quarta-feira, 29 de maio de 2019
domingo, 26 de maio de 2019
ENTENDER O SOCIAL
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Grosso
modo, o social (a sociedade) pode ser interpretado, desde que o homem
se tornou sedentário, inicialmente para que fosse possível
o cultivo da terra, como um simples (antes) ou sofisticado (depois)
exercício dialéctico de poder entre os seus membros
constituintes.
Formado
por classes (sociais), determinantes da dinâmica relacional
grupal, o social progride ou regride em função da
diversidade dos tipos de jogos de poder que se vão
estabelecendo num dado período histórico-filosófico,
e dos resultados que daí advêm para as partes em
contenda.
Caracterizando-se
a espécie humana pela sua eterna insatisfação e
angústia existencial – não posso precisar se existem,
ainda hoje, tribos de caçadores recolectores em estado
rigorosamente virgem, isto é não contaminadas pela dita
civilização –, assim, o homem tem vindo a cavar, de
forma ansiosa, desastrosa e contraproducente o seu próprio
destino de total desagregação irreversível.
Marx
e Engels (1848) julgaram poder
apagar a terrível história já vivida pela
humanidade, ignorando a persistente transmissão das nefastas
influências do passado, via inconsciente colectivo,
transgeracionalidade, genealogia, hereditariedade genética e
simbólica, etc., propondo-se e propondo começar tudo de
novo, através do seu excelente, mas impraticável
Manifesto Comunista, que,
debruçando-se sobre a Revolução Industrial,
preconizava a sociedade sem classes, o fim da exploração
do trabalho pelo capital, entre muitas outras coisas utilíssimas
e socialmente niveladoras.
Intrinsecamente
arreigadas no indivíduo, sendo este, inelutavelmente
ambicioso, territorial e
agressivo, predador por excelência, senão o maior dos
predadores, tudo fazendo, consciente ou inconscientemente, no sentido
de cumprir, ao longo da História, esta sua idiossincrática
caracterologia, difícil seria mudar fosse o que fosse.
Contudo, esta tentativa valeu pelo estrondoso murro na mesa das
atrocidades e das injustiças, coisa que hoje não se vê
acontecer na luta política e social.
NOTA:
VÁ VOTAR; SEJA RESPONSÁVEL... Se é português
em Portugal, hoje - 2019-05-26.
quinta-feira, 23 de maio de 2019
NÃO TENTAS PERCEBER
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segunda-feira, 20 de maio de 2019
A PAZ D`ALMA
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A
paz d´alma é uma espécie de sensação
de apaziguamento espiritual, a que começaram por fazer
referência elogiosa os filósofos (epicuristas,
estóicos e cépticos).
Epicuro
(341-270 bC)
afirmou mesmo ser esse o caminho da felicidade, desde que o indivíduo
não fosse atormentado por desgostos, penas ou dores –
ataraxia,
palavra
grega que significa ausência de perturbação. E
Epicuro
acrescenta não poder haver intermitências entre o
equilíbrio da alma e do corpo, pelo que não recomenda
apatias ou paixões, para que a liberdade seja possível.
O
céptico Pirro
(360-270 bC)
é de opinião de que sem a suspensão do juízo
(nem negar, nem afirmar), a ataraxia não ocorre. Mas, com
aquela evitam-se as preferências, as escolhas e as
confrontações de ideias; separa-se o que depende de nós
e o que nos é “imposto” de fora, como as paixões,
sendo estas afecções ou alterações da
alma, conforme Aristóteles
(384-322 bC).
Assim, através da racionalidade, livramo-nos das perturbações.
Mais, ainda: a paz d`alma suplanta, moralmente, qualquer vivência
empírica.
Mas afinal, a que espécie de liberdade aludem estes
filósofos?! Não estarão todos eles a fomentar,
muito mais, o cinzentismo, a inércia, o comodismo, a neutralidade, e muito menos a liberdade em
sede de respeito pela liberdade alheia? Ou será que a suspensão do juízo é pura reflexão e isenção?
Evidentemente
que, não deixando de ser uma abstracção, a
liberdade hoje em dia tornou-se extremamente complexa e de difícil
interpretação e usufruto, na sociedade (Ocidental)
pautada pela Paramodernidade
– séc. XXI (progresso disruptivo, redutor, distorcido, esquizo-paranóide onde
ocorre um processo social autofágico delirante)*,
e
onde
grassa a ganância dos mercados, a espectacularidade mórbida
dos media,
o
pensamento global pré-formatado, o niilismo hedonista, o vazio
existencial e a queda dos valores, a iliteracia, o consumismo
obsessivo, compulsivo e fátuo, a corrupção e o
esmagodor peso dos impostos.
Bem,
se calhar, a tão ansiada paz d`alma só será
tangível, artificialmente, através da farmacologia e da
toma de neurolépticos – ataraxia medicamentosa.
NOTA:
Paramodernidade – séc. XXI* - esta designação
conceptual é nossa. Pós-modernidade e hipermodernidade
não potenciam, em termos linguísticos, o alcance
referencial adequado.
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sexta-feira, 17 de maio de 2019
SE DE VOAR PUDESSE...
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Se
de voar pudesse ser contigo
tão
perto dos inventados instantes
não
seria ninguém em quanto digo
desdizendo
das sortes mais distantes
Às
voltas sem regresso nem abrigo
vais
soltando os cabelos como dantes
como se
fossem searas de trigo
vergadas
ao desejo dos amantes
Será
que já levaste de vencida
sem contar
os segredos mais vazios
os ganhos
e perdas de quem olvida
as imagens
das velas sem pavios
ou
preferes fingir que só na vida
é
melhor divagar sem desvarios
quinta-feira, 16 de maio de 2019
O ANÚNCIO
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Juvenal Garatuja
Coimbra Sul
Telefone:
0000000
Ao Jornal de
Notícias
Rua de Santo Ildefonso (?!)
PORTO
Assunto: Anúncio
de 31/01/1970, com carta ao JN ao n.º 000
Ex.mª Menina
Em resposta ao anúncio em epígrafe, começo por
lhe dar parte dos seguintes dados:
-- Nasci na década de 50 do século XX;
-- Vivo com a família;
-- Sou universitário, com cultura, provavelmente, acima da
média;
-- Sou dotado de personalidade forte e salomónica;
-- Gozo de uma vida estável, "autónoma" e "independente";
-- Pratico desporto assiduamente;
-- Leio, estudo e escrevo diariamente;
-- Adoro o mar em particular e a natureza em geral;
-- Não enfermo de qualquer tipo de vícios;
-- Sou profundamente romântico;
-- Ajo com natural pragmatismo;
-- Pretendo um namoro prévio para mútuo conhecimento,
com vista a um relacionamento
sério e saudável.
Nota 1: Junto foto (Verão 1969), para melhor documentar a
presente resposta.
Nota 2: Caso decida ligar-me, sugiro que o faça entre as 18 e
as 19 horas; já estou em casa e o meu pai ainda não.
De momento, é tudo. Fico na expectativa da decisão que
possa vir a tomar.
Os
meus respeitosos cumprimentos,
_______________
Juvenal
Garatuja
terça-feira, 14 de maio de 2019
A AGRESSIVIDADE ANIQUILA
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Os
afectos de aversão (Adler)
traduzem-se, em termos dinâmicos (motores), na agressividade,
na agressão, na perseguição, assumindo o rosto
da ira, da cólera e da hostilidade. Os afectos dependem da carga
energética ligada à representação, para o
bem ou para o mal, segundo Freud,
e são úteis para a sobrevivência do Homem, dentro
de determinados parâmetros. Como se compreende, quando
comparada à mulher, a constituição física
do homem (regra geral) potencia, no âmbito da agressividade,
maiores estragos, quer em termos dinâmicos,
quer económicos.
Essa
consciência afectiva (sentimento emocional), que Freud
designou de “quantum
de afecto” (energia
pulsional) que investe as representações é:
qualitativa, de acordo com a oposição dinâmica de
forças) e quantitativa (intensidade energética –
economia). “Cultura
e suas Desvantagens” (1930) é
a obra onde este mestre qualifica a agressividade como “um
impulso nato e autónomo do homem”.
Assim, em sociedade ou na família, quanto mais fraco é o próximo,
maior é a tentação de o agredir e perseguir
(bullying, violência no namoro ou doméstica, abuso de poder, assédio moral e prepotência laboral),
dizemos nós. Mas há mais:
Como
se trata de um sentimento primitivo (irracional/reptílico) de
inimizade e confrontação, torna-se tanto mais
destrutivo e aniquilador, quanto mais avança o progresso
técnico e cultural, uma vez que este é uma faca de dois
gumes, capaz de reactivar (redimensionar/ampliar) a idiossincrasia do
homem e de o dotar, também, de instrumentos auxiliares de
destruição maciça e massiva, ameaçando,
permanentemente, de ruína, a família, a sociedade e a
sua única casa planetária (Konrad
Lorenz, 1903-1989).
Freud
defendia
ainda que, perante tamanha carga emocional, o superego remete-a para
o ego onde se despoleta a agressividade e a autodestruição,
isto é, a neurose e a psicose. É assim, ainda hoje, com
as personalidades psicopáticas, nas crises hipomaníacas
e na demência aterosclerótica; nas depressões e
na esquizofrenia, com excepção das violentas birras
típicas das crianças de dois anos.
NOTA
1: Os
cientistas
actuais apontam o mesencéfalo
do homem, na zona média cerebral, com diencéfalo
(tálamo
e hipotálamo)
– cérebro
reptílico, regulador das funções vitais básicas,
como nos répteis –;
e
córtex
cingulado
no topo envolvente – sistema
límbico, onde se alocam os sentimentos ou afectos primários
dos primeiros mamíferos.
NOTA
2:
“Recentemente” constituiu-se o neo-córtex
– sede
das funções cognitivo-afectivas superiores complexas,
capazes de pensamento e linguagem e de diferenciar emoções.
Contudo, o cérebro reptílico continua actuante.
NOTA
3:
Bibliografia
revisitada:
Damásio,
A.
(2013). O
Sentimento de Si – Corpo, Emoção E Consciência.
Temas e Debates. Círculo de Leitores. Lisboa.
Goleman,
D.
(2006).
Inteligência
Emocional. Revista
Sábado. Espanha.
Hell
D. (2009).
Depressão – Que sentido faz? Sete
Caminhos.
Lisboa.
Mlodinow
L. (2014).
Subliminar
– Como o Inconsciente Controla o Nosso Comportamento.
Marcador Editora. Lisboa
Sempé,
Jean-Caude et al
(1969). A
Psicanálise.
Edições 70. LisboaImagem do Google |
sexta-feira, 10 de maio de 2019
DÉJÀ-VU?!... NEM SEMPRE
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Há
muito quem confunda o conceito de Déjà-vu
com a renovada constatação
actual de vivências já experienciadas no passado. O
senso-comum generalizado, e a falta de formação e
critério de que enfermam certas criaturas dos mass-media,
têm atraiçoado o seu
devido papel pedagógico-didáctico. Assim, ao invés
de se apoiarem na informação correcta e ponderada, têm
seguido pelos ínvios caminhos da já habitual, mas
impertinente, ignorância e ingenuidade.
O
conceito de Déjà-vu
refere-se apenas à complexa ilusão
do já visto, sem que
nada, de facto, tenha ocorrido no passado. Friedrish
Doucet (séc. XX) refere
tratar-se de recordações estranhas, no âmbito de
uma fantasia inconsciente, de um estado onírico ou de um
sonhar acordado, enquadrando pessoas, objectos e situações,
afinal, inexistentes. Não, não são alucinações
(percepções sem objecto), para as quais colaboram,
neste caso, os sentidos.
Outros
autores falam em perturbações de memória
(paramnésias);
pressentimentos compulsivos e ilusórios de que algo, hoje, se repete
– como no passado – e, claro, nos diz respeito, conseguindo
accionar uma certa ansiedade, face à perplexidade que a sua
novidade e surpresa causam.
Clarificando
um pouco a ideia de paramnésia,
dá-se conta de que os entendidos apontam para uma desordem
mnésica, onde a memória se apresenta desvirtuada,
lacunar, confabulada, tecida ao sabor da compensação
ilusória das frustrações pessoais dos afectados.
Por
último, importa aludir à ansiedade fóbica
associada à perda da consciência identitária e
circunstancial, pois estas são susceptíveis de indução
de experiências de Déjà-vu,
bem como as manifestações esquizofrénicas,
tendencialmente passíveis de criar desorientação,
ideias ilusórias (temporalidade desenquadrada) e sentido
premonitório.
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https://www.youtube.com/watch?v=YCs6Tpd5sFQ
terça-feira, 7 de maio de 2019
A ANÁLISE TRANSACCIONAL
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Falar
de análise transaccional (não confundir com
transicional – Winnicott)
é recordar o psiquiatra canadiano Eric
Berne (1910-1970), e a crença
por si defendida de que o comportamento humano se tornaria mais claro
e perceptível, ao invés da visão psicodinâmica
de Freud. Berne,
no âmbito da sua teoria da personalidade e da psicoterapia a
ela inerente, considera, para tal, os três estádios
presentes em cada ego: pai, adulto e criança. Estes,
funcionariam como dados de um jogo simples de trocas sociais e
familiares – The Games People Play,
livro escrito em 1964.
Berne
via o sujeito como uma espécie de autómato, dotado de
um inconsciente pouco significativo, reagindo no imediato, de forma
previsível, sem problemas de maior. Assim, enquanto terapeuta,
estabeleceu com os enfermos uma relação transaccional,
acordada, conveniente e conivente, onde era possível reactivar
a criança no adulto, pela
força das palavras, eliminando os estádios ego
conscientes.
A indução deste
pretenso autoconhecimento invocado resultaria pouco, provavelmente,
por ser efémero e superficial, embora, alegadamente,
procurasse perceber, em contexto de clínica contemporânea, a toxicidade das formas de pensar, os
comportamentos intersubjectivos relacionais dos sujeitos, as suas
concomitantes frustrações interaccionais, às
quais se comprometia dar a resposta intuitiva cabal, seleccionando os
conteúdos mentais saudáveis, adquiridos ao longo do
tempo, pelo vivido emocional de cada um.
Curiosamente,
Bernie
repete-se e repete Freud,
Klein, Bion e Lacan,
para não referir outros, quando preenche a personalidade do
sujeito a partir de conteúdos já burilados por aqueles
mestres. Vejamos: “O
estado de ego pai”,
“o
estado de ego adulto”
e “o
estado de ego criança”
não são mais do que o grande Outro de Lacan,
a norma, a ordem, o sujeito obstruído de desejo; o superego, a
representação dos interditos, a consciência moral
de Freud;
por último, recordem-se os ensinamentos de Klein
e Bion
– a identificação projectiva (negativa ou positiva),
o apaziguamento interior, a
interacção continente (mãe) - conteúdo
(bebé) de Bion,
a relação
dinâmica entre as posições esquizo-paranóide
e depressiva (Klein),
visando
o crescimento e a mudança.
Nota 1: Respira-se aqui, também, algo (para pior) de Jacob Levy Moreno (1889-1974) e das suas condutas terapêuticas de inserção.
Nota 2: De Khalil Gebran (1883-1931), lemos (2007) que “a base clara da Análise Transaccional - enquanto psicoterapia - é escassa e de baixa qualidade."
segunda-feira, 6 de maio de 2019
SUJEITO E OBJECTO
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Amar é para quem pode dispor
de tantas e distendidas
canseiras
aferidas exactas sem asneiras
finuras selectivas sem rubor
Nos poemas surgidos com ardor
arrefecem lirismos sobre as
eiras
nos campos nas adegas nas
esteiras
das ruínas que jazem
sem fulgor
Ser a coisa de tudo perceber
de não saber ficar só
por partir
é só t(r)ocar o
tempo já sem ver
ser bem melhor pensar em
assumir
a sentida sombra por desprazer
no
lugar que nos tolhe de sorrir
quinta-feira, 2 de maio de 2019
FADAS?!
quarta-feira, 1 de maio de 2019
A RAPARIGA DOS RUBROS SILÊNCIOS
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No
campo respira-se o ar lavado dos grandes espaços abertos;
escuta-se a imperceptível musicalidade do vento, o som
melódico dos regatos, o coro dos passarinhos, a subtil leveza
das colinas; no campo sente-se a envolvência aveludada dos
prados e o sedoso toque da brisa
No
campo ainda há quem fale com a terra e oiça, com
espanto, o silêncio dos frutos. No campo vive Laurinda, a
rapariga de todos os encantos e desejos. Ela viaja pelo sonho, sob o sol do seu coração ardente, como
fazem os rios sem margens
Toda
a aldeia está lá, no prado das cerejeiras vergadas pelo ímpeto dos frutos carnudos e vermelhos. A colheita é
sôfrega, sensual, extenuante. Os gigos enchem-se em torno dos
troncos. Laurinda já não sonha, e refugia-se no
silêncio, respondendo, triste, magoada mas decidida, pela
incumbência da natureza. Vai dividindo a atenção,
também, com um outro gigo colocado muito próximo de si.
No seu interior, embrulhada numa manta fresca e limpa, dorme,
inocente, a filha
Desde
a última colheita que Martinho não mais procurou
Laurinda. Esta, vive de coração apertado e chora às
escondidas. Contudo, não dá a face, enfrenta a
adversidade. Doce, bela e jovem, só através dos seus
grandes olhos verdes deixa transparecer a angústia que lhe
dilacera a alma. Faz hoje dezoito anos, mas ninguém se lembra
do seu aniversário
Pelo
lusco-fusco, são estendidas séries de lâmpadas
entre as cerejeiras e a ramada lateral; não faltam os petiscos
habituais e o vinho regional... e a música tocada de
improviso. No centro, sob o brilho prateado das estrelas, os pares
rodopiam ao som da concertina; no círculo dos mais velhos as
crianças buscam o aconchego das mães
De
repente, Laurinda ergue-se com o bebé ao colo; discreta, entra na roda, e ensaia uns passos de dança. Todos lhe sorriem e
lançam gracinhas à criança. Agora, a concertina rasga a noite com o seu gemido pungente e nostálgico
Martinho,
então, aproxima-se resoluto, entra na roda, envolve a rapariga
e a filha num abraço largo e sentido, beijando a jovem com
carinho.
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