terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

AINDA A ADOLESCÊNCIA




imagem do Google

    Sobre esta matéria, temos feito já algumas reflexões escritas, nomeadamente depois da leitura de uma excelente obra – Adolescência e Autonomia –, cuja autora, a psicanalista Manuela Fleming (1948-....), ainda no activo, deu à estampa em três edições consecutivas (Afrontamento - Porto): 1993, 1997 e 2004. No presente escrito, vamos tentar tratar a temática de uma forma mais genérica.

    Sendo a adolescência uma das fases mais melindrosas e comprometedoras do desenvolvimento do ser humano, nem por isso tem sido objecto do devido acompanhamento e estudo por parte de especialistas (professores, psicólogos, psiquiatras e psicoterapeutas), pelo que as afecções que perturbam o psiquismo do indivíduo ao longo da vida púbere até ao ganho da maturidade sexual podem ficar ignoradas ou ser susceptíveis de interpretações erradas, o que não abona nada em favor dos que das mesmas enfermam, ficando estes privados do respectivo tratamento.

    Devido às dificuldades e exigências que se colocam ao adolescente neste período de luta e abertura ao exterior (árduo e castigador), aquele pode manifestar tendências esquizotímicas, ciclofrénicas, mais ou menos depressivas, anorécticas ou incorrer em toxicodependências, muito embora, lamentamos repetí-lo, tudo isto seja mais facilmente induzido pelo clima familiar que envolve o adolescente do que por uma espécie de predisposição do próprio, dado que, normal e natural é a sua salutar necessidade de viver e conviver.

    Conforme nos alerta Fleming, quando cita Erik Erikson (1902-1994), as crianças vencem naturalmente os normais obstáculos que se lhes vão deparando, alicerçando assim a sua estrutura psíquica; já na adolescência, e ainda segundo Erikson, o jovem tem necessidade de construir e consolidar o seu próprio conceito de identidade pessoal a caminho do social. A imagem que os outros têm de si conta, bem como a sua integridade sexual, a sua intelectualidade, a sua aceitação grupal e o seu sex-appeal (poder de sedução ou magnetismo pessoal). Os pais pertencem já a outra era; agora é ele quem precisa de se afirmar: livre, autónomo, independente, emancipável, com ideias próprias, ou, convenhamos, a caminho (processo-continuum) destes mesmos pressupostos conceptuais.

    Claro, tudo isto gera ansiedade, angústia, insegurança, incerteza, e, as reacções compensatórias podem fazer despoletar comportamentos excêntricos, passíveis de ser duradouros ou simplesmente episódicos. Tudo dependendo dos casos verificados, se as perturbações reactivas perdurarem, convém recorrer a ajuda especializada. Evidentemente que neste âmbito, quando o adolescente se vê a braços com carências de cariz social, as coisas tendem a agravar-se, uma vez que a família não tem, de maneira nenhuma, a vida facilitada e, no seu seio, o clima afectivo está em défice, sobrando, por isso mesmo (as reacções são em cadeia), os conflitos, as querelas, as dissenções, a guerrilha surda ou ostensiva, as rejeições, a violência doméstica, a diluição daquilo que, afinal, se espera da família, isto é, a compreensão e o amor incondicional entre os seus elementos constituintes.



7 comentários:

  1. Bom dia. Visitando, confesso o meu agrado, pelo seu bonito e agradável blogue. Escreve muito bem. De facto tanto a pré-adolescência como a própria adolescência são fases muito importantes na definição da personalidade do jovem. Gostei muito de ler

    Linkei o seu blogue nos blogues a visitar no Brincando

    Uma sugestão: Porque não aqui um linke para seguidores do seu blogue?

    Deixando um abraço

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  2. Olá, Humberto!

    Um excelente e reflexivo texto.

    Conheço a obra de que fala, mas não em profundidade, mas estou de acordo com a inteligente e compreensiva autora.

    A adolescência teve, tem e terá sempre os seus problemas específicos, muito próprios, só que estes acompanham, naturalmente, o tempo em que se enquadram. Ora, um jovem do século XVIII teve as suas angústias, alegrias, desavenças, rebeldias, hostilidades etc., mas de acordo com o tempo em que viveu. O jovem do século XX ou XXI tem, de igual modo, as angústias e rebeldias, pertencentes ao jovem do século XVIII mas de acordo com os tempos e as tendências.

    As características da adolescência têm sempre a ver com a época (tempo), lugar(onde), família e sociedade em que se desenvolvem e estão inseridos. Altamente influenciáveis, poucos pensam pelo seu cérebro. Há que criar diálogo, regras e oportunidades para que se sintam felizes.

    Cordialmente, um abraço!

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  3. De fato a essa fase do ser humano é bem complexa,li um artigo a qual afirma que devido o cérebro ainda estar em desenvolvimento a percepção do adolescente necessita de cuidados, vigilâncias e orientações.

    Agradeço por ter lido e por refletir em suas palavras, apreciei muito as questões levantadas pela autora a qual ainda não conhecia.

    Boa tarde.

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  4. Meu nobre e prezado amigo Humberto, inicialmente, minha gratidão por tanto que tuas palavras, em diversas frentes, elevaram minha psiquê, alma e todo o meu ser! As palavras elogiosas em meu humilde espaço, envaideceram-me, mesmo que eu as desse um lugar modesto dentro de meu entendimento. Porém este teu tratado resumido sobre a adolescência, é-me de extraordinária estima e proveito. Parabéns por tão lúcido entendimento e partilha dele. Sou um "Abraão" tenho uma filha de quarenta anos e um adolescente de treze. Minha mulher e eu, procuramos o educar dando todo o amor e atenção possível com liberdade de rédeas curtas, por crermos que disciplina é fundamental para forjar um caráter de responsabilidade, mas como vejo - quantos meandros existem na psiquê de um adolescente... Vou redobrar minha atenção! Irei passar teu endereço aos nossos amigos cujos filhos estão nessa fase etária, indicando o excelente texto. Obs: no segundo parágrafo está "o" adolescência. Minha Gratidão! Abraço fraterno! Laerte.

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    1. Grato, SILO LÍRICO, pelo comentário e pela chamada de atenção. Um abraço.
      https://maranduvaline.blogspot.com/2016/11/crescer-para-adolescer-i.html
      https://maranduvaline.blogspot.com/2016/11/adolescer-para-crescer-ii.html

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    2. Junto mais dois escritos sobre a adolescência, caso queira apreciá-los. Achei curioso esse seu paralelismo com Abraão. Parabéns e felicidades.
      Um abraço.

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  5. É complexo, muito complexo.
    É imprudente condenar os pais dos transtornos da juventude, atitude que os adolescentes tomam frequentemente.
    A dificuldade de socializar, de aceitar o seu corpo perante os modelos esteriotipados (as terríveis borbulhas), faz com que o jovem crie frequentes atritos com a família e se queixe dela.
    Com exceção das famílias disfuncionais, os pais sofrem muito.

    Cordiais cumprimentos.
    ~~~~

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