quinta-feira, 3 de outubro de 2019

O DOENTE BIPOLAR



   Quando se faz referência à humanidade e aos afectos que a devem ligar, importa falar do cérebro para lembrar o papel ancestral do córtex cinguladosistema límbico, onde se alocam os sentimentos ou afectos primários dos primeiros mamíferos; e do neo-córtexsede das funções cognitivo-afectivas superiores complexas, capazes de pensamento e linguagem e de diferenciar emoções. Mas, o acesso à cultura e à estrutura simbólica que a consubstancia tem tido efeitos, mais ou menos disruptivos, que têm redundado, ao longo do tempo, em perturbações e alterações que distorcem a afectividade em geral e, em particular, a sanidade mental.

   Embora a moderna psiquiatria, nos alvores do século XX, tenha balizado diferenças entre as perturbações afectivas generalizadas, que oscilam entre a tristeza e a euforia – Valentin Magnan (1835-1916) apelidou o fenómeno de “loucura intermitente”; e Emil Krapelin (1856-1926) tivesse oposto a este as demências precoces (paranóia, hebefrenia e catatonia); foi Eugen Bleuler (1857-1939) quem, a partir desta instância nosográfica, as designou de esquizofrenia. Pensamos que esta especificação é útil nesta fase da abordagem da matéria em apreço. Assim, as perturbações afectivas de carácter geral, note-se, ao contrário da esquizofrenia, não derrotam, irremediavelmente, nem a personalidade nem o intelecto do indivíduo.

   Contudo, convém lembrar que este tipo de afecções, de certa forma, acompanhará o doente pela vida fora. A recorrência verificar-se-á através de uma variabilidade e periodicidade irregulares, podendo configurar bipolaridade e unipolaridade. Nestas, o quadro habitual é a depressão; naquelas, a síndroma integra, alternadamente, crises maníacas e crises depressivas. Ainda assim, não esqueçamos que, quer num caso quer no outro, a qualidade de vida do doente e de quem com ele (con)vive se altera profundamente, sendo necessário manter um tratamento farmacológico cri-te-ri-o-so e terapia de proximidade; raramente se recorre à electroconvulsivoterapia.


   Não faremos, por agora, o enfoque etiológico desta perturbação, mas, ainda assim, apontaremos para causas transgeracionais de ordem genética e biológica, e para o ambiente familiar onde grassa a violência doméstica, a frieza emocional e afectiva, a crueldade mental, o sadismo e a asfixia relacional; tudo isto, afinal, passível de induzir insuportáveis stresses.
Imagem do Google

2 comentários:


  1. Em questões cerebrais, apesar de estarmos longe de saber tudo, a medicina tem feito progressos notáveis.
    Um tema interessante, gostei de ler.
    Um bom fim de semana, caro Humberto.
    Abraço.

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  2. Doença terrível, uma hora depressão e outra a euforia desmedida, ambas se cruzam tornando a vida insuportável. Sempre temos alguém próximo, que conhecemos, com depressão e bipolaridade. Graças aos medicamentos modernos bom grau do tratamento é alcançado. É um sofrimento contínuo. Não adianta conversar com a pessoa, mostrar-lhe os encantos da vida, a beleza da natureza, mostrar o amor de que lhe cerca. É problema 'químico do cérebro', não são emoções em conflito, melhoram com tratamento químico, psiquiátrico.
    Ótimo tema, Humberto!
    Um bom fim de semana!
    bjs

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