sábado, 8 de outubro de 2016

AS DESCOBERTAS DE PIAGET


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       Piaget elege a acção (dirigida) da criança, como se viu, como forma de aprendizagem por excelência; com a aquisição da linguagem, a partir dos dois anos, entra-se no campo da socialização da acção, o que determina novos processos dinâmicos de crescimento, passíveis de enriquecer o próprio pensamento, a consciência e a afectividade. E aqui recordamos Bion e o seu conceito – “pensar os pensamentos”: quanto melhor sucedida for a interacção mãe-bebé-mãe, melhor se processa na criança a capacidade de pensar os pensamentos, logo, melhor se definem as suas estruturas psíquicas. A este propósito, Piaget cita Pierre Janet (1859-1947): “a memória está ligada à narrativa, a reflexão à discussão, a crença ao empenho ou à promessa, e todo o pensamento à linguagem exterior ou interior” (Piaget, 1975: p, 33).

            Antes da linguagem, no entanto, o pensamento verifica-se ainda por mera assimilação, provido de egocentrismo e desprovido de objectividade, accionando apenas movimentos e percepções; de seguida, adaptar-se-á aos outros e à realidade, oscilando sempre entre a forma de pensamento sensório-motor e aquela que vai esboçando o pensamento lógico. O primeiro configura o jogo simbólico, individualizado, sem regras, de imaginação ou de imitação, transformando o real, (des)dramatizando, ficcionando, já que depois dos 7 anos, as regras vão sendo encaradas e aceites, devido à interiorização da reversibilidade e da reciprocidade, o que traduz, na prática, uma harmonização entre a assimilação mental das vivências empíricas e a acomodação mental a essas mesmas experiências.

            Estas mudanças geram autonomia e coesão interactiva, fomentando já um bom nível operatório da intelectualidade do indívíduo, caracterizado pelo surgimento de valores morais (a representação dos interditos, a consciência moral ou o super-ego), da optimização da integração do eu e de uma sistematização mais equilibrada da expressão da afectividade; neste particular assume importância primordial o sentido de justiça do pré-adolescente. Ao longo da adolescência, e até ao limiar da idade adulta, Piaget não se afasta muito (em termos gerais) de outros autores.

            Tentemos agora concluir o presente escrito, apresentando uma breve sinopse sobre os estádios de desenvolvimento mental da criança: entre o estádio sensório-motor e o estádio das operações-concretas, a criança desenvolve progressivamente três tipos de actividades, a saber a actividade sensório-motora, a actividade representativa egocêntrica e a actividade operacional. A primeira, a ACTIVIDADE SENSÓRIO-MOTORA constrói esquemas de assimilação, se pensarmos na acomodação das acções lúdicas; de equilibração, através da inteligência sensório-motora; e de acomodação à assimilação, por imitação.

            Já a segunda – a ACTIVIDADE REPRESENTATIVA EGOCÊNTRICA, recria o jogo simbólico, com recurso à imaginação e à criatividade, aliando ainda os pré-conceitos e a percepção intuitiva à imaginação reprodutora e à imitação representativa – claro, sempre numa linha constructiva de reforço das estruturas anteriores a caminho das seguintes... mais elaboradas.

            A terceira e última – a ACTIVIDADE OPERACIONAL consegue operar jogos constructivos, operações concretas e regista comportamentos reflexivos.

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