domingo, 24 de março de 2019

A COMPLEXA NOÇÃO DE FAMÍLIA



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     O Homem é um ser social, logo não dispensa os outros, procurando, ao longo da vida, situar-se face aos mesmos, por meio de uma incessante busca de si próprio, integrando esta o culto da identificação projectiva, que pode ser doentia ou saudável. Assim, ou culpa os outros por tudo quanto não tolera em si próprio, ou comunga com aqueles dos vínculos relacionais de empatia, interacção, tolerância e aceitação. É desta forma, desde o berço, que se vai tecendo o todo familiar e social.

     A família, portanto, é um constructo que se desenvolve em continuum, fazendo parte de uma teia estrutural de sistemas diversos: económico-financeiro, teológico, ético-estético, de consanguinidade e parentesco, de união de facto ou casamento, entre outros. Aqui, recordemos a família nuclear e a alargada. A primeira, é tradicionalmente constituída pelo casal e pelos filhos, sendo considerada o suporte fulcral da sociedade moderna ocidental. O mesmo não se passa noutras paragens do planeta, onde a família alargada (o clã) se rege pelo culto de um vasto parentesco, patri ou matrilocal, com uniões endo ou exogâmicas, mono ou poligâmicas ou, até, poliândricas (mulher com vários homens).

     Podemos olhar a família como sendo a génese de todos os graus de parentesco, quer o façamos do ponto de vista teológico, sociopsicológico, psicanalítico, económico-financeiro, jurídico ou antropológico, não sendo despiciendo avaliar a homogeneidade ou heterogeneidade dessa complexa instituição social, em função da actuação dos vários sistemas socio-administrativos que lhe são próximos: Educativo, de Saúde, de Justiça... principalmente. Estes constituem os principais indicadores de referência, sempre que importa despistar eventuais problemas familiares.

     Por isso mesmo, nos dias de hoje, os narcisismos mal elaborados (doentios) das crianças em idade escolar têm sido objecto de estudo pelos pedopsiquiatras – estes não existem nos Mega-Agrupamentos portugueses – a quem recorrem escassas famílias, na ânsia de perceberem a sua própria dinâmica familiar. Com isto, procuram, a contento, clarificar as causas das perturbações do comportamento dos filhos, nomeadamente a ausência de motivação, o défice de atenção e a aversão à escola.


     Uma família desestruturada pode constituir o chão fértil para a etiologia da delinquência. Que pode fazer um desamparado psicólogo, face à multidão populacional de um Agrupamento de Escolas?! Rigorosamente nada, respondemos nós! E que pode fazer um professor abandonado à condenação de turmas sobrelotadas? Muito pouco, isso lhes garantimos. Onde andam as equipas multidisciplinares? Ninguém sabe. Será que os alunos integrados têm obrigação de suportar os desinseridos? Não! É que as famílias, sendo responsáveis pelos traumas das crianças, não podem ignorar que estas se prejudicam, também, reciprocamente, e, uma vez em contexto de sala de aula, estas crianças podem instaurar o caos na leccionação, estiolando, mentalmente, o(s) docente(s).

3 comentários:

  1. Um belo texto. Adorei, parabéns, :))

    Bjos
    Votos de um óptimo Domingo.

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  2. Por isso é tão importante que a escola e o meio familiar se entendam na educação das crianças… Sempre bom lê-lo.
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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    Respostas
    1. Por motivos eleitoralistas, tem sido dada excessiva ascendência aos pais, cuja intrusão subjectivada, precipitada e atípica, no âmbito circunstancial do sistema educativo, só tem demonstrado a sua impreparação, desconhecimento didáctico e psicopedagógico, isto para não falar da sua falta de sentido de oportunidade e da ausência da noção modelar, ao contrário do que a parentalidade deveria sempre revestir.
      Enfim, estamos condenados a ter de suportar toda esta falta de tacto dos políticos que se deixam condicionar por tácticas e estratégias sempre contraproducentes.
      Um abraço.

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