianças em apreço não
conseguem perceber a mensagem contida na frase, nem tão pouco são capazes de
interiorizar e abarcar matérias como as que o programa, por exemplo, da área do
Estudo do Meio, exige no 2.º ano de escolaridade. Aqui, como é que se
estruturam as questões a colocar a estas crianças e se consegue incitar o
processo de procura de informação, considerando que estas crianças são
ignoradas pelos responsáveis primeiros pela Educação, que para as mesmas não
indigitam especialistas devidamente preparados para o efeito… Não aparece
ninguém!!!
Normalmente, tentamos que leiam
bastante, na medida do possível e fazemo-las ouvir ler, todos os dias, num
crescendo deste tipo de actividades, procurando não descurar os colegas que
acompanham as tarefas diárias sem problemas de maior.
Evidentemente que quem tem
dificuldades deste tipo no que à leitura diz respeito, revela, necessariamente,
também, profundas dificuldades ao nível do processo da escrita, dado que, como
facilmente se depreende, vão prevalecendo as já atrás aludidas trocas de letras
por deficiente identificação das mesmas, leitura errada de ditongos e,
praticamente sempre, dificuldade na consolidação da identificação dos dígrafos
(“ch”, “lh” e “nh”).
Tratando-se
de ditados, surgem amiúde os erros (alguns escabrosos), as omissões de letras,
a ausência de palavras, o desmembramento de certas letras que
“inexplicavelmente” abandonam as palavras a que pertencem, e, por vezes,
transviam o sentido do próprio texto, mesmo com o interlocutor ao lado. Nalguns
casos é a própria memória sensorial que é insignificante, exigindo o devido
estímulo, procurando-se assim uma certa qualidade de descriminação sonora do
estímulo audível (que julgamos nós ter sido escutado).