terça-feira, 7 de maio de 2019

A ANÁLISE TRANSACCIONAL

Imagem do Google

   Falar de análise transaccional (não confundir com transicional – Winnicott) é recordar o psiquiatra canadiano Eric Berne (1910-1970), e a crença por si defendida de que o comportamento humano se tornaria mais claro e perceptível, ao invés da visão psicodinâmica de Freud. Berne, no âmbito da sua teoria da personalidade e da psicoterapia a ela inerente, considera, para tal, os três estádios presentes em cada ego: pai, adulto e criança. Estes, funcionariam como dados de um jogo simples de trocas sociais e familiares – The Games People Play, livro escrito em 1964.

    Berne via o sujeito como uma espécie de autómato, dotado de um inconsciente pouco significativo, reagindo no imediato, de forma previsível, sem problemas de maior. Assim, enquanto terapeuta, estabeleceu com os enfermos uma relação transaccional, acordada, conveniente e conivente, onde era possível reactivar a criança no adulto, pela força das palavras, eliminando os estádios ego conscientes.

  A indução deste pretenso autoconhecimento invocado resultaria pouco, provavelmente, por ser efémero e superficial, embora, alegadamente, procurasse perceber, em contexto de clínica contemporânea, a toxicidade das formas de pensar, os comportamentos intersubjectivos relacionais dos sujeitos, as suas concomitantes frustrações interaccionais, às quais se comprometia dar a resposta intuitiva cabal, seleccionando os conteúdos mentais saudáveis, adquiridos ao longo do tempo, pelo vivido emocional de cada um.

    Curiosamente, Bernie repete-se e repete Freud, Klein, Bion e Lacan, para não referir outros, quando preenche a personalidade do sujeito a partir de conteúdos já burilados por aqueles mestres. Vejamos: O estado de ego pai, o estado de ego adulto e o estado de ego criança não são mais do que o grande Outro de Lacan, a norma, a ordem, o sujeito obstruído de desejo; o superego, a representação dos interditos, a consciência moral de Freud; por último, recordem-se os ensinamentos de Klein e Bion – a identificação projectiva (negativa ou positiva), o apaziguamento interior, a interacção continente (mãe) - conteúdo (bebé) de Bion, a relação dinâmica entre as posições esquizo-paranóide e depressiva (Klein), visando o crescimento e a mudança.

Nota 1: Respira-se aqui, também, algo (para pior) de Jacob Levy Moreno (1889-1974) e das suas condutas terapêuticas de inserção.

Nota 2: De Khalil Gebran (1883-1931), lemos (2007) que “a base clara da Análise Transaccional - enquanto psicoterapia - é escassa e de baixa qualidade."



6 comentários:

  1. Mais um belo texto Obrigada pela partilha:))

    Hoje :-As estradas são como os sentimentos, inconstantes

    Bjos
    Votos de uma óptima Quarta - Feira

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  2. Interessante...
    Obrigada pela partilha.
    Abraço
    Marta

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  3. Esta é uma área para a qual não tenho a preparação necessária para entender completamente o seu texto. Mas, do que percebi, achei interessante, ainda que eu, como leigo, ache excessivo dividir uma pessoa em estádios (embora perceba que é feito para simplificar os raciocínios). Em qualquer caso, este tipo de abordagens são sempre positivas, já que nos fazem aumentar o conhecimento sobre nós próprios e sobre os outros.
    Caro Humberto, continuação de boa semana.
    Abraço.

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  4. Querido Zé
    A intenção de Berne era boa. O «problema» é que nem todos os «doentes» procuram médico especialista e, quando procuram, nem sempre lhes contam «tudo»; às vezes omitem o mais importante e o que tudo despoleta de mau...
    Gostei do texto, onde tudo nos resumes.
    Um beijinho
    Mana

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  5. Bela partilha!

    Beijinho grande no coração
    Www.danielasilva.pt

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  6. Tu blog un hermoso rincón, me encanta.

    Besos.

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