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Quando
se fala em Pedagogia, correntes pedagógicas, pedagogos ou conteúdos
pedagógicos, pensamos que, por mera questão de prudência e sensatez, “in medio
virtus”, isto é, a virtude está no meio, ou seja, não devemos incorrer em
extremismos nem exageros, como acontece, por um lado, com as pedagogias
não-directivas e, por outro lado, com o autoritarismo pedagógico. E nós tivemos
ocasião de testemunhar, em várias ocasiões, ambas as modalidades e percepcionar
os seus nefastos efeitos.
O filósofo grego Sócrates ( -399 AC)
continua ainda hoje a ser uma espécie de modelo simbólico, arquetípico dos
pedagogos – ainda que se encare a mescla resultante do conceito platónico
(Platão - - ) e junguiano (Jung - 1875-1961)
do termo. Basta que recordemos a maiêutica – Sócrates ensinou-nos a trabalhar
cada um dos discípulos, de forma a sermos capazes de agarrar o potencial de
conhecimento que em si encerra. Não deixa, no entanto, de ser redutor, porque
se fica por aí, não dando oportunidade de participação ao outro, não o deixando
falar, uma vez que não deixa de falar; permanece na sua verdade, sem cuidar de
saber da verdade do discípulo.
Na célebre obra de Rousseau (1712-1778), Emílio, o autor faz referência à existência de dois tipos de
dependências a que estamos todos sujeitos: a natureza, desprovida de
moralidade, não compromete a liberdade e não fomenta vícios, e, a sociedade,
onde impera a desordem, o vício e a confusão, o que abre caminho à exploração
degradante do homem pelo homem. Diríamos nós: a natureza tem carácter sistémico
e ecológico; a sociedade apresenta-se disfuncional e caótica.
Sendo assim, inspirado em Rousseau,
o pedagogo Fernand Oury (1920-1997) procurou dotar a pedagogia das virtualidades
da própria natureza. Nas suas aulas, este professor primário tentou dinamizar
actividades comuns, repletas de trocas recíprocas, quer ao nível do trabalho,
quer no que toca a materiais, quer ainda no que diz respeito à
intelectualidade, à afectividade; no seio dos alunos e destes para com o
professor, numa gestão sucedida onde não falta a comunicação e a acção, a
propósito das realizações do quotidiano escolar, isto é, num mútuo de
excelência didáctico-pedagógico. Mas, tudo isto só funciona, se houver respeito
pela selecção útil dos conteúdos programáticos a tratar, numa turma perfeitamente organizada,
onde a liberdade é atribuída a par da responsabilidade, e onde as competências
vão surgindo num clima de equilíbrio organizacional, ordem e rigor, sob a batuta
do professor.
Não pretendemos tornar esta reflexão
demasiado extensa. Encerraremos, portanto, com uma breve alusão ao professor
primário e escritor William Golding (1911-1993), e à mensagem contida na
sua excepcional obra “O Deus das Moscas” (1954): Depois de um desastre aéreo,
um conjunto de meninos e rapazes encontra-se, sem nenhum adulto, numa ilha
deserta. Incapazes de se organizarem socialmente, naquele ambiente natural e
livre, deixam-se levar pelos seus medos e inseguranças; estes tolhem a racionalidade
e acicatam os instintos primários; esfuma-se a colaboração e a solidariedade e
reacendem-se picos de trágica animalidade.
Este “bestseller” de William Golding (uma
edição de 2002 alude a 14 milhões de cópias vendidas só no espaço anglófono)
reflecte o extraordinário conhecimento que o autor possui da psicologia
infantil e, sendo uma tese sobre a naturalidade do mal, dá-nos conta dos
fundamentos antropológicos da violência e da sede de poder.
Quando vi a fotografia com os meninos tão sentadinhos em frente à professora pensei: isto não é deste tempo...
ResponderEliminarVocê conduz o seu texto de Sócrates a Rousseau e acaba com "o Deus das Moscas" de William Golding, um retrato terrível da psicologia infantil... É sempre um prazer lê-lo, amigo.
Beijo.