domingo, 12 de junho de 2016

PEDAGOGIAS

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       Quando se fala em Pedagogia, correntes pedagógicas, pedagogos ou conteúdos pedagógicos, pensamos que, por mera questão de prudência e sensatez, “in medio virtus”, isto é, a virtude está no meio, ou seja, não devemos incorrer em extremismos nem exageros, como acontece, por um lado, com as pedagogias não-directivas e, por outro lado, com o autoritarismo pedagógico. E nós tivemos ocasião de testemunhar, em várias ocasiões, ambas as modalidades e percepcionar os seus nefastos efeitos.

            O filósofo grego Sócrates (   -399 AC) continua ainda hoje a ser uma espécie de modelo simbólico, arquetípico dos pedagogos – ainda que se encare a mescla resultante do conceito platónico (Platão -    -   ) e junguiano (Jung - 1875-1961) do termo. Basta que recordemos a maiêutica – Sócrates ensinou-nos a trabalhar cada um dos discípulos, de forma a sermos capazes de agarrar o potencial de conhecimento que em si encerra. Não deixa, no entanto, de ser redutor, porque se fica por aí, não dando oportunidade de participação ao outro, não o deixando falar, uma vez que não deixa de falar; permanece na sua verdade, sem cuidar de saber da verdade do discípulo.

            Na célebre obra de Rousseau (1712-1778), Emílio, o autor faz referência à existência de dois tipos de dependências a que estamos todos sujeitos: a natureza, desprovida de moralidade, não compromete a liberdade e não fomenta vícios, e, a sociedade, onde impera a desordem, o vício e a confusão, o que abre caminho à exploração degradante do homem pelo homem. Diríamos nós: a natureza tem carácter sistémico e ecológico; a sociedade apresenta-se disfuncional e caótica.

            Sendo assim, inspirado em Rousseau, o pedagogo Fernand Oury (1920-1997) procurou dotar a pedagogia das virtualidades da própria natureza. Nas suas aulas, este professor primário tentou dinamizar actividades comuns, repletas de trocas recíprocas, quer ao nível do trabalho, quer no que toca a materiais, quer ainda no que diz respeito à intelectualidade, à afectividade; no seio dos alunos e destes para com o professor, numa gestão sucedida onde não falta a comunicação e a acção, a propósito das realizações do quotidiano escolar, isto é, num mútuo de excelência didáctico-pedagógico. Mas, tudo isto só funciona, se houver respeito pela selecção útil dos conteúdos programáticos a tratar, numa turma perfeitamente organizada, onde a liberdade é atribuída a par da responsabilidade, e onde as competências vão surgindo num clima de equilíbrio organizacional, ordem e rigor, sob a batuta do professor.

            Não pretendemos tornar esta reflexão demasiado extensa. Encerraremos, portanto, com uma breve alusão ao professor primário e escritor William Golding (1911-1993), e à mensagem contida na sua excepcional obra “O Deus das Moscas” (1954): Depois de um desastre aéreo, um conjunto de meninos e rapazes encontra-se, sem nenhum adulto, numa ilha deserta. Incapazes de se organizarem socialmente, naquele ambiente natural e livre, deixam-se levar pelos seus medos e inseguranças; estes tolhem a racionalidade e acicatam os instintos primários; esfuma-se a colaboração e a solidariedade e reacendem-se picos de trágica animalidade.

       Este “bestseller” de William Golding (uma edição de 2002 alude a 14 milhões de cópias vendidas só no espaço anglófono) reflecte o extraordinário conhecimento que o autor possui da psicologia infantil e, sendo uma tese sobre a naturalidade do mal, dá-nos conta dos fundamentos antropológicos da violência e da sede de poder.

1 comentário:

  1. Quando vi a fotografia com os meninos tão sentadinhos em frente à professora pensei: isto não é deste tempo...
    Você conduz o seu texto de Sócrates a Rousseau e acaba com "o Deus das Moscas" de William Golding, um retrato terrível da psicologia infantil... É sempre um prazer lê-lo, amigo.
    Beijo.

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