sexta-feira, 8 de março de 2019

ERA FOBIA...? QUEM DIRIA!?



Imagem do Google


    Em tempos, face ao comportamento de um aluno cujo aproveitamento escolar se pautava por estranhas e súbitas quebras de rendimento, decidímos investigar, por conta própria e com carácter furtivo, o seu comportamento discente em sede de sala de aula e, junto dos pais, sem nenhum tipo de alerta especial. Este adolescente, a quem chamaremos Francisco, era uma pessoa educada, trabalhadora, aparentemente tímida e, conforme os dias, mais ou menos alheado, ansioso ou inseguro perante tudo quanto o rodeava, como se um repentino pânico o tivesse invadido e o bloqueasse.

    Com o passar dos dias, não detectámos nada de anormal na relação dos pais, quer dizer não havia nenhuma forma de supremacia masculina ou feminina. A triangulação familiar operava-se normalmente; todos se davam em equilíbrio e harmonia; a irmã mais nova tinha sido desejada pelo casal e muito bem aceite pelo Francisco. Este, por vezes, manifestava vontade de ficar em casa e faltar às aulas, para surpresa dos pais, já que o filho nem sequer tentava explicar o que se passava com ele. Os progenitores chegaram a pensar em fobia escolar... Contudo, em casa, a ansiedade nem sempre se manifestava, quando a hora de sair para a escola se aproximava.

    Como sabemos, a fobia caracteriza-se por uma sensação de medo excessivo, capaz de provocar ansiedade extrema à pessoa em situação, quando em contexto de aproxiação daquela, diminuindo esta aflição ansiosa, sempre que se verifica o afastamento. Embora se trate de uma experiência subjectiva, perante o objecto a evitar, aquela provoca no indivíduo alterações fisiológicas ligadas à ansiedade e reacções comportamentais tendentes a evitar a interacção (ficar em casa) ou fugindo mesmo à realidade contextual (alheamento e evasão).

    Na mesma turma de Francisco, sentava-se o Hilário. Este, registava uma frequência intermitente (chegava a estar ausente, por vezes, semanas a fio. O psicólogo escolar elucidou-nos sobre as faltas do Hilário: internado numa IPSS (Instituição Particular de Solidariedade Social), volta e meia era presente a juíz, no Tribunal de Menores, devido a desacatos e furtos. Ficámos atentos à forma como os adolescentes passavam, no recreio, os períodos entre aulas. Pois, era isso! O Hilário exercia bullying insidioso, mórbido, sádico, obsessivo sobre o Francisco. Este sentia-se vencido, envergonhado e calava-se, fechava-se. Passou a crescer nele uma ansiedade progressiva, aterradora, geradora de uma espécie de fobia social, se quiserem, de uma antropofobia específica, que foi tolhendo o sucesso, inicialmente linear do Francisco.

    Concluindo, diremos que, neste caso concreto, a deplorável prática do bullying pode induzir reacções fóbicas nos visados, levando-os, inclusivamente, com o passar do tempo, a comportamentos misantropos, melancólicos, ao insucesso escolar, à perda da auto-estima, à dificuldade de afirmação e indentidade, de inserção e pertença, entre outras anomalias, podendo mesmo as vítimas entrar em desespero, e pânico suicida.







6 comentários:

  1. me gusta como escribes
    abrazos desde Miami

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  2. Quantas crianças e jovens sofrem de bullying em silêncio. Um problema cada vez maior!

    Hoje:- Sinto-me o jardim mais florido da solidão [POETIZANDO]

    Bjos
    Votos de um óptimo Sábado

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  3. Felizmente que este caso foi detectado e espero que corrigido deste mal que afligem muitos jovens nas nossas escolas.
    Um abraço e bom Domingo.

    Andarilhar
    Dedais de Francisco e Idalisa
    Livros-Autografados

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  4. Querido Zé
    Bom para este aluno ter sido alvo de observação atenta por parte do seu professor!
    A violência, seja ela de que tipo for, tem consequências verdadeiramente avassaladoras! E, infelizmente,não acontece só nas escolas, mas também a nível familiar e sob as mais variadas formas.
    Belo artigo!
    Um beijinho
    Mana

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  5. Nada como estar atento à todas reações de pessoas normais, quando se apresentam em anormalidade. As ações foram importantes neste caso Humberto e assim detectada pode ser combatida a violência do personagem descrito. Hoje creio, que nas escolas deveriam preparar mais pessoas e professores para o investigativo, pois as coisas tem acontecido com resultados terríveis.
    Muito boa partilha, que serve como alerta.
    Abraços.
    Nesta semana postarei um poema simples inspirado em seu Invite à Primavera de Portugal.

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