sábado, 30 de março de 2019

QUEM DÁ O PÃO...


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    É este um ditado popular... mais um, repleto de significado, de sensata sabedoria, de profundo alcance sociocultural. Pois é, “quem dá o pão, dá a educação”; tão simples como isso, que o mesmo vale por dizer que os pais sempre se preocuparam com o sustento dos filhos... outra coisa não seria de esperar; mas também, e por isso mesmo, porque dos seus filhos se trata, compete-lhes a eles, desde o berço, a responsabilidade da sua educação, a todos os níveis, ou seja, quer no plano moral, quer no cívico e no social, bem como no campo das aprendizagens de carácter geral. Neste particular, a acção dos progenitores deve assumir um cariz acentuadamente pendular, para que a criança possa conseguir interiorizar comportamentos equilibrados, no que toca às atitudes a tomar, não só no dia-a-dia da sua vida infantil, com os pais e os irmãos (se os houver), em casa, mas também junto dos companheiros do infantário, a partir dos três anos de idade e, posteriormente, aos sete anos, no âmbito da turma ou turmas do 1.º Ciclo do Ensino Básico, e por aí fora.

     Educação Informal, é assim que se chama àquilo que os paizinhos vão construindo (ou destruindo, que também os há neste nosso terceiro mundinho de arrepiar), visando a estruturação e definição das personalidades em embrião dos queridos rebentos, tantas vezes numa óptica meramente neurosada, “porque ele é mesmo a carinha do pai”, ou então, “porque eu na idade dele era mesmo só de futebol que gostava”, ou ainda, “eu não consegui chegar a economista, mas o meu filho há-de sê-lo nem que chovam picaretas”. Enfim, pobres criancinhas, que tanto têm de aturar, para já não falar nas guerrinhas de, literalmente, trazer por casa, depois de apagada a chama da paixão que alimentava a instituição casamento.

     Neste particular, usam-se as crianças como moeda de troca, para chantagens mesquinhas, para atingir o outro, que não nós, porque os defeitos não se enquadram na nossa maneira de ser, toda ela virtude e padrão a seguir. É desta maneira que as coisas se assumem de forma invertida, ou seja ao invés do próprio refrão popular: exige-se, a coberto da própria lei, a “dádiva” da pensão de alimentos, mas, apenas isso, porque os cuidados e a guarda ficam apenas para o outro progenitor, isto é, nestes casos concretos, balizados pelo decreto-lei n.º 272/2001 de 13 de Outubro, quem dá o pão, fá-lo, porque a isso é obrigado, mas não lhe é permitido dar a educação, ainda que a regulação do poder paternal o possa incluir nesse âmbito... meramente formal, dizemos nós. Enfim, insuficiências e arestas, mais uma vez, típicas da legislação, sempre incapaz de conseguir configurar os problemáticos meandros dos multifacetados aspectos da realidade.

     Nos dias de hoje, tendo em conta a brutal proliferação das famílias separadas, desestruturadas, monoparentais, a braços com problemas sociais, psicológicos e financeiros, etc., etc., etc., deparamo-nos com cada vez mais crianças com pão e sem educação e, muito pior do que isso, a milhares e milhares de alunos sem ambas as coisas, ou seja sem educação e também sem pão. Não sabemos para onde se caminha, mas a continuar assim, quem é que irá responder pelo futuro do próprio futuro que, necessariamente, se deveria alicerçar no presente com quem deveria dizer e saber estar presente?


sexta-feira, 29 de março de 2019

COISA SEM NOME


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Como se do teu nome se tratasse
sempre que te dispões a confundir
lembranças disfarçadas no impasse
de surdas palavras por esgrimir

não pensas pois no triste desenlace
que se esboça na senda do devir
nem quebras para dar a outra face
encerrada na concha por cindir

Não te rendas aos teus actos falhados
nem sonhes acordar a devoção
de resto a ti atida e fracturada

imago delirante de ilusão
tão solta-e-presa-e-solta na jornada
que choras para mal dos teus pecados


quinta-feira, 28 de março de 2019

"(...) ESTE ESTADO DE ANSIEDADE"


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https://www.youtube.com/watch?v=mADiz_vn0RQ
     “Não consigo dominar este estado de ansiedade”, cantou (Estou Além - 1995), pela primeira vez o excelente músico, compositor e letrista português, António Variações (1944-1984) que, há minutos, escutei na telefonia da viatura... no auto-rádio, como já não se diz. E como ele glosou bem o tema! Penso que o fez de forma autobiográfica, que é quando as coisas resultam melhor. E a voz! Foi único e fez história, embora tenha partido prematuramente. Sendo assim, aproveito o ensejo para esboçar alguns subsídios mais sobre este assunto. Não, não é sobre o António, mas, sim, a respeito da ansiedade.

     A ansiedade, em geral (não o estado de ansiedade, em particular), corresponde aos sentimentos emocionais problemáticos, que resultam das vivências subjectivadas, podendo aqueles, induzidos por estas, determinar em nós reacções leves de alerta ou, mesmo, pânicos súbitos e incontroláveis, desencadeadores de expectativas de cenários caóticos prestes a pairar sobre as cabeças dos visados. Nestes casos, o indivíduo sente-se alvo de uma ameaça difusa, a qual não consegue explicar. Segundo os entendidos, podem ocorrer, não só variações comportamentais e do sistema autónomo, mas também alterações bioquímicas e endócrinas, somáticas e fisiológicas.

     Sublinhe-se, contudo, a necessidade que temos de ser sensíveis a doses adequadas de ansiedade, capazes de operar em cada um a resposta ajustada a cada situação, senão seríamos trucidados face à apatia e à abulia. Não é conveniente ansiedade a mais, nem a menos. Na sequência do que já aqui temos escrito, o ambiente familiar é fulcral no desenvolvimento sadio de uma criança. Nesta conformidade, quando as coisas correm mal, instalam-se as neuroses ansiosas que se arrastam pela vida fora, com altos e baixos, embora, de acordo com as circunstâncias.


     Existem, também, outros tipos de circunstancialismos ocasionais, inopinados, tendentes a precipitar um quadro ansioso de gravidade, eventualmente, preocupante. Recordamos, aqui, o falecimento súbito de um familiar próximo ou intrinsecamente ligado (LUTA DE LUTOS – neste Bogue), ou, ainda, da hospitalização por doença complexa ou terminal de alguém em linha directa de consanguinidade. Concretamente, nestes casos, a neurose ansiosa pode atingir níveis tão elevados que se tornam insuportáveis, podendo desembocar em depressão.

segunda-feira, 25 de março de 2019

RIO DA VIDA


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Nós só vemos aquilo que já vimos
Querer ver o que nunca esteve lá
nem sequer é desejo de quem cá
não se furta ao revés de tais arrimos

Nó fatal onde todos preferimos
nos manter denegando a coisa má
e seguir à deriva ao deus-dará
pra topar na loucura lá nos cimos

Não podendo tolerar o vazio
na clausura da concepção ausente
choramos o poema como um rio

agreste sem caudal que não desmente
não correr sem saber que de repente
pode bem ter a vida por um fio


domingo, 24 de março de 2019

A COMPLEXA NOÇÃO DE FAMÍLIA



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     O Homem é um ser social, logo não dispensa os outros, procurando, ao longo da vida, situar-se face aos mesmos, por meio de uma incessante busca de si próprio, integrando esta o culto da identificação projectiva, que pode ser doentia ou saudável. Assim, ou culpa os outros por tudo quanto não tolera em si próprio, ou comunga com aqueles dos vínculos relacionais de empatia, interacção, tolerância e aceitação. É desta forma, desde o berço, que se vai tecendo o todo familiar e social.

     A família, portanto, é um constructo que se desenvolve em continuum, fazendo parte de uma teia estrutural de sistemas diversos: económico-financeiro, teológico, ético-estético, de consanguinidade e parentesco, de união de facto ou casamento, entre outros. Aqui, recordemos a família nuclear e a alargada. A primeira, é tradicionalmente constituída pelo casal e pelos filhos, sendo considerada o suporte fulcral da sociedade moderna ocidental. O mesmo não se passa noutras paragens do planeta, onde a família alargada (o clã) se rege pelo culto de um vasto parentesco, patri ou matrilocal, com uniões endo ou exogâmicas, mono ou poligâmicas ou, até, poliândricas (mulher com vários homens).

     Podemos olhar a família como sendo a génese de todos os graus de parentesco, quer o façamos do ponto de vista teológico, sociopsicológico, psicanalítico, económico-financeiro, jurídico ou antropológico, não sendo despiciendo avaliar a homogeneidade ou heterogeneidade dessa complexa instituição social, em função da actuação dos vários sistemas socio-administrativos que lhe são próximos: Educativo, de Saúde, de Justiça... principalmente. Estes constituem os principais indicadores de referência, sempre que importa despistar eventuais problemas familiares.

     Por isso mesmo, nos dias de hoje, os narcisismos mal elaborados (doentios) das crianças em idade escolar têm sido objecto de estudo pelos pedopsiquiatras – estes não existem nos Mega-Agrupamentos portugueses – a quem recorrem escassas famílias, na ânsia de perceberem a sua própria dinâmica familiar. Com isto, procuram, a contento, clarificar as causas das perturbações do comportamento dos filhos, nomeadamente a ausência de motivação, o défice de atenção e a aversão à escola.


     Uma família desestruturada pode constituir o chão fértil para a etiologia da delinquência. Que pode fazer um desamparado psicólogo, face à multidão populacional de um Agrupamento de Escolas?! Rigorosamente nada, respondemos nós! E que pode fazer um professor abandonado à condenação de turmas sobrelotadas? Muito pouco, isso lhes garantimos. Onde andam as equipas multidisciplinares? Ninguém sabe. Será que os alunos integrados têm obrigação de suportar os desinseridos? Não! É que as famílias, sendo responsáveis pelos traumas das crianças, não podem ignorar que estas se prejudicam, também, reciprocamente, e, uma vez em contexto de sala de aula, estas crianças podem instaurar o caos na leccionação, estiolando, mentalmente, o(s) docente(s).

sexta-feira, 22 de março de 2019

DIZ-ME LÁ!




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Sem palavras quem seríamos nós
que dizer pois da gestão do desejo
que fazer depois de sentir um beijo
à sorte aturdidos sempre sós

E mesmo que soasse a tua voz
sem sentido distante e sem ensejo
de dedilhar os cios em harpejo
na calada da noite mais atroz

Saberás de que falam as campinas
ao dançar a melodia do vento
Diz-me lá da brancura das salinas

do pulsar do teu peito em tango lento
se se quedam humildes as meninas
dos teus olhos prenhes de desalento

quarta-feira, 20 de março de 2019

POEMAS




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Não sei se moram poemas comigo
ou não por não saber onde andarão
maduros outonais são grãos de trigo
inermes pelo rigor do Verão

Poemas que bem sei moram contigo
ou não por já saber que viverão
latentes na lembrança que persigo
inaudíveis nos dias que se vão

Poemas são desertos ou miragens
Serão eles fendidos ou despertos
segredos fantasias ou imagens?

Serão eles apenas céus abertos
loucuras inocentes ou viagens
mesmo sendo destinos tão incertos...?


terça-feira, 12 de março de 2019

QUE DESEJA...?!



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(Aleatória)
     Que deseja?!, interrogou-nos, há dias, no interior de uma mercearia tradicional da cidade do Porto, o seu proprietário, quando aí nos dirigimos para comprar amêndoas, nozes e pinhões. De facto, são abomináveis as grandes superfícies comerciais. São frias, humanamente falando; amplas e dispersivas; induzem a compra supérflua, etc., etc., etc..
    Em que lhe posso ser útil...?!, perguntavam-nos, há décadas, nas lojas da baixa portuense. Ah!, o tal merceeiro, ao fazer o troco, subtraiu-nos, ilicitamente: fomos-lhe nós mais úteis, afinal, na satisfação dos seus desejos inconfessados.

    Hoje em dia, ouvimos, nas lojas, amiúde: posso ajudar?!... E nos restaurantes, antes da travessa ser colocada na mesa, por exemplo: 
      – Posso?!
  Pois é! Antes verificava-se uma certa cortesia estaladiça (subtractiva); já hoje regista-se uma boçalidade rude, massificada, que vai da ajuda virtual ao acalentado “poder” (obrigatório)... grosso, descabelado, embora mornamente pragmático. E não é que as grandes superfícies estão já a adoptar o fino-trato, sem derivas nas pesagens nem no acerto de contas? E aceitam devoluções! Sem dramas! E restituem pagamentos! Calculem!... Depois não se queixem! Tudo depende do que, efectivamente, se deseja.

    Afloremos, agora, o conceito de DE-SE-JO. Este, psicologicamente, remete-nos para a nossa ancestral e primitiva ânsia temporária, a que o desejo sexual dá forma e conteúdo, antes que o orgasmo o resolva. Ao longo do continuum desse desejo – que é motor de todos os outros –, “o mundo pula e avança” - António Gedeão (1906-1997), sempre que o mesmo se protagoniza e contextualiza salutar e civilizadamente. Caso contrário, os indivíduos podem enfermar de frigidez ou impotência (anedonia), ou de satiríase (os homens) ou de ninfomania (as mulheres).


    Filosoficamente, Platão (428-348 a. C.) distinguia entre desejo e razão (embora em termos complexos), enquanto Aristóteles (384-322 a. C.) considerava o desejo como uma forma de apetite, nem sempre irracional, já que daria cor, também, a uma deliberação consciente. Modernamente, Sartre (1905-1980) considerou o desejo impossível de satisfazer, por aspirar a possuir a transcendência do outro sem ignorar o seu corpo, reduzindo-o à sua simples facticiedade, sem necessidade e sem razão, incorrendo na artificialidade. Na contemporaneidade, o desejo é cego, também por ser vampiresco, capitalista e selvagem, orientando-se no sentido solidamente material do sangue, do suor e das lágrimas das maiorias mais vulneráveis e fragilizadas do planeta... E vai fazendo história!

segunda-feira, 11 de março de 2019

AQUI D`EL-REI


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Este poema (soneto) surgiu da inspiração do centenário e ilustre vate, 
FERNANDES VALENTE SOBRINHO,
 a quem rendo, aqui, a minha homenagem.


Aqui D`el-Rei! de novo estou roubado!
Não sei por que razão tal acontece,
Porque o ladrão é mesmo o próprio Estado,
Talvez, só porque rouba, é que empobrece!

Que vale a lei se estou abandonado
E em meu redor só a maldade cresce...
Até o coração está condenado,
Com a injustiça, aos poucos, adoece...

Este Estado-ladrão que diz que é justo
Se cumpre algum dever é sempre a custo,
Faz questão de mostrar toda a peçonha...

Que Estado é este sempre traiçoeiro
Que rouba e deve quase ao mundo inteiro
E continua a não mostrar vergonha!

NOTA: In "Este País-Manicómio e Algo Mais" (2011, p, 25)

A (DES)MOTIVAÇÂO NO ACTO DE ENSINO/APRENDIZAGEM



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    Torna-se cada vez mais difícil, para todos aqueles que, no seu dia-a-dia, têm de enfrentar a árdua tarefa da leccionação, perceber até que ponto os alunos que se encontram à sua responsabilidade, estão a agir em função das motivações orquestradas pelo professor, ou estão simplesmente a reagir às mesmas, tendo em conta toda a intrincada complexidade do seu universo interior, e, quer num caso quer no outro, importa clarividenciar se, o acto de ensinar, alicerçado nas aludidas motivações, terá tido repercussões ao nível das aprendizagens, por parte dos alunos em questão.

    Não vamos tratar este assunto de forma muito aturada ou exaustiva; vamos apenas, com base, uma vez mais, na nossa experiência, tentar discernir relativamente ao que se passa nas nossas escolas e que tem determinado um maior ou menor sucesso/insucesso escolares, uma maior ou menor adaptação ao ultimamente designado contexto de sala de aula; uma maior ou menor estruturação de mecanismos de defesa ou de desenvolvimento de resistências face à “ desagradável” tarefa de aprender, tendo em conta o desfasamento entre a ambiência escolar e outros enquadramentos onde as crianças e os jovens, aí sim, se sentem como peixes na água.

    Como não podia deixar de ser, acompanhámos a ainda próxima e breve presidência aberta do senhor Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio, que palmilhou a semana iniciada a 3 de Maio, abordando alguns problemas dos muitos que afectam a Educação deste país tão pouco educado e tão perigosamente à deriva, como temos vindo a alertar há estafadas décadas, no que concerne à “estupidez” política dos sucessivos governos e à total ausência de uma vocação educativa autêntica, que tem sido manifestada, portanto, de forma negativa, pelos titulares da pasta da educação e pelos ditos responsáveis autárquicos pelos pelouros da cultura e da educação. Não pretendemos ofender ninguém, bem entendido, quando referimos a expressão “estupidez” política; esta significa, tão só, no nosso modesto entendimento, o desfasamento que os próprios políticos deixam transparecer entre a realidade factual dos meandros da educação e toda a sua complexa contextualização, e a forma como os mesmos apresentam o seu discurso medíocre e incapaz, que, como é óbvio, vai determinar posteriormente medidas, iniciativas e práticas perfeitamente distorcidas, desenquadradas e claro, ineficazes. E o tempo sempre a correr...

    Jorge Sampaio fez o que tinha a fazer. Esteve bem, quer na forma, quer na substância e, uma vez mais, aqueles que o deveriam ter alertado para os problemas mais sérios e graves do sistema educativo nacional pecaram, de novo, por omissão... ou terá sido por ignorância?!. Então e as turmas com vários anos de escolaridade, vários níveis de aprendizagem, numa só sala e com um só professor apenas? Ninguém fez ver ao Sr. Presidente da República esta calamitosa degenerescência (des)educacional que tem constituído uma terrível chaga pestilenta a gangrenar todo o sistema educativo deste país. E porquê? Esta situação interessa a quem.? É que, quer o abandono escolar, quer o insucesso mais renitente dos nossos alunos radica aqui mesmo. Tudo o resto são cantigas, meus senhores.


     Assim não há motivação que resista. A constatação diária da forma como os alunos acabam por demonstrar aquilo que são as suas reais necessidades de apoio, de acompanhamento directo, individualizado e sistemático esbarra, quer queiramos quer não, quer tenhamos milhares de cursos e formação exaustiva quer não, precisamente aqui, neste contexto obscuro, tenebroso e delirante, que corrói a mais sã e empenhada das iniciativas curriculares, a mais elaborada e cirúrgica das estratégias, o mais frenético e automatizado dos malabarismos metodológicos. Não brinquem connosco. A educação tem de ser um assunto a tratar com sensatez, capacidade de análise e vontade de agir; não com atitudes meramente reactivas, ocasionais e branqueadoras da nossa consciência colectiva. Voltaremos ao assunto.

NOTA: Artigo, de 2004, reeditado agora. Tudo tem piorado!!!

sexta-feira, 8 de março de 2019

ERA FOBIA...? QUEM DIRIA!?



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    Em tempos, face ao comportamento de um aluno cujo aproveitamento escolar se pautava por estranhas e súbitas quebras de rendimento, decidímos investigar, por conta própria e com carácter furtivo, o seu comportamento discente em sede de sala de aula e, junto dos pais, sem nenhum tipo de alerta especial. Este adolescente, a quem chamaremos Francisco, era uma pessoa educada, trabalhadora, aparentemente tímida e, conforme os dias, mais ou menos alheado, ansioso ou inseguro perante tudo quanto o rodeava, como se um repentino pânico o tivesse invadido e o bloqueasse.

    Com o passar dos dias, não detectámos nada de anormal na relação dos pais, quer dizer não havia nenhuma forma de supremacia masculina ou feminina. A triangulação familiar operava-se normalmente; todos se davam em equilíbrio e harmonia; a irmã mais nova tinha sido desejada pelo casal e muito bem aceite pelo Francisco. Este, por vezes, manifestava vontade de ficar em casa e faltar às aulas, para surpresa dos pais, já que o filho nem sequer tentava explicar o que se passava com ele. Os progenitores chegaram a pensar em fobia escolar... Contudo, em casa, a ansiedade nem sempre se manifestava, quando a hora de sair para a escola se aproximava.

    Como sabemos, a fobia caracteriza-se por uma sensação de medo excessivo, capaz de provocar ansiedade extrema à pessoa em situação, quando em contexto de aproxiação daquela, diminuindo esta aflição ansiosa, sempre que se verifica o afastamento. Embora se trate de uma experiência subjectiva, perante o objecto a evitar, aquela provoca no indivíduo alterações fisiológicas ligadas à ansiedade e reacções comportamentais tendentes a evitar a interacção (ficar em casa) ou fugindo mesmo à realidade contextual (alheamento e evasão).

    Na mesma turma de Francisco, sentava-se o Hilário. Este, registava uma frequência intermitente (chegava a estar ausente, por vezes, semanas a fio. O psicólogo escolar elucidou-nos sobre as faltas do Hilário: internado numa IPSS (Instituição Particular de Solidariedade Social), volta e meia era presente a juíz, no Tribunal de Menores, devido a desacatos e furtos. Ficámos atentos à forma como os adolescentes passavam, no recreio, os períodos entre aulas. Pois, era isso! O Hilário exercia bullying insidioso, mórbido, sádico, obsessivo sobre o Francisco. Este sentia-se vencido, envergonhado e calava-se, fechava-se. Passou a crescer nele uma ansiedade progressiva, aterradora, geradora de uma espécie de fobia social, se quiserem, de uma antropofobia específica, que foi tolhendo o sucesso, inicialmente linear do Francisco.

    Concluindo, diremos que, neste caso concreto, a deplorável prática do bullying pode induzir reacções fóbicas nos visados, levando-os, inclusivamente, com o passar do tempo, a comportamentos misantropos, melancólicos, ao insucesso escolar, à perda da auto-estima, à dificuldade de afirmação e indentidade, de inserção e pertença, entre outras anomalias, podendo mesmo as vítimas entrar em desespero, e pânico suicida.







quarta-feira, 6 de março de 2019

SINGULARI EPITAPHIUM



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    No misterioso abismo da errância planetária, esfuma-se a apoteose breve do corpo. De súbito, as estrelas deixam de brilhar e a noite eterna do tempo clama pelo cíngulo universal das origens.



Deus criou o absoluto
e a envolvência do ser
e deu à Virgem o fruto
no seu ventre de mulher

E Maria foi modelo
ao trazer-te inspiração
viveste sempre no zelo
de uma vida de oração

Como tu amaste os teus
na renúncia da vaidade
foi total a entrega a Deus
buscando a sua verdade

Ele escuta a tua voz
sabe toda a nossa história
pede agora lá por nós
porque estás na sua glória

Epitáfio a B.C.B. (1924-2016)

segunda-feira, 4 de março de 2019

CONCRETO VERSUS ABSTRACTO


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     Ora, cá estamos nós na presença de dois significantes gráficos que se contradizem, conceptualmente falando, sendo, por isso mesmo, antagónicos. É curioso, quando se repara na etimologia latina da palavra abstracto (abs-traído) e se constata que a mesma nos transmite a noção de separação. Já a palavra concreto aponta para algo uno e singular, materialmente objectivo, leia-se agregado. Estamos, portanto, na presença de dois antónimos.

    Aduzindo ainda mais similitudes, só somos levados a pensar em algo como sendo concreto quando este se associa a uma alusão feita a qualquer coisa particular, individual, concebida no seu todo uno e indivisível; já o abstracto clama por uma identidade generalizada, de cariz universal. Mais: em termos empíricos, o concreto é sensitivo, palpável, físico, logo real, muito embora, filosoficamente, possa haver quem considere as qualidades sensíveis do concreto, simultaneamente concretas e universais. Neste particular, então, o concreto pode ser decomposto...

    Se se trata, por outro lado, de um concretismo associado ou atribuído a alguém – a um aspecto particular (real) dessa pessoa ou sujeito –, ou se se fala da pessoa em si ou de uma sua qualidade, no primeiro exemplo estamos perante uma conceptualização, e no segundo caso encontramo-nos face a uma definição adjectivada. Complexo? Concordamos! Contudo, toda esta necessidade de reflectir filosófica e arduamente sobre o que representa, afinal, o concreto, tem constituído uma preocupação recorrente da filosofia, não sendo mais do que uma maneira de equilibrar a supremacia de que sempre foi alvo o conceito ligado ao abstracto.


    E terminamos já, já, com uma pequena ironia – que segue no fim deste artigo –, se quiserem, de carácter filosófico: tendo em conta o verdadeiro, prolongado e incansável desastre da economia portuguesa, a braços com a 3.ª mais aniquiladora corrupção e respectivos efeitos verificados no âmbito europeu, o povo (contribuintes) tem sido chamado a tapar os buracos sem fundo das falências generalizadas [(bancos, grandes empresas) biliões e mais biliões]. Sendo assim, concreto é o capital que os portugueses depositam nos bancos; abstracto é o dinheiro pelo qual não conseguem responder, depois, os badalados e bem pagos gestores de topo da banca nacional.

domingo, 3 de março de 2019

A MORAL E O MORAL


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    Relativamente a estes dois substantivos abstractos, que enquanto imagem gráfica e conceptual apenas diferem de género caso sejam antecedidos do respectivo determinante – feminino ou masculino, não nos alongaremos. Contudo, convém dizê-lo, das pessoas que, por norma, temos escutado na esfera comunicacional (mass media), a maioria raramente sabe de que fala, porque confunde ambos os conceitos ou, quem diria, parece desconhecer o que é uma e a outra coisa.

    Assim, A Moral, em termos gerais, é um conjunto de pressupostos, mais ou menos aceite e defendido socialmente, que rege e garante a harmonia das relações dos indivíduos no quotidiano, sob o ponto de vista da conduta comportamental, em situação – reacção a estímulos moralmente enquadrados. O homem moral, portanto, preocupa-se, em consciência, em manter o seu protagonismo, pessoal e social, agindo normativamente, em sede de direitos e deveres, sabendo discernir entre o Bem e o Mal.

    Por sua vez, O Moral deve ser interpretado distintamente do conceito anterior, devendo ser entendido, grosso modo, como o estado de espírito de uma pessoa, de uma equipa de trabalho ou de um exército, por exemplo. Este tipo de representação (O Moral) liga-se ao desempenho do psiquismo de cada um e de cada grupo específico, quer dizer tudo o que respeita ao espírito subjectivo dos mesmos. Não obstante o que fica dito, o moral não deve nunca atropelar os valores, isto é a moral, para não ser visto como imoral ou amoral.


     Por último (tínhamos prometido ser breves), refira-se Hegel (1770-1831), para aludir a distinção que o mesmo faz entre moralidade subjectiva e objectiva: no quadro da moralidade subjectivada (abstracta) o indivíduo cumpre o seu dever voluntariamente; no caso da moralidade objectiva, a pessoa apronta-se a obedecer, convictamente, de acordo com a lei (moral), aos princípios, às normas, às leis, aos costumes impostos pela sociedade organizada.