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O
futuro vital da humanidade deve ser sempre equacionado em função do futuro
mental da mesma; ora este deve ser preparado desde já, colocando de lado os
obsoletos métodos utilizados no passado pela psicologia do desenvolvimento
individual, que tão maus resultados viriam a trazer à sociedade ocidental.
No caso português, o individualismo
esteve sempre na mó de cima, e, depois da independência do Brasil (1822), da
bancarrota (1892), do fim da Monarquia (1910), da catástrofe da participação
nacional na 1.ª Grande Guerra (1916), do desastre completo da 1.ª República que
se finou, por culpa própria, em 26 de Maio de 1926, o país tinha criado as
condições necessárias para que o Estado Novo vingasse. De trambolhão em
trambolhão, uma vez mais, foi dada a primazia ao individualismo e ao
corporativismo. Até ao 25 de Abril de 1974, o regime foi sempre avesso à Psicologia
ou à Pedagogia.
Uma das medidas mais inovadoras do
período subsequente ao 25 de Abril, foi a inclusão, nos curricula do
Magistério Primário, das cadeiras de Psicologia, Pedagogia e Psicopedagogia,
olhadas agora de uma perspectiva moderna e actuante, no âmbito das relações
inerentes à intersubjectividade humana. E tudo começa em casa, em família;
importa, por isso, conhecer a criança e aceitá-la, para ser possível tirar
partido das suas potencialidades, a caminho da sua afirmação pessoal;
situando-a, salutarmente, no seio da triangulação familiar, de forma a melhor
estruturar a sua personalidade.
No caso francês, honra lhe seja
feita, tudo teve início em 1946, não obstante o abalo moral, as perdas pessoais
e os estragos materiais causados pela 2.ª Guerra Mundial... ou talvez por isso
mesmo! Nesse ano, a Academia de Paris criou o primeiro Centro
Médico-Psicopedagógico Claude Bernard, para cuja Direcção-médica foi nomeado o
Dr. André Berge (1902-1995). Esta extraordinária equipa contou ainda com o Dr.
Georges Mauco (1899-1988), com a participação da Dr.ª Françoise Marette-Dolto
(1908-1988) e da D.ª J. Boutonnier, todos eles conhecidos hoje como tendo sido
autênticos monstros sagrados da Psicopedagogia e da Psicanálise. Mais:
em França, entre 1953 e 1956, surgiram 230 novas publicações
onde foram dados à estampa 1600 escritos sobre Psicanálise.
E terminámos, recordando precisamente
um dos grandes ensinamentos de Mauco: em certo sentido – afirmava – a criança
inadaptada não existe, pelo que o que se encontra desajustada é a sua relação
com o outro, na forma como se entrechocam os seus sentimentos inconscientes e
os dos seus educadores. Importa, portanto, “compreender as situações
relacionais profundas, fazê-las aceder a uma linguagem social”, através da
tomada de consciência recíproca, num diálogo humano, muito para lá do jogo
enganador das aparências que o desejo inconsciente manifesta (Mauco, 1967: p.
16).
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