quarta-feira, 15 de junho de 2016

SOBRE A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA



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         As relações humanas têm vindo a encontrar no chão fértil do deixa-correr, da pretensa liberdade de acção das criaturas, da disfuncional animalidade primitiva dos comportamentos que vão caracterizando o quotidiano, o terreno mais propício à libertinagem que distorce as consciências e inviabiliza a dignidade e o respeito que devemos uns aos outros. Urge arrepiar caminho. Este raciocínio surge na sequência da mensagem de que lhes tencionávamos dar parte, relativamente ao tipo de relações afectivas que ligam alguns homens e mulheres, uma vez que a qualidade das mesmas, segundo tem vindo a lume, reveste, teimosamente, aspectos perfeitamente doentios, porque eivados de violência gratuita, mesquinha, redutora; que acaba por estiolar o viço do amor; que aniquila, muitas vezes, um último capital de esperança colocada no banco dos afectos onde apenas um só elemento do par desavindo investe; que faz desabar, por completo, todo um edifício emocional de equilíbrio e usufruto, inicialmente alicerçado a partir do betão da confiança, da compreensão e da doce cumplicidade de quem se ama e pretende comungar de uma vida em uníssono, partilhando alegrias e tristezas, sucessos e contrariedades, objectivos ponderados e renúncias conscientes.

            Claro que uma relação a dois só pode funcionar, se for posto de lado o egoísmo de um, ou de ambos; evidentemente que um qualquer casal, quer tenha institucionalizado a sua união através do sacramento do matrimónio, quer tenha selado o seu compromisso por meio do registo civil, quer ainda se mantenha ligado no âmbito da união de facto, tem de trabalhar todos os dias na direcção dos seus interesses comuns, ou seja, não perdendo de vista a importância da satisfação das necessidades plausíveis da família e do bem estar dos filhos, caso tenham optado pela sua concepção. Pessoalmente consideramos os filhos uma benção, um milagre, a perpetuação da vida do casal, ainda que para lá da sua morte material ou dual, e de cada um dos elementos que lhes dá o ser.

            Paralelamente, importa que se aposte incondicionalmente no diálogo; conversar, conversar sempre, diariamente, sem ironia, sem rancor, esclarecendo dúvidas, dissipando incertezas, cimentando a confiança, sem receios nem medos. É terrível dar ouvidos a terceiros, levar em conta denúncias anónimas, alimentar suspeições em silêncio. É que a partir daqui a imaginação acaba por fazer o resto, precipitando o princípio do fim, através de atitudes que começam por ser ofensivas, por comportamentos que entretanto vão sendo agressivos,  por gestos que violam a integridade física do parceiro, descambando em reforçada violência. Irracionalidade própria das bestas... Mas esta problemática extrapola o contexto meramente passional.

            Tem a ver também com a falta de recursos económicos das famílias. Penosa realidade em alta, esta. Casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão. Surgem as acusações, os complexos de culpa, as perseguições mentais, a crueldade, o vazio afectivo; está presente, muitas vezes, a avassaladora dependência do álcool ou de outras drogas, para mascarar o drama; uma vez mais a irracionalidade própria das... pessoas profundamente infelizes e perdidas.

            Nos jovens, então, julgamos nós, a agressividade embrionária que lhes vai tolhendo já o porte, o perfil e a atitude, prende-se com os climas mais ou menos densos, mais ou menos viciados, mais ou menos virulentos que os envolvem a partir de idades cada vez mais precoces. Não tem havido o cuidado indispensável em preservar as crianças, os adolescentes e os jovens, de todo o tipo de violência gratuita que actualmente nos é servido em doses industriais, logo a partir de casa, por omissão ou protagonismo quezilento dos pais, quer pelo desleixo tutelar opcional a que tem estado votada a escola, quer ainda pelo apocalipse programático que as televisões esparramam incansavelmente nas cabecinhas da nossa malta... Principalmente!


Nota: À sombra das costas largas da crise externa, vamos também assistindo à trágica dimensão da nossa crise interna... Inaudito subterfúgio, aquele! Surpreendente e imerecida punição, esta! Estaremos, afinal, perante uma nova cambiante de “violência doméstica”, à escala nacional?!

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