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GRAÇA PIRES - POETISA |
(Imagem do Google)
Foi
Freud quem
primeiro colocou o acento tónico na palavra e no seu poder
mágico. É pela palavra, fundamentalmente, que o homem
comunica, influencia, seduz ou persegue, fazendo-o de uma forma muito
mais eficaz do que qualquer outro ser do reino animal, incapaz de
dominar este tão excepcional quanto extraordinário dom.
O domínio da linguagem situa e integra o ser falante no seio
dos pares, balizando as interacções, doseando as
acções, impondo as convenções e
disciplinando as obsessões.
Lacan,
outro seguidor de Freud,
refere que apenas somos humanos porque falamos, procurando o
entendimento através da palavra. Por muito que não se
queira ou não se dê conta, declaram estes cientistas, o
inconsciente determina muito do que se afirma (Freud)
e, Lacan,
na esteira daquele, relaciona inconsciente com linguagem, de forma
estruturada e estruturante, emergindo ambas as componentes do signo
linguístico (significado e significante), por ocasião
de qualquer contacto comunicacional.
Contudo,
acrescenta Lacan,
a intersubjectividade inerente à troca de mensagens subverte a
linearidade e a exactidão desejadas dos conteúdos
veiculados, devido aos imponderáveis do inconsciente e à
codificação/descodificação do emissor e
do receptor e à capacidade de ambos percepcionarem a realidade
e procederem à nomeação ou à
interpretação da mesma, utilizando a mais ou menos
aferida representação mental cujo significado (coisa
nomeada) se transmuta referencialmente no significante (imagem
acústica).
Depois
desta introdução sobre a linguagem falada, e sem mais
delongas, situemo-nos, agora, numa das componentes da comunicação
escrita: a Poesia. Esta, expressa-a o homem de forma bem mais
sintética, mas muito mais complexa, sem deixar de ser lúdica,
musical (rítmica), estimulante e criativa, onírica e
essencial, porque sublima sentimentos cativos, vivências
frustradas ou não, emoções mal esboçadas
ou reprimidas, encantamentos ou delírios, afectos rendidos ou
júbilos decantados, sejam eles narcisistas ou dirigidos.
No
entanto, Não é poeta
quem quer/nem quem vê na poesia/o nebuloso mister/de tonta
sobranceria, conforme escrevemos há
tempos. Depois de termos adquirido e lido, repetidamente, o livro de
poesia “UMA VARA DE MEDIR O SOL”,
da poetisa Graça Pires,
decidimo-nos por este pequeno escrito de homenagem à autora,
já que ela possui a Graça
de ser poetisa, genuinamente
criativa e fazedora de algo (poiesis)
com valor autoral comprovado,
vincadamente estético, sentido, harmónico, numa palavra
– inspirado.
Um
último paragrafo para referir que a poesia, entre muitas
outras das suas múltiplas cambiantes, se arquitecta através
das relações específicas que emergem da
interacção estabelecida entre o significado e o
significante, e até entre os próprios significados, na
forma como se compõe sintagmaticamente cada verso, na senda da
violação do código da linguagem dita normativa,
embora nada disto seja definitivo, tal como neste livro de Graça
Pires, onde a engenharia da palavra
é tudo isto e o seu contrário: Regressei
com a lentidão de quem vem de longe/do mar com pedras na boca
para cuspir nos lugares/onde o vento envolve a gruta das
nascentes.(...) – [(Graça
Pires, em Uma Vara de Medir o Sol), 2018, p. 23].
Nota:
Parabéns, querida amiga.